Três anos depois de seu lançamento, Canções para abreviar distâncias: uma viagem pela língua portuguesa, disco da cantora mineira Isabella Bretz, continua aproximando lugares longínquos. No fim de 2020, o álbum em que ela apresenta poemas musicados originários dos oito países lusófonos foi tema de estudo na San Diego State University, na Califórnia (EUA).
Durante um semestre, o grupo orientado pela professora Cassia de Abreu, do Departamento de Linguagens e Literaturas em Português e Espanhol, analisou o disco, cuja proposta é conectar a cultura dos povos que falam português com o resto do mundo.
“Foi uma grande surpresa, não tinha a ambição de criar um trabalho que se tornasse referência acadêmica. Foi muito legal ver alunos de várias idades e origens falando português com aquele sotaque – do Timor-Leste, de Angola, do Brasil... Isso é muito rico. Ali, vi a distância sendo abreviada”, relata Isabella, referindo-se à apresentação do estudo. Os estudantes da universidade americana analisaram também outros conteúdos relativos a países lusófonos.
ADÉLIA
Gravado em parceria com o pianista Rodrigo Lana e coproduzido pelo violinista Matheus Félix, o álbum apresenta poemas musicados de Adélia Prado (Brasil), José Luís Peixoto (Portugal), Mia Couto (Moçambique), Conceição Lima (São Tomé e Príncipe), Vera Duarte Pina (Cabo Verde), Odete Semedo (Guiné-Bissau), Ana Paula Tavares (Angola) e Crisódio T. Araújo (Timor-Leste).
Isabella explica que um dos critérios que adotou foi selecionar escritores na ativa. “Escolhi só autores vivos. Queria um movimento vivo, de as pessoas se interessarem por alguém que possam encontrar nas redes sociais”, diz.
A produção teve o apoio institucional da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O disco já faz parte do acervo do Museu Virtual da Lusofonia da Universidade do Minho, em Portugal, que também apoiou o projeto. Depois do lançamento, Bretz visitou regiões dos países ligados ao projeto, mas teve de interromper o périplo por causa da COVID-19.
“O disco tem a missão de levar a língua para quem está longe. Fomos a Cabo Verde, ao Timor-Leste, experiências incríveis. A pandemia interrompeu as viagens, mas o projeto começou a andar sozinho também, com pessoas de outros países se interessando e me encontrando”, explica.
Formada em relações internacionais, Isabella Bretz busca estimular o interesse do público por outras culturas. “No Brasil, temos pouquíssimo conhecimento sobre esses lugares. Depois que comecei, percebi que eu mesma não sabia nada sobre os outros países que falam português. Espero que meu trabalho seja a sementinha para as pessoas buscarem mais informações. Ele tem a missão de estreitar os laços com os guineenses e os angolanos, por exemplo, além da tarefa de mostrar a língua portuguesa para o mundo. O estudo da universidade de San Diego foi a coroação disso”, comenta.
Neste início de 2021, a artista tem outra novidade para o público. No fim do ano passado, ela lançou Retalho de mundo, álbum com10 faixas produzido desde 2015, antes mesmo de Canções para abreviar distâncias.
ESCAMBO
O novo disco é fruto de um grande esforço coletivo baseado em trocas. Para viabilizar a produção, Isabella criou a ação Operação Escambo, na qual oferecia trabalhos musicais e outros, como revisão de textos e aula de inglês, em troca da doação de serviços que lhe permitissem pagar cachês dos músicos. Os artistas receberam trabalhos de contadores, pintores e professores, entre outros profissionais.
O projeto inusitado, criado para driblar a falta de recursos para a produção do álbum, foi um sucesso: 30 artistas participaram do disco, que está disponível nas plataformas digitais, assim como Canções para abreviar distâncias: uma viagem pela língua portuguesa.
RETALHO DE MUNDO
De Isabella Bretz
10 faixas
Disponível nas plataformas digitais
CANÇÕES PARA ABREVIAR DISTÂNCIAS: UMA VIAGEM PELA LÍNGUA PORTUGUESA
De Isabella Bretz e Rodrigo Lana
8 faixas
Disponível nas plataformas digitais