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Em BH para lançamento de romance, Loyola Brandão adverte: 'A realidade tem o prazer de copiar a literatura'

- Foto: Ignácio de Loyola Brandão, de 82 anos, é um homem prevenido. Viaja sempre com uma caderneta no bolso. “Essa aqui é pra viagem”, mostrou ao público do projeto Sempre um papo, no auditório da Cemig. “Anoto milhares de coisas. Sempre olho as cadernetas e alguma coisa me bate. Escrevo uma frase, duas, e pinta alguma coisa. Às vezes nasce um conto ou um romance desse jeito”, disse o dono de 5.912 cadernetas, guardadas em caixas e estantes. Paulista de Araraquara, radicado na capital paulistana, Loyola esteve em Belo Horizonte na terça-feira para lançamento de Desta terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela (Global, 372 páginas).
O título do romance veio de um trecho de poema de Bertolt Brecht (1898-1956).

Loyola Brandão enxerga paralelos entre o Brasil do futuro distópico e autoritário que criou, onde todos recebem tornozeleiras eletrônicas ao nascer e existem 1.800 partidos que se alternam no poder por meio de seguidos impeachments, e o presente momento do país. “Esse novo livro se passa no Brasil normalizado dentro da anormalidade. É uma metáfora, uma sátira, mas que pode ser também um retrato”, alertou o autor, que levou quatro anos para escrever, sempre pela manhã, o romance.

“Nunca vi o país tão crispado. Estamos todos com medo de viver tempos ainda mais sombrios do que os da ditadura”, resumiu o escritor de Zero, censurado durante o regime militar. A seguir, trechos do que disse o autor de alguns dos livros – Não verás país nenhum, Veia bailarina, O beijo não vem da boca, Bebel que a cidade comeu, O verde violentou o muro – mais marcantes (a começar pelos belos e expressivos títulos) da literatura nacional na segunda metade do século 20.


• “Nunca vi o país tão crispado.
Estamos nos enfrentando o tempo todo. E também nunca vi um acúmulo tão grande de exasperações.”

• “Zero (1974) foi censurado pela ditadura militar. A censura é o braço direito do poder. Na ditadura, a gente não sabia quando podia ser preso. A qualquer momento, a gente podia sumir. Morria de medo quando tocavam a campainha da minha casa.”

• “Todo mundo está no limite.”

• “Em Não verás país nenhum (1981) não há mais água nem árvores. As cidades ficaram muito violentas. O que era futuro agora está aí.
A realidade tem o prazer de copiar a literatura, não sei por quê.”

• “Não sou teórico, sou um narrador. Vivo de inventar histórias e personagens.”

• “A noite sempre me ensina coisas.”

• “Inspiração não existe. É olhar em volta, anotar e trabalhar aquilo que você anotou.”

• “Dentes ao sol (1976) é um livro que eu amo. Tentei fazer O encontro marcado, do (Fernando) Sabino, da minha geração, mas não consegui. Paciência. Um dia esse livro vai ser descoberto.”

• “Nunca vi Roberto (Drummond) tão feliz como quando estreou a minissérie Hilda Furacão. Ele até mandava flores para as atrizes. Teve um momento de glória que muitos autores da minha geração nunca tiveram.”

• “Faço e refaço até dizer ‘agora, chega’. Reescrevi 38 vezes o final de Não verás país nenhum para chegar ao tom ambíguo que ficou no livro.”

• “Depois da cirurgia que fiz após um aneurisma (que o inspirou a escrever Veia bailarina, em 1997), minha vida mudou. Perdi ansiedade e ganâncias.
Ganhei a sensação de estar vivo. As cores, as comidas, os cheiros são diferentes.”
• “A realidade é mais absurda que o próprio absurdo.”

• “Ver um joelho nos anos 50 era uma coisa deslumbrante.”

• “Aos 82 anos, percebi que não tenho pressa. E descobri também que a maior invenção da humanidade não é o celular nem o computador. É o corrimão de escada. E a mala de rodinha.”

• “O novo romance pode ser o meu último, mas acho que não. Sou um saco sem fundo. Tenho 20 sonhos, 20 projetos. Vou atrás deles, não paro.”
 
- Foto: Ramon Lisboa/E.M/D.A PRESSDesta terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela
De Ignácio de Loyola Brandão
Global Editora
372 páginas 
R$ 59,90
  
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