Se lá em 1993 a banda punk/hardcore paulistana Ratos de Porão lançou a música Suposicollor contra o ex-presidente da República Fernando Collor de Mello (que pediu a renúncia no final do ano anterior), agora, em 2022, não seria diferente.
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Sem citar o nome do político, o vocalista João Gordo canta a plenos pulmões as seguintes frases na faixa que abre o trabalho do projeto: "Genocida depravado/ Ditador que come gente/ Um perigo eminente/ Mentiroso imoral/ Ser humano decadente/ Especialista em matar/ Privatizando o presente/ Sem futuro para sonhar".
Em conversa exclusiva com a jornalista Itaici Brunetti, do portal Splash, do UOL, João abriu o jogo sobre a canção: "Você ouve uma música dessa e pensa o quê? Que ela foi escrita para o Papa Francisco? Claro que não. Eu estou vendo acontecer na minha frente uma distopia monstruosa e a estou descrevendo. A música é para ele mesmo".
O trabalho chega nesta sexta-feira (13/05) nas plataformas digitais, curiosamente a data em que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, há 132 anos atrás. O álbum saíra no Brasil em CD via Shinigami Records. O disco também vai ganhar versão em LP.
Necropolítica vem recheado de críticas sociais, fala sobre a pandemia do novo coronavírus, o governo brasileiro, a corrupção, o negacionismo, o bolsonarismo e a ascensão do pseudoneofascismo e do neonazismo.
"As pessoas vêm falar que 'agora o Gordo é lacrador'. Lacrador como, cara? A temática do Ratos sempre foi essa desde a primeira música do primeiro disco da banda. Não é que eu sou contra as coisas, eu narro o que eu sinto e vivo ao meu redor", explicou.
"Eu estou vivendo nesse mundo na necropolítica por todos os lados. Então, não tem como eu desviar o assunto", acrescentou.
As gravações ocorreram no estúdio Family Mob, em São Paulo. O músico prossegue sobre os temas escolhidos: "Esse é um disco que descreve esse momento distópico em que estamos vivendo.
Eu escrevo assim, cara. Vou falar sobre São João? Sobre a poluição do plástico? Não tem como não falar sobre o que está acontecendo ao meu redor".
Para o cantor, o título do álbum se refere ao modo como o governo brasileiro lidou com a pandemia do coronavírus, na qual mais de 665 mil pessoas morreram da doença. O Governo Federal demorou para comprar vacinas contra o vírus SAR-sCoV-2, inclusive ignorou durante meses as insistentes ofertas de imunizantes da Pfizer, que poderiam ter chegado ainda em 2020 e salvado a vida de milhares de brasileiros.
"O cara está devendo aí. Esse governo está devendo para os brasileiros. Ao meu modo de ver foi um genocídio pensado, sim. Eles falavam em 'imunidade de rebanho', mas não somos gados, somos pessoas", complementou.
O Ratos de Porão é formado por João Gordo, Jão (guitarra), Juninho (baixo) e Boka (bateria). Além da música Alerta antifascista, o disco é composto pelas faixas Aglomeração, Passa pano pra elite, Guilhotinado em cristo, O vira lata, G.D.O, Bostanágua, Entubado, Neo nazi gratiluz e a faixa título.
Ouça abaixo, Aglomeração:
Eleições 2022
Em outubro deste ano, os brasileiros irão às urnas para decidir quem será o novo presidente do Brasil. Além disso, também vão escolher governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Mesmo com todo o pessimismo sobre a situação do país, João tem esperança de que o Brasil possa melhorar e tem como expectativa as Eleições 2022.
"Temos que ter esperança, né? A gente mora aqui. Há anos que eu voto nulo. Teve vezes que eu nem ia lá votar. Mas dessa vez vou votar no Lula para o Bolsonaro não ganhar de novo.
Eu voto até no meu cachorro para que esse cara não ganhe, porque senão esse país vai cair em uma obscuridade maior do que já está", afirmou.