

A coleção da Edusp chega agora a seu nono volume, e o editor convidado é o ouro-pretano Guilherme Mansur. A escolha é particularmente significativa pela diferença em relação aos outros editores convidados: Guilherme desenvolveu, ao longo de décadas, um trabalho editorial à margem do mercado, não apenas pela opção gráfica adotada, como também pelas reduzidas tiragens e pelos títulos escolhidos. E se dedicou a um campo praticamente marginal nos catálogos das grandes editoras: a poesia. O que “prova” que tamanho não é documento, quantidade não é qualidade.
Com edições primorosas e inusitadas, Guilherme foi constituindo um catálogo de alto valor editorial, objeto de desejo para qualquer bibliófilo. A variedade, mesmo em um conjunto pequeno de realizações, salta aos olhos. As edições reúnem livros, plaquetes, cartões, cartazes, envelopes, estojos, folhas volantes. Os processos, centralizados na composição em tipos móveis, também fizeram uso de linotipia, clichê e imagens digitais. As letras privilegiadas foram tipos clássicos, como Garamond. Os tamanhos variados dos livros e plaquetes também foram compostos em papéis inesperados ou inovadores, como o emprego de papel artesanal em algumas edições numa época em que ninguém trabalhava assim, ou o papel fantasia para o projeto das Chuvas de Poesia. As edições, por vezes, trouxeram cadernos soltos, em outras, folhas foram grampeadas ou costuradas. O conjunto de textos e autores também deixa clara a orientação editorial de Guilherme: Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Paulo Leminski, Josely Vianna Batista, Júlio Castañon Guimarães, Régis Bonvicino, para citar alguns nomes, além de trabalhos do próprio editor.
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Os que se interessam pela história dos editores de livros, incluindo aqui livreiros, mas, sobretudo, designers, encontrarão nessa coleção e, em particular, em Guilherme Mansur, uma leitura mais que prazerosa sobre um tipógrafo-poeta que singulariza o passado da tipografia sem, porém, nos dizer que a tecnologia é que vai salvar a tipografia de caixa. Aliás, vale muito apoiar e chamar a atenção das instâncias políticas e da iniciativa privada no sentido de contribuírem para concretizar um dos sonhos de Guilherme: criar em Ouro Preto – cidade tão importante para a história do país – um instituto tipográfico. Fica a sugestão.
*Mário Alex Rosa é professor de literatura, artista visual, poeta, autor de Via férrea (Cosac Naify, 2013)
*Ronald Polito é historiador, tradutor, ensaísta, poeta, autor de Ao abrigo (Scriptum, 2015)