Quem são Cássia e Maria, as protagonistas da série? De onde vem a força que as move?
Cássia e Maria são mulheres contemporâneas, que se veem diante de uma grande perda: o sumiço e morte de Nonato. Cássia, mais madura e com uma história ligada à cidade de sertão, que ela teima em tentar esquecer, acredita que o caminho para que o culpado da morte do filho seja punido é a via da legalidade. Já Maria, mais jovem, explode diante da inércia da polícia e da justiça e escolhe o caminho à margem. Gradativamente, se transforma numa espécie de “cangaceira”. A força que as move é o amor e desejo de viver em um país menos injusto. Mas Maria, cega de ódio, termina por incorrer nos mesmos erros dos algozes do seu irmão. Cássia, embora atormentada pelo presente e pelo passado, decide que é necessário permanecer em Sertão para proteger a filha. Duas mulheres, um único desejo e duas escolhas tão díspares.
Quais as principais diferenças entre Onde nascem os fortes e seus trabalhos anteriores?
Guimarães Rosa, que emprenhou o sertão de crise existencial, diz que o “Sertão é quando menos se espera.
Quais os maiores desafios a serem vencidos por um homem ao escrever tramas protagonizadas por mulheres?
É mudar de ponto de vista, é ser outro, é querer falar sobre algo que me fascina, que é o feminino. Sou absolutamente encantado pelo jeito peculiar que as mulheres veem o mundo e se deslocam nele. Sem as mulheres, o mundo teria muito menos graça.
Como se dá a relação do sertanejo com a fé e como você tentou reproduzi-la em Onde nascem os fortes?
O personagem Samir (Irandhir Santos) tem relação íntima com o histórico de religiosidade da região, mas decidimos construí-lo a partir da negação.
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Por que a escolha do sertão como cenário e como foram incorporadas à trama as transformações sofridas na região nas últimas décadas?
O sertão, assim como o deserto e o oeste, é espaço que traz consigo uma simbologia própria. Nessas geografias há uma ideia recorrente de que tudo está por ser construído, é uma terra de todos e de ninguém. No caso de Onde Nascem Os Fortes, a cidade fictícia de Sertão - onde se passa a trama - é um espelho enviesado do Brasil de hoje. É um lugar onde existe o desejo de ser moderno e a condenação de permanecer arcaico. Essa dualidade é muito rica dramaturgicamente. O cineasta Cacá Diegues disse: “Para entender quem somos, é preciso saber de onde viemos, mesmo que a origem não confirme nossos sonhos”. Quando se escolhe o sertão como personagem de uma trama, estamos nessa busca de tentar nos entender como pessoa e como nação.
Em suas visitas recentes ao sertão, o que causou maior estranheza e o que despertou familiaridade?
A estranheza é notar como um lugar, apesar de nova roupagem mais contemporânea, como a presença de motos, celulares e roupas industriais, pode ainda permanecer tão arcaico em seus valores e na sua permanência de status quo econômico.
“O sertão tem marcas de ferro e fogo. É ruim mas é bom”, diz um de seus personagens. O que o sertão ainda tem que o restante do Brasil já perdeu?
Pureza, humor e uma crença de que o que não tem remédio, remediado está.
Como nasceram os Fortes? Da memória, observação, experiência ou intuição?
De tudo um pouco. Para mim, a ficção é memória e invento que se atritam e se complementam. Claro que, muitas vezes, temos apenas uma intuição do que desejamos tratar ao iniciar o trabalho de escrita. Mas é preciso trabalhar diuturnamente, sempre com um olhar para o horizonte, sabendo que só a miragem nos salvará. É algo que antevemos, mas que, na realidade, não existe, e por isso passa a existir na ficção, território livre da imaginação..