Em meio a um cenário global nada alentador, com mutações por minuto, transformações tecnológicas vertiginosas, robôs que roubam empregos, mudanças e concentração do dinheiro nas mãos de poucos, surge o livro 'Utopia para realistas: como construir um mundo melhor', do jovem historiador holandês Rutger Bregman (Editora Sextante). Rutger não se perde em lamúrias sobre os desafios do presente; ele se lança ao futuro de maneira desassombrada. O livro se tornou best-seller na Holanda e nos Estados Unidos. Nem direita nem esquerda: Rutger propõe um retorno à utopia e um novo olhar sobre a história. Joga para longe as nuvens do pessimismo. E, para começar, uma pequena lição: no passado, tudo era pior.
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A partir da análise desses números, Rutger pondera que, se essa tendência se mantiver, a pobreza extrema, que era uma característica perene da vida, em breve poderá ser eliminada para sempre: “Mesmo aqueles que são considerados pobres vão usufruir de uma abundância sem precedentes na história”.
Com as inovações tecnológicas e as lutas sociais, as mutações da história se aceleraram. A renda anual da Itália no ano 1300 era em torno de US$ 1,6 mil. Ela permaneceu intacta durante 300 anos. Somente em 1850 se tornou 15 vezes maior. E a economia global?, indaga Rutger, que responde: “Agora é 250 vezes maior do que era antes da Revolução Industrial, quando quase todos, em todo lugar, ainda eram pobres, famintos, sujos, aterrorizados, estúpidos, doentes e feios”. Em relação à saúde, o mundo também passou por mutações positivas. A temível varíola foi erradicada completamente. A poliomielite desapareceu. Em 1836, o homem mais rico do mundo, Nathan Meyer Rotschild, morreu por falta de antibióticos.
Rutger argumenta que temos todos os instrumentos para resolver os problemas do mundo globalizado. “A verdadeira crise é que não conseguimos ter ideia de como seria um mundo melhor.” Cita Oscar Wilde, para quem “o progresso é a realização de utopias”. E aqui chegamos ao grande ponto da questão e da proposta de Rutger. Por que milhões de pessoas ainda vivem na pobreza, quando temos riqueza suficiente para extinguir definitivamente esse mal?
Estudos em várias partes do mundo mostram que existe uma correlação entre a distribuição de dinheiro e as reduções de criminalidade, mortalidade infantil, desnutrição, gravidez na adolescência, crescimento econômico e igualdade de gênero. Rutger toca no óbvio ululante: “A pobreza é fundamentalmente um problema de falta de dinheiro. Não de estupidez”. E acrescenta: “Os pobres não tomam decisões estúpidas porque são estúpidos, mas sim porque vivem num contexto em que qualquer pessoa tomaria decisões estúpidas”.
É possível atribuir essas ideias a “comunistas”. Mas Rutger lembra que elas já foram defendidas pelos fundadores do liberalismo: Friedrich Hayek e Milton Friedman. Em entrevista, o historiador holandês foi questionado sobre a viabilidade de suas ideias e respondeu que, no mundo globalizado, muitas coisas consideradas impossíveis se tornaram realidade em tempo curto. Dinheiro de graça é uma promessa que está inscrita e anunciada no artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948.
A proposta de Rutger é polêmica, no entanto, ela nos faz sonhar com um mundo melhor, menos desigual e mais feliz. Revela que, necessariamente, não precisamos ficar reféns de velhas fórmulas de política econômica que levaram a riqueza do mundo a se concentrar nas mãos de 10 bilionários, com orçamentos maiores do que o de vários países. Abre algumas janelas para a mente: “Se não fossem os utopistas, nós ainda seríamos pobres, famintos, sujos, aterrorizados, estúpidos, doentes e feios”, argumenta Rutger.
Utopia para realistas: como construir um mundo melhor
De Rutger Bregman
Tradução: Leila Couceiro
Editora: Sextante (256 pags.)
R$ 44,90 eR$ 22,41 (e-book)