Ana Martins lança 'O livro das semelhanças' em Belo Horizonte

Com nova obra, mineira consolida posição de destaque no cenário da poesia contemporânea

por André Di Bernardi Batista Mendes 28/08/2015 00:13

Leandro Couri/EM/D.A Press
Vencedora do Prêmio Biblioteca Nacional em 2012, poeta mineira lança sucessor de 'A vida submarina' (Scriptum, 2009) e 'Da arte das armadilhas' (Companhia das Letras, 2011) (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
A mineira Ana Martins Marques lança neste sábado, 29, na livraria Scriptum, 'O livro das semelhanças', editado pela Companhia das Letras, logo depois de 'A vida submarina' (Scriptum, 2009) e 'Da arte das armadilhas' (Companhia das Letras, 2011), vencedor do Prêmio Biblioteca Nacional em 2012. Essa excelente poeta se mostra, inteira, como um dos grandes nomes da cena literária contemporânea.

 

Dividido em quatro seções, “Livro”, “Cartografias”, “Visitas ao lugar-comum” e “O livro das dessemelhanças”, a obra mostra o vigor de uma voz forte, originalíssima, sem deixar de lado boas doses de lirismo e discernimento. Ana Martins brinca (a sério) de dizer das desventuras do amor, passeia (com a alma em chamas) pelas coisas precárias, aceita o lugar-comum e amplia os mistérios e a força que possui a memória.

Ana Martins busca, com a poesia, recuperar, recompor, restaurar. Ela busca reencontrar pequenas harmonias diante de cacos e falências múltiplas e desordeiras. Ana Martins não entende e busca novas leituras: “A memória lê o dia/de trás para frente”. Cabe o mar, mais, cabe o deserto no bolso da poeta.

 

Palavras são engrenagens esquisitas que possuem autonomia. Não é possível configurar as asas de nenhum pássaro. O mesmo acontece com a poesia. Eis o dilema, a dor e a delícia dos poetas.

 

O que significa um nome? O que significa um nome anotado num papel dobrado? Ana Marins encontra, inventa outro tipo de valor para moedas brilhantes, para um isqueiro amarelo, para um punhado de areia.

A poeta também dialoga com a sua terra, uma Minas entranhada, salina, feita de mar e minério. A poesia de Ana Martins vem do “silêncio elementar dos metais”. Palavra por palavra. Poemas, então, podem ser, e são: parentes distantes, galos de briga, cavalos de corrida, escolares em excursão, e tudo mais que sobe e desce pelo peito do mundo afora, e tudo que gira e faz girar em erros e acertos de contradanças.

Ler Ana Martins não é uma alegria só. Ela deixa brechas para que o leitor descortine. A poeta destranca a máquina de desalívios. A poesia pode ser também uma espécie de matemática alternativa. A poeta soube decifrar alguns desses sinais dessemelhantes. Ana Martins alerta e aponta para uma porção de pássaros idos: “Estas são palavras que eu não/deveria dizer”. Ela sabe que todo texto, que todo poema guarda escondimentos e semelhanças.

Ana Martins nos ensina que tudo é possível diante do terreno baldio, no céu literário. A cidade, a rua, o chão, o corpo mais próximo, tudo isso pode ser lido, lindamente. Ana Martins escreve com “a pressa feroz do desejo”. Todo poeta é um cartógrafo de insanidades e ternuras. Palavras são feitas de silêncios, que por sua vez podem ser faca, tesoura para flores de jardins. A poeta utiliza sabres, o seu cutelo demissionário para tudo que é morno, para tudo que não incendeia, quando tudo torna-se igual a que.

“As casas pertencem aos vizinhos/os países, aos estrangeiros/os filhos são das mulheres/que não quiseram filhos/as viagens são daqueles/que nunca deixaram sua aldeia/como as fotografias por direito pertencem/aos que não saíram na fotografia/– é dos solitários o amor”. A poeta também denuncia, para tornar conhecido, para difundir, para propagar, aos quatro ventos, tudo isso que foge, e foge tanto. A palavra abismo aparece (incomoda) em dois poemas, a palavra desejo, em seis, lugar, em nove, silêncio, em cinco, memória, em seis, e por aí vai.

Ana Martins questiona os cinco sentidos do verbo, e se deixa vencer, vencida, balbuciando, soletrando amor, amar e amores. É algo que fica muito próximo das crianças. Tudo depende do dia, dos humores do acerbo sol ou da ansiolítica lua. Ana Martins mostra que a poesia pode, sim, ser uma espécie de eixo central, uma espécie de espada, ferro de combate.

 

Cia das Letras/Reprodução
(foto: Cia das Letras/Reprodução)
Não existem rosas sem espinhos, para o melhor dos vinhos pisaram nas uvas os piores pés. Ana Martins tenta, com sua poesia, decifrar o périplo das sementes, essas coisas de cultivo e encontro. Poesia gera poesia. Crescem palavras diante da grandeza do verso. Ana Martins Marques nasceu em 1977, em Belo Horizonte.

O LIVRO DAS SEMELHANÇAS
Ana Martins Marques
Editora Companhia das Letras
112 páginas
R$ 33

Lançamento

Sábado, 29 de agosto, de 11h às 15h, na Livraria Scriptum (Rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi).

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