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Wagner Araujo lê o poema 'A bola que balança a rede humana'; ouça


Bola que balança a rede humana

o vento forte seco ácido

em planos rizomáticos

balança as hastes flexíveis

nas direções possíveis


a torcida senta esperança

bola que balança a rede humana


o verde fofo cose flácido

espaços justapostos alinhados

em branco fixado geométrico

domínio exposto do que é atlético


a torcida sorri esperança

bola que balança a rede humana


o ferro firme oco duro

suspende enrijecido o branco

retângulo exposto vazado flanco

fenda entre o bom o mau futuro


a torcida clama esperança

bola que balança a rede humana


o nó no extenso multiplica

as dobraduras do nylon

corda que sinuosa cria

janelas de amansar disparos


a torcida reza esperança

bola que balança a rede humana

cantos apontam o céu

marcam interseção limiar

brincam flamejantes

de centro circular


a torcida chama esperança

bola que balança a rede humana


outras flâmulas deslizam

adjacentes retilíneas

prontas para pararem

o que feito acidente


a torcida verte esperança

bola que balança a rede humana


o vento agudo fino fixa

tudo o que válido ou não

impera sobre o que evento

força posta pelo pulmão


a torcida xinga esperança

bola que balança a rede humana


os uniformes concentrados

frente a frente a cada lado

vibram energia pura

sangue em ponto de fervura


a torcida alça esperança

bola que balança a rede humana


a bola abala a barca da ventura

tresloucada em sanha oca

sinuosa existente no que dura

se desdobra ao largo do que toca


a torcida dança esperança

bola que balança a rede humana


nonada anda inventa gosto

faz mexe pensa executa

carece aragem enxuta

assisada instruída colosso


a torcida bota esperança

bola que balança a rede humana


carne sangue tento ação

borboleta em giro trivial regular

irremediável extenso danação

creio não creio viver triangular


a torcida chora esperança

bola que balança a rede humana


rodeia quente estorvar

acontece travessia

tudo cabe aproximar

o instantâneo coisa


a torcida sobe esperança

bola que balança a rede humana


redemoinho no meio de si

matéria vertente zanzante

surgida imensidade a pedir

desenho da volta flagrante


a torcida para esperança

bola que balança a rede humana


cabaça na cabeça folha seca

tabela chapéu volta drible de corpo

bicicleta pedalada de letra

rabo-de-vaca chute olímpico estrondo


a torcida pula esperança

bola que balança a rede humana


neuro esquizo psicótica

abraça o outro em si

a torcida canta esperança

bola que balança a rede humana.



Wagner Araújo
Nasceu em Belo Horizonte, graduou-se em letras pela UFMG e é metre e doutor em literaturas de língua portuguesa pela PUC-MG. Publicou os livros de poesia Eu não sou Vincent Willem van Gogh (edição do autor, 1998), selêemcio (edição do autor, 2002), transversos (Scriptum Livros, 2003), blues (SAC-Dazibao, 2004), experiência (Dezfaces, 2007), solo (Scriptum, 2015). Este poema foi publicado na plaquete Pelada poética (Scriptum, 2006). A versão audiovisual integra exposição no Museu do Mineirão. A versão em áudio foi gravada pelo autor, sonorizada por Fabiano Fonseca, sob a direção de Gustavo Cerqueira Guimarães.
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