'Dopamina', clipe da banda godofredo, denuncia o poder tóxico das redes

'Ficamos meio lesados', afirma o letrista Vinicius Cabral, chamando a atenção para a perigosa sensação de prazer causada por likes e compartilhamentos

Pedro Galvão 03/02/2021 04:00
Reprodução
Cena do clipe Dopamina, disponível no canal da banda godofredo no YouTube (foto: Reprodução)

Lançado no fim de 2020, Arquivos vol. 3, álbum de estreia da banda mineira godofredo, teve suas 10 faixas criadas antes da pandemia. Porém, o teor das canções já refletia “a ideia de isolamento e de melancolia, presentes neste tempo massacrante de excesso de informação”, como define o guitarrista e vocalista Vinicius Cabral, responsável pelas letras.


Esta semana, o grupo lançou o clipe de Dopamina. A canção trata de um tema da ordem do agora: o lado tóxico das redes sociais, que muitas vezes passa despercebido no uso quase automatizado por parte dos usuários. A letra fala sobre a perigosa sensação de prazer causada por curtidas e compartilhamentos, cujo efeito é semelhante ao do neurotransmissor que dá nome à música.

“Fiz parte de um grupo que discutia os efeitos da internet. Debatíamos justamente o que acontece em nosso cérebro, as consequências bioquímicas de que não nos damos conta ao rolar o feed o tempo todo ou quando buscamos, sem parar, por novas notificações. O efeito da dopamina é que ao consumir demais, ficamos meio lesados”, observa o compositor.

NOVIDADE 

Vinicius alerta para outro problema: “Além das fake news e das brigas, há o efeito de buscar novidade o tempo inteiro, treta e confusão. Ou mesmo a coisa positiva de querer ver algo bonito e reconfortante”. Esses hábitos têm graves consequências, acredita o letrista. “Aquilo ali está acabando com a nossa capacidade de reação. Inclusive, neste quadro político de conflito que temos hoje, isso só contribui para o nosso esgotamento.”

Um dos versos de Dopamina diz: “Encostei no sofá/ Pra fingir que não há saída”. O letrista Vinicius Cabral se preocupa com o impacto das redes sociais sobre o comportamento dos jovens. “Estamos na encruzilhada de achar que nada mais tem jeito, mas talvez seja porque não temos mais a gana que outras gerações já tiveram de não aceitar serem massacradas da forma como somos agora”, comenta.



“Consumimos informação para tentar suprir a nossa necessidade enquanto não fazemos nada”, lamenta Vinicius, citando o frenesi em torno do reality show Big brother Brasil. “Há quem reclame que os outros assistem ao BBB, enquanto o Bolsonaro mata todo mundo. E também quem reclame que não há nada a ser feito. Talvez haja um meio termo: entender mais criticamente o que as redes sociais produzem em nosso inconsciente. Temos muitos jovens com depressão, insônia. Isso é preocupante. A nossa música é sobre isso”, afirma.

Formada em 2019, godofredo propõe um indie rock que mescla as influências de estilos de fora, como shoegaze e dream pop internacional, com o legado do rock mineiro dos anos 1970 e do Clube da Esquina. Tanto é que os músicos descrevem sua proposta como “indie lô-fi”, ou seja, “indie rock com um 'tiquin' de Lô Borges”.

Além de Vinicius Cabral, fazem parte do grupo o guitarrista André Pádua, o baterista Bruno Leo e Matheus diRocha, baixista com participações nas bandas Dom Pepo, Pequeno Céu e Novos Baianos F.C.

OUÇA

O clipe de Dopamina pode ser conferido no YouTube. O álbum Arquivos vol. 3 
está disponível nas plataformas digitais. 

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