Walter Sebastião
Vai ser lançado hoje em Belo Horizonte um livro surpreendente: Urbano ornamento – Inventário de grades ornamentais em Belo Horizonte (e outras belezas), de Fernanda Goulart, de 37 anos. Artista plástica e pesquisadora, ela encontrou em meio aos escombros ou na solidão altiva das casas antigas de Belo Horizonte uma joia: as grades ornamentadas. Peça hoje praticamente em desuso (foram substituídas por antipáticos muros cegos), revela extraordinária fantasia gráfica, produto de caprichoso entrelaçamento dos saberes da arte, design e arquitetura.
Ver este livro pronto me traz sentimento de sonho realizado e tarefa cumprida. Olhando para trás, fico assustada de pensar em como fui perseverante, encarando empreitada que ficou gigante, com a campanha de financiamento coletivo que possibilitou o livro”, conta Fernanda Goulart. Palavras que são agradecimento à equipe que realizou o projeto e aos que, antes de a obra ficar pronta, adquiriram 800 volumes, permitindo que o trabalho fosse editado. “Deu-me alegria descobrir que esses objetos são amados por tanta gente”, brinca. A página do projeto no Facebook tem mais de 3 mil admiradores, conta.
“Gosto de pensar que por meio do livro essas formas, que estão sendo pouco a pouco subtraídas da paisagem urbana, serão devolvidas à cidade, poderão ser recriadas também em outros suportes. No livro elas estão guardadas, protegidas, mas não escondidas, pois por meio dele conquistaram, ambiguamente, uma incrível mobilidade”, observa Fernanda. A pesquisadora não se esquece de artesãos e operários anônimos que confeccionaram as grades. “O ofício de serralheiro, sob mais risco de extinção que as próprias grades, merecia estar nos livros destinados ao registro dos bens culturais de natureza imaterial”, defende.
O estudo das grades ornamentadas foi feito para doutorado, apresentado na Faculdade de Arquitetura da UFMG, voltada para a serralheria artística e a presença do ornamento na cidade. Fernanda destaca no processo a concessão de bolsa de pesquisa e os “excelentes interlocutores” na Espanha, onde há tradição na forja artística. “Escolhi objeto de estudo que é paixão coletiva, como fui descobrir”, observa. E por isso, explica, o resultado do trabalho não é dela, “pertence a todos”. Gentileza traduzida em ato: o inventário é copyleft, isto é, pode ser utilizado por qualquer um e para quaisquer fins, sem direitos autorais. “Essas grades, essas linhas, são patrimônio mundial”, diz.
Fernanda Goulart é formada em artes visuais, com especialização em gravura pela UFMG. O mestrado teve como título Entre a comunicação e a arte: experiência estética e vida ordinária em Sophie Calle, Maurício Dias & Walter Riedweg. “Gosto de habitar as fronteiras, pensar como um campo de conhecimento pode conversar com o outro. Naquela época, interessaram-me as relações entre arte e comunicação social, tentava entender em que medida as experiências da vida cotidiana podem ser ressignificadas pela arte e, mais do que isso, como podem injetar riqueza nas formas artísticas”, explica.
Fernanda destaca dois aspectos que mais chamaram sua atenção no estudo das grades ornamentais. Em primeiro lugar, a diversidade dos desenhos, a partir de um repertório reduzido de motivos – por exemplo a voluta, que se desdobra em infinitas formas. “Mas também a simplicidade das linhas e sua capacidade de gerar formas ricas, complexas. São desenhos que remetem a um repertório ancestral e que se mantêm atualíssimos”, explica. A outra coisa que a impressionou foi a transposição dos desenhos para o ferro, “um material marcado por supostas dureza e tenacidade pode ser transformado em linhas leves, fluidas, dançantes”, descreve.
Urbano ornamento – Inventário de grades ornamentais em Belo Horizonte (e outras belezas)
Lançamento do livro de Fernanda Goulart. Hoje, das 16h às 19h, no foyer do Sesc Palladium, Avenida Augusto de Lima, 420, Centro. Entrada franca. A publicação custa R$ 70 e traz DVD com 3 mil desenhos editáveis.
