Bola que balança a rede humana
o vento forte seco ácido
em planos rizomáticos
balança as hastes flexíveis
nas direções possíveis
a torcida senta esperança
bola que balança a rede humana
o verde fofo cose flácido
espaços justapostos alinhados
em branco fixado geométrico
domínio exposto do que é atlético
a torcida sorri esperança
bola que balança a rede humana
o ferro firme oco duro
suspende enrijecido o branco
retângulo exposto vazado flanco
fenda entre o bom o mau futuro
a torcida clama esperança
bola que balança a rede humana
o nó no extenso multiplica
as dobraduras do nylon
corda que sinuosa cria
janelas de amansar disparos
a torcida reza esperança
bola que balança a rede humana
cantos apontam o céu
marcam interseção limiar
brincam flamejantes
de centro circular
a torcida chama esperança
bola que balança a rede humana
outras flâmulas deslizam
adjacentes retilíneas
prontas para pararem
o que feito acidente
a torcida verte esperança
bola que balança a rede humana
o vento agudo fino fixa
tudo o que válido ou não
impera sobre o que evento
força posta pelo pulmão
a torcida xinga esperança
bola que balança a rede humana
os uniformes concentrados
frente a frente a cada lado
vibram energia pura
sangue em ponto de fervura
a torcida alça esperança
bola que balança a rede humana
a bola abala a barca da ventura
tresloucada em sanha oca
sinuosa existente no que dura
se desdobra ao largo do que toca
a torcida dança esperança
bola que balança a rede humana
nonada anda inventa gosto
faz mexe pensa executa
carece aragem enxuta
assisada instruída colosso
a torcida bota esperança
bola que balança a rede humana
carne sangue tento ação
borboleta em giro trivial regular
irremediável extenso danação
creio não creio viver triangular
a torcida chora esperança
bola que balança a rede humana
rodeia quente estorvar
acontece travessia
tudo cabe aproximar
o instantâneo coisa
a torcida sobe esperança
bola que balança a rede humana
redemoinho no meio de si
matéria vertente zanzante
surgida imensidade a pedir
desenho da volta flagrante
a torcida para esperança
bola que balança a rede humana
cabaça na cabeça folha seca
tabela chapéu volta drible de corpo
bicicleta pedalada de letra
rabo-de-vaca chute olímpico estrondo
a torcida pula esperança
bola que balança a rede humana
neuro esquizo psicótica
abraça o outro em si
a torcida canta esperança
bola que balança a rede humana.
Wagner Araújo
Nasceu em Belo Horizonte, graduou-se em letras pela UFMG e é metre e doutor em literaturas de língua portuguesa pela PUC-MG. Publicou os livros de poesia Eu não sou Vincent Willem van Gogh (edição do autor, 1998), selêemcio (edição do autor, 2002), transversos (Scriptum Livros, 2003), blues (SAC-Dazibao, 2004), experiência (Dezfaces, 2007), solo (Scriptum, 2015). Este poema foi publicado na plaquete Pelada poética (Scriptum, 2006). A versão audiovisual integra exposição no Museu do Mineirão. A versão em áudio foi gravada pelo autor, sonorizada por Fabiano Fonseca, sob a direção de Gustavo Cerqueira Guimarães.
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