De Fiori não manteve contato com a elite modernista, mas, sim, com os operários do movimento, quem influenciou e recebeu influência de Volpi, Zanini, Galvez e Carnicelli. Ele frequentou o ateliê dos artistas do chamado Grupo Santa Helena. O livro Ernesto De Fiori – O exílio brasileiro, organizado por Ivo Mesquita, reconstitui a passagem do artista ítalo-alemão pelo Brasil, em edição esmerada, com 150 imagens.
Ivo Mesquita enfatiza que De Fiori não era um expressionista radical, como poderia ser um alemão no contexto explosivo da Segunda Guerra Mundial, nem se alinhava à matriz de Lasar Segall, emigrado no fim da Primeira Guerra: “Sua pintura não tem drama, suas paisagens são poéticas, pura contemplação, têm algo de Duffy, Signac ou Vlaminck, mas sem a elegância moderna desses artistas. Pelo contrário, são simples, diretas, rústicas por vezes”.
Nesta entrevista, Ivo Mesquita situa a relevância de Ernesto de Fiori, talvez o mais desconhecido dos artistas europeus emigrantes, revalorizado a partir dos anos 1980, com a chamada Geração 80, com o renascimento do interesse pela pintura.
Ele era um proeminente escultor no começo dos anos 1920 na Europa, numa vertente modernista que evoca a cultura clássica.
Como era São Paulo naquela época?
São Paulo era uma cidade provinciana, modorrenta. Por isso, ele começou a pintar. O interessante é que sempre foi tratado como um pintor visitante.
Em que momento a pintura de Ernesto De Fiori voltou a despertar a atenção?
Nos anos 1980, quando surge a geração que retoma a pintura, os artistas brasileiros olham para a obra dele e reconhecem um pintor singular.
Como percebe a influência que exerceu e que recebeu do grupo Santa Helena?
Ele se juntou com os artistas proletários, a arte naquele momento era camaradagem, trocavam experiências. Eles olharam para a pintura de De Fiori, mas ele também olhou para a pintura do grupo. Existem outros artistas imigrantes, exilados, fugindo da guerra. Há um aspecto interessante. A modernidade se deve em grande parte a esses grupos de intelectuais, artistas, escritores, matemáticos, filósofos, que emigravam na América, do Canadá à Argentina, que foram propagadores da ideia de modernidade e de humanismo. É parte de um processo que a gente chama de globalização. Estamos entre amigos. Os artistas não se formavam em universidades, se formavam nos ateliês. Aprendiam com os outros artistas. Havia uma intensa aprendizagem e troca de experiências.
De que maneira a interação com a paisagem brasileira influenciou a pintura de De Fiori?
Faço uma divisão da obra dele.
A que vertente da pintura De Fiori está ligado?
Ele é um artista que segue a vertente de uma pintura expressionista, com linhas e manchas que se fundem, superfícies vibrantes. Mas ele tinha um entendimento da pintura. As sucessivas camadas sempre dão um ar de inacabado. Talvez porque a escultura dele é muito clássica, econômica, posada, a pintura dele é muito estridente, vibrante. Nesse sentido, interessa aos contemporâneos. Não está preso a nenhum esquema das belas-artes ou dos modernistas.
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