Aos poucos vem sendo escrita a história do livro no Brasil. E um dos capítulos centrais dessa narrativa é a complexa figura do editor, capaz de definir padrões, gostos e direções que interferem em profundidade na formação do público leitor. Nesse campo específico, há mais de 20 anos que a coleção Editando o editor, dirigida por Jerusa Pires Ferreira e Plínio Martins Filho e publicada pela Edusp, tem trazido para nosso mercado editorial uma experiência singular e pouco explorada no que se refere a conhecer o que cada convidado pensa do livro e como se tornou editor. Sem conhecer as perguntas, vamos lendo a história de editores importantes como Jacó Guinsburg, Ênio Silveira, Jorge Zahar e Samuel Leon, alguns ainda em atuação no mercado editorial. Uma coleção que prima por um texto por vezes descontraído, inclusive mostrando casos curiosos, que nos levam a pensar que ser editor muitas vezes não é algo que surgiu de forma planejada, mas muito pelo amor que esses autores singulares desenvolveram pelo livro.
A coleção da Edusp chega agora a seu nono volume, e o editor convidado é o ouro-pretano Guilherme Mansur. A escolha é particularmente significativa pela diferença em relação aos outros editores convidados: Guilherme desenvolveu, ao longo de décadas, um trabalho editorial à margem do mercado, não apenas pela opção gráfica adotada, como também pelas reduzidas tiragens e pelos títulos escolhidos. E se dedicou a um campo praticamente marginal nos catálogos das grandes editoras: a poesia. O que “prova” que tamanho não é documento, quantidade não é qualidade.
Com edições primorosas e inusitadas, Guilherme foi constituindo um catálogo de alto valor editorial, objeto de desejo para qualquer bibliófilo.
Leia Mais
Artigo: A transparência conceitual e a imprevisibilidade na obra do poeta Guilherme MansurEntrevista: 'tipoeta' Guilherme Mansur fala sobre seu flerte com diferentes linguagens artísticasArtigo: Guilherme Mansur, o poeta mineiro que 'ensacou' a poesiaMarco Valério Marcial tem parte da obra traduzida Cristovão Tezza chega às livrarias em dose triplaContraste de obscurantismo e prosperidade moldou a vida e a obra de Dostoiévski e Tolstói Prêmio Pernambuco de Literatura escolhe trabalhos que inovam a linguagem Conheça a história da dinastia Romanov, que forjou o Império Russo e acabou engolida pela própria oEscritora lança romance sobre homens que recolhem animais mortos nas rodovias'O sertão como personagem é uma busca nos entender como pessoa e como nação', diz George Moura'Precisei ouvi-la e compreendê-la', diz Ronaldo Brito sobre protagonista de 'Dora sem véu'Protagonismo feminino é tema de livro de Ronaldo Brito e série de George MouraOs que se interessam pela história dos editores de livros, incluindo aqui livreiros, mas, sobretudo, designers, encontrarão nessa coleção e, em particular, em Guilherme Mansur, uma leitura mais que prazerosa sobre um tipógrafo-poeta que singulariza o passado da tipografia sem, porém, nos dizer que a tecnologia é que vai salvar a tipografia de caixa. Aliás, vale muito apoiar e chamar a atenção das instâncias políticas e da iniciativa privada no sentido de contribuírem para concretizar um dos sonhos de Guilherme: criar em Ouro Preto – cidade tão importante para a história do país – um instituto tipográfico. Fica a sugestão.
*Mário Alex Rosa é professor de literatura, artista visual, poeta, autor de Via férrea (Cosac Naify, 2013)
*Ronald Polito é historiador, tradutor, ensaísta, poeta, autor de Ao abrigo (Scriptum, 2015).