Em 1965, o movimento do Cinema Novo já tinha completado seu primeiro ciclo e conquistado algum reconhecimento, mas as produções se concentravam no Rio de Janeiro e, em menor escala, em São Paulo. Minas Gerais não produzia filmes, mas, em contrapartida, tinha grandes críticos e cineclubistas apaixonados. O cineasta Geraldo Veloso lembra que Nelson Pereira dos Santos, criador do Cinema Novo e referência para qualquer interessado por cinema brasileiro, não apenas reconheceu a efervescência cinéfila em Belo Horizonte, mas incentivou dois diretores a filmar em Minas.
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Protagonista de 'O padre e a moça', Helena Ignez lembra experiência em MinasO ator Paulo José recorda bastidores da filmagem de O padre e a moça em Minas Filmado há 50 anos na Serra do Espinhaço, O padre e a moça se conserva como uma grande obra do Cinema NovoONG recolhe testemunhos de ex-militares israelenses sobre a ocupação dos territórios palestinosExposição e livro 'A viagem das carrancas' recuperam a história das esculturas de madeiraOs dois filmes foram inspirados em obras literárias mineiras: O padre e a moça, em poema de Carlos Drummond de Andrade; e Matraga, em conto de Guimarães Rosa. O primeiro aposta no intimismo, o segundo explora o simbolismo. Apesar da evidente distinção estética, ambos se afastam da postura vigente do Cinema Novo, na qual a preocupação em retratar a realidade do país e se colocar politicamente eram quase imperativos. Entretanto, apresentam dilemas éticos que transcendem a crítica política da realidade nacional, mesmo em anos de chumbo.
Em 1966, antes de sua estreia como diretor, Rogério Sganzerla escreveu: “É preciso dizer que O padre e a moça está inteiramente mergulhado na tradição da arte mineira. Isto é, barroca”. E é esse barroco, dualista, ambíguo, que Joaquim Pedro consegue extrair de seus atores. Paulo José, no papel do padre estrangeiro, e Helena Ignez interpretando a moça do interior.
O claro e o escuro, o branco rendado do vestido e o negro da batina, oposição já presente nos versos modernistas de Drummond, ganham ares mais barrocos nas imagens de Joaquim Pedro, que sabe fazer uso de seus laços ouro-pretanos. Para o crítico Maurício Gomes Leite, em texto de 1966, o diretor carioca está “colado à manifestação cultural mineira, que não inclui apenas Drummond, mas a tortura de Lúcio Cardoso, a perplexidade de Murilo Rubião, o erotismo técnico de Autran Dourado, a crônica irônica de Fernando Sabino, a ironia crônica de Otto Lara Resende”.
A presença das montanhas mineiras e o isolamento da equipe, praticamente confinada ao vilarejo durante os três meses de filmagens, é outro fator particularmente visível no filme. Mais do que isso, aumentam a sensação de opressão à qual os personagens estavam submetidos. Veloso, que acompanhou a montagem do longa, destaca que “o filme é um processo de transformação do próprio Joaquim”. Ele conta que imaginava que a história fosse ter uma estrutura linear, mas no processo de montagem, o diretor “embaralhou os tempos”, criando idas e vindas que fogem da linearidade clássica. Com isso, o tempo e o espaço são manipulados de forma a acentuar a indefinição, abrir lacunas narrativas que parecem esconder segredos. Em O padre e a moça, as verdades são veladas, as conversas, sussurradas.
PARA saber MAIS
. Joaquim Pedro de Andrade
De Ivana Bentes.
Editora Relume-Dumará, 1996
. Joaquim Pedro de Andrade – Primeiros tempos
De Luciana Corrêa de Araújo
Editora Alameda, 2013
. Lição de coisas
De Carlos Drummond de Andrade
Companhia das Letras, 2012
. O padre e a moça
DVD, Distribuidora Bretz Back-Five
. Revista Contracampo
https://www.contracampo.com.br/
42/frames.htm