Fotojornalista que ousou desconstruir a liturgia do poder durante a ditadura militar, com enquadramentos inusitados e irônicos publicados na década de 1970 em revistas como Veja e IstoÉ, Luis Humberto assumiu em definitivo a função de fomentador de mentes inquietas quando voltou a lecionar na UnB, em 1985. “Não podemos nos contentar em ser previsíveis”, fazia questão de ensinar aos alunos. Assumidamente influenciado por Henri Cartier-Bresson (“Foi para mim o que Niemeyer foi para a arquitetura”, contou no livro biográfico A luz e a fúria, de Nahima Maciel), o mestre da luz e da inquietude deixa claro o papel dos mais experientes no processo de formação do cidadão: “Quem está à frente ou viveu mais tem coisas a dizer para a turma que vem lá atrás. Quando você forma uma herança, essa herança não é mais sua, não dá para levar dentro do caixão. Você passa para alguém. É o poder transformador”.
Palavras sobre imagens
Momento decisivo
‘‘A decisão de apreender um retalho do real, transformando um momento de banalidade em imagens de surpreendente significação, ocorre em uma esfera de decisão extremamente íntima e pessoal. É um processo íntegro e indivisível.’’
Síntese
‘‘Fotografia e poesia estão ligadas pela capacidade de síntese. É como música: uma linguagem que permite uma síntese que reduz o conteúdo e o torna perceptível para mobilizar a sensibilidade. É a síntese de um momento. Às vezes, de uma história.’’
Enigma
‘‘A fotografia é enigma. Quando é muito óbvia, é pobre.’’
Falsa dicotomia
‘‘Os fotógrafos aceitam muito fácil a falsa dicotomia de que quem escreve não fotografa e quem fotografa não escreve. Por que não posso fazer as duas coisas direito? Sou alfabetizado!’’
Inspiração
‘‘O fenômeno comumente chamado de inspiração não é resultante da captação de misteriosos fluidos que nos incendeiam subitamente, mas de um momento de convergência da depuração e da síntese de todo um esforço orientado na busca de respostas, finalmente alcançadas com clareza.’’
Fotojornalismo
‘‘Existe algo de visceral, de fascínio, de encanto hipnótico, de aceitação de um desafio a que nos propomos contra nossos próprios limites. Alguma coisa de prazer físico em nos sentirmos vivos e metidos até o pescoço em um jogo cujos triunfos sabemos fictícios e transitórios.”
Identidade cultural
‘‘A busca de uma identidade cultural nada tem a ver com nazismo ou xenofobia. Procurar afirmar o caráter diferenciado das manifestações expressivas de um povo é uma preocupação séria com a liberdade, séria demais para ser carimbada com rótulos na verdade mais adequados aos nossos colonizadores.”
Testemunha do tempo
‘‘A fotografia pode não ser confiável como constatação de uma verdade ou mesmo pode não conter um indicativo seguro da ideologia de seu autor, mas será certamente um resultado decorrente de seu relacionamento com o mundo à sua volta e, portanto, passível de se transformar em testemunho importante, talvez mesmo denunciador, das angústias e aspirações de seu tempo.”
País adiado
‘‘O Brasil é um país adiado, sempre adiado. Quando Pedro Álvares Cabral chegou, disse assim: ‘Olha o país que vamos descobrir e adiar.’ É um negócio incompreensível com a riqueza territorial e as belezas que temos.”
Paixão e equilíbrio
‘‘A paixão por nosso ofício nunca nos deixa sem resposta. Devolve-nos os estímulos, na medida em que podemos nos conhecer e fazer crescer nossa
autoestima. Uma produção, quando acolhida com felicidade por quem a concebe, é o suficiente para garantir equilíbrio com a vida. O reconhecimento externo é importante, mas não fundamental. Se vier a acontecer, será certamente um propulsor para novos voos. Mesmo em caso contrário, a paixão continuará a existir, pois é, acima de tudo, um compromisso de fidelidade à nossa integridade.”
Ser incômodo
‘‘O fotógrafo é, antes de tudo, um ser incômodo. Mas não é um abutre da história.”
História e circunstância
‘‘Nós somos nossa história e nossas circunstâncias.”