Juntos para sempre conta a história de Alan, um advogado rico, bem-sucedido, que leva uma vida aparentemente perfeita: mora em uma cobertura luxuosa, namora uma linda mulher e pode desfrutar do que a vida tem de melhor. Contudo, todas as noites o nosso herói é atormentado por um sonho: na Idade Média, no antigo reino de Granada, uma jovem está prestes a ser queimada na fogueira, acusada de bruxaria.
Entre os espectadores do auto de fé está um homem que, apesar de ter o poder de salvá-la, assiste passivo à sua execução. Surpreendentemente, antes que o fogo a consuma, ele acaba dizendo que a amará para sempre. Quando desperta, o sonho fica em sua cabeça, gerando angústia e dúvida. Envolvido nesse mistério, está dada a largada para a continuação da história.
CLICHÊS Walcyr, não há dúvida, tem talento, e escreve com segurança ao montar um enredo interessante, bem amarrado, que pega o leitor menos atento. Contudo, o escritor desliza em certos momentos, com clichês, chavões, em trechos que desandam num lugar-comum – que é bem diferente do simples. São quase passagens de um folhetim: "Nossos olhares se cruzaram. Naquele instante, o tempo real não existia. Nossos olhos se mantiveram fixos um no outro. Parecia não haver mais nada ao redor. Estávamos acima da dimensão do tempo, paralisados pela mensagem que só os olhos da alma podem trocar. Foi um instante, apenas um instante, um instante mágico como a eternidade, que acontece raramente na vida de cada um. ‘Adeus’, eu disse no meu coração. Meus olhos continuavam presos aos dela. Agora pareciam embaçados. Lágrimas? Não podiam cair. Não. Os dela continuavam secos. A secura dos realmente corajosos".
E é exatamente no dia a dia, no real das situações, que a trama se desenrola. Tobias, amigo do personagem principal, recebeu uma herança inesperada de um tio distante. O problema é que o testamento está sendo contestado e Alan precisará usar suas habilidades para ajudar o amigo a receber a herança. Durante sua viagem para resolver o imbróglio, ele encontra uma mulher, que lhe parece familiar. Mas ela acaba fugindo, com medo. Embora não possa entender o que isso significa, Alan tem uma certeza: ela é a moça que aparece em seu sonho. As descobertas feitas pelo destemido advogado não deixam dúvidas: a origem de tudo o que vivemos pode ser mais antiga do que imaginamos. E mais: um amor perdido numa vida passada pode renascer. Romance, mistério, misticismo e aventura, na medida do impossível.
JUNTOS PARA SEMPRE
. De Walcyr Carrasco
. Editora Arqueiro, 208 páginas, R$ 24,90
TRÊS PERGUNTAS PARA
. Walcyr Carrasco
. Escritor e autor de novelas
A estrada que leva às palavras é cheia de armadilhas. Como você encarou essa transição da linguagem televisiva para a literatura?
Iniciei minha carreira na literatura infantojuvenil, na qual tenho já 60 livros publicados. Depois fui para o teatro e posteriormente para a televisão. O importante em cada gênero é a dedicação total e o aprendizado de alguma técnica. O que só se consegue com muito trabalho, vivendo experiências. Portanto, o lançamento de Juntos para sempre, meu primeiro romance, é o resultado de um caminho, de uma vida dedicada a escrever.
Que técnicas você costuma utilizar para a formatação de uma história? Como é sua rotina de trabalho?
Acredito que a técnica é importante, mas que não se pode pensar nela. Mais ou menos como quando se dirige um carro. O aprendizado existe, mas depois, na hora de dirigir, o que é técnico já deve estar incorporado. Assim é na TV e na literatura, o que é técnico funciona apenas como suporte de criatividade.
Como é escrever para milhões (caso da TV) e para um universo mais reduzido de leitores (romance)? Você pensa nisso na hora de escrever?
Não, não penso no número de pessoas, porque o que quero é expressar minhas emoções. Somente nos livros infantojuvenis tomo um cuidado, depois que eles foram escritos, para não expressar conceitos errados. Por exemplo, no meu livro Meus dois pais, para crianças a partir de 6 anos, no qual conto a história de um garoto que descobre que o pai é gay e vive com outro homem, tomei o cuidado de pedir, com a ajuda da editora, para um psiquiatra lê-lo. Ele detectou alguns pontos a serem trabalhados e reformulei o texto com prazer. Mas isso acontece depois de eu escrever, não antes.