O diamante bruto ficou guardado por mais de três décadas na fita cassete em que foi gravada, em 1985, a performance de Cássia Eller (1962-2001), então com 22 anos, cantando e tocando violão.
A música “Espírito do som” veio a público agora, nessa sexta-feira (10/12), data em que ela faria 59 anos, embalada pelo arranjo criado pelos produtores Rodrigo Garcia, Pedro Fonseca e Chico Chico, filho da artista, de 28.
Eles convocaram alguns parceiros – Cezinha (bateria), Kadu Mota (guitarra) e Marfa Kurakina (baixo) – e vestiram o registro de Cássia com instrumentação que emoldura o diamante bruto de uma voz que, já naquela época, soava com potência exuberante e foi sendo lapidada com o tempo. Rodrigo, no segundo violão, e Pedro, ao piano, completam a banda.
BRILHO
Em que pese o áudio de Cássia ter sido restaurado a partir da fita cassete pelo engenheiro de som Bruno Giorgi, a qualidade fica um pouco a desejar.
A voz soa ligeiramente metalizada, mas isso não ofusca o brilho desse registro inédito.
A voz soa ligeiramente metalizada, mas isso não ofusca o brilho desse registro inédito.
“Espírito do som” é um blues clássico, que ecoa os anos 1970, bem ao gosto da artista, dando a ela margem para explorar a força de seu canto. E é o que Cássia faz. Cinco anos antes de lançar o primeiro registro fonográfico, em 1990, ela já deixava claro que seu lugar na história da música brasileira (e não só, pois em vários momentos abraçou o rock) estava reservado.
O registro da voz e do violão de Cássia naquele longínquo 1985 se deu em Brasília, no show “Dose dupla”, dirigido por Marcelo Saback e apresentado por ela e a amiga Janette Dornellas, cantora lírica.
“Escutando a gravação, me veio a sensação de que aquele grande momento vocal poderia receber o peso de uma banda, o que enfatizaria a potência da interpretação da Cássia. Conversei com Chico e ele topou”, relata Rodrigo Garcia, que foi violonista da cantora de 1997 a 2001, no texto de divulgação do single.
Ele e Chico Chico começaram a orquestrar o desafio de trazer o registro de Cássia para os ouvidos de hoje e convocaram Pedro. Rodrigo conta que as gravações da banda que formou foram feitas aos poucos, sempre tendo a voz e o violão originais de Cássia como referência.
“Fomos ajustando tudo à medida que íamos gravando.
Cada músico foi conduzindo seu som e chegando um para perto do outro, a serviço da presença de Cássia”, conta o músico e produtor.
Cada músico foi conduzindo seu som e chegando um para perto do outro, a serviço da presença de Cássia”, conta o músico e produtor.
SABOR
“Espírito do som”, composta por Péricles Cavalcanti e Chico Evangelista, chega a público com sabor de raridade renovada: a voz antiga de Cássia e a mensagem simples que ganha personalidade com sua interpretação.
No texto de apresentação da faixa, Rodrigo Garcia pontua: “Como Zélia (Duncan) me disse recentemente, ‘Cássia tinha uma voz invencível’. O single une esse vocal à letra que combina com ela: a liberdade de se falar em liberdade de alguma forma.”
O lançamento do single é acompanhado por videoclipe dirigido por Rafael Saar, que já pode ser conferido no YouTube.
Nele, imagens de arquivo da cantora, em vários momentos de sua carreira, se alternam com cenas do mar rebentando nas rochas, evocação do poder da voz de Cássia Eller.
Nele, imagens de arquivo da cantora, em vários momentos de sua carreira, se alternam com cenas do mar rebentando nas rochas, evocação do poder da voz de Cássia Eller.
“ESPÍRITO DO SOM”
(Péricles Cavalcanti e Chico Evangelista)
O espírito do som
Mora num lugar sagrado
Onde tem uma baía
O espírito do som
Avança para o mar
Tá na crista da onda
Espera a onda chegar
E ainda brinca
Na espuma
O espírito do som
Brinca o tempo todo
E é muito bom e feliz
Tudo como Deus quis
O espírito do som
O espírito do som
O espírito do som