Vai ser lançado hoje em Belo Horizonte um livro surpreendente: Urbano ornamento – Inventário de grades ornamentais em Belo Horizonte (e outras belezas), de Fernanda Goulart, de 37 anos. Artista plástica e pesquisadora, ela encontrou em meio aos escombros ou na solidão altiva das casas antigas de Belo Horizonte uma joia: as grades ornamentadas. Peça hoje praticamente em desuso (foram substituídas por antipáticos muros cegos), revela extraordinária fantasia gráfica, produto de caprichoso entrelaçamento dos saberes da arte, design e arquitetura.
Ver este livro pronto me traz sentimento de sonho realizado e tarefa cumprida. Olhando para trás, fico assustada de pensar em como fui perseverante, encarando empreitada que ficou gigante, com a campanha de financiamento coletivo que possibilitou o livro”, conta Fernanda Goulart. Palavras que são agradecimento à equipe que realizou o projeto e aos que, antes de a obra ficar pronta, adquiriram 800 volumes, permitindo que o trabalho fosse editado. “Deu-me alegria descobrir que esses objetos são amados por tanta gente”, brinca. A página do projeto no Facebook tem mais de 3 mil admiradores, conta.
“Gosto de pensar que por meio do livro essas formas, que estão sendo pouco a pouco subtraídas da paisagem urbana, serão devolvidas à cidade, poderão ser recriadas também em outros suportes. No livro elas estão guardadas, protegidas, mas não escondidas, pois por meio dele conquistaram, ambiguamente, uma incrível mobilidade”, observa Fernanda. A pesquisadora não se esquece de artesãos e operários anônimos que confeccionaram as grades. “O ofício de serralheiro, sob mais risco de extinção que as próprias grades, merecia estar nos livros destinados ao registro dos bens culturais de natureza imaterial”, defende.
O estudo das grades ornamentadas foi feito para doutorado, apresentado na Faculdade de Arquitetura da UFMG, voltada para a serralheria artística e a presença do ornamento na cidade. Fernanda destaca no processo a concessão de bolsa de pesquisa e os “excelentes interlocutores” na Espanha, onde há tradição na forja artística. “Escolhi objeto de estudo que é paixão coletiva, como fui descobrir”, observa. E por isso, explica, o resultado do trabalho não é dela, “pertence a todos”. Gentileza traduzida em ato: o inventário é copyleft, isto é, pode ser utilizado por qualquer um e para quaisquer fins, sem direitos autorais. “Essas grades, essas linhas, são patrimônio mundial”, diz.
Fernanda Goulart é formada em artes visuais, com especialização em gravura pela UFMG. O mestrado teve como título Entre a comunicação e a arte: experiência estética e vida ordinária em Sophie Calle, Maurício Dias & Walter Riedweg. “Gosto de habitar as fronteiras, pensar como um campo de conhecimento pode conversar com o outro. Naquela época, interessaram-me as relações entre arte e comunicação social, tentava entender em que medida as experiências da vida cotidiana podem ser ressignificadas pela arte e, mais do que isso, como podem injetar riqueza nas formas artísticas”, explica.
Fernanda destaca dois aspectos que mais chamaram sua atenção no estudo das grades ornamentais. Em primeiro lugar, a diversidade dos desenhos, a partir de um repertório reduzido de motivos – por exemplo a voluta, que se desdobra em infinitas formas. “Mas também a simplicidade das linhas e sua capacidade de gerar formas ricas, complexas. São desenhos que remetem a um repertório ancestral e que se mantêm atualíssimos”, explica. A outra coisa que a impressionou foi a transposição dos desenhos para o ferro, “um material marcado por supostas dureza e tenacidade pode ser transformado em linhas leves, fluidas, dançantes”, descreve.
Urbano ornamento – Inventário de grades ornamentais em Belo Horizonte (e outras belezas)
Lançamento do livro de Fernanda Goulart. Hoje, das 16h às 19h, no foyer do Sesc Palladium, Avenida Augusto de Lima, 420, Centro. Entrada franca. A publicação custa R$ 70 e traz DVD com 3 mil desenhos editáveis.