Em março de 2020, no dia em que a pandemia do novo coronavírus foi decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o produtor mineiro Lucca Mourão desembarcava em São Paulo para finalizar um trabalho que começara no final de 2019.
Diante do fechamento da capital paulista para tentar conter a disseminação do vírus, ele se viu obrigado a retornar para casa, em Divinópolis, onde ficou durante oito meses, até poder reencontrar a artista com quem vinha trabalhando: a também mineira Lu Andrade, projetada nacionalmente no início dos anos 2000 como integrante do grupo Rouge.
Apesar de repentino, o tempo em que os dois ficaram afastados foi decisivo para o recém-lançado EP Elo, liberado nas plataformas digitais na última terça-feira (5/1). ''Mudamos completamente os arranjos. O que era mais simples ficou mais complexo. O Lucca mudou as batidas, e eu também compus novas canções. No final desse processo, eu tinha uma série de novas composições, mas decidi finalizar o que a gente já tinha começado e guardar as outras músicas para um momento futuro'', conta Lu, cujo nome artístico é o diminutivo de Luciana.
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O trabalho começou a nascer em meados de 2019, logo após a mais recente dissolução do Rouge. O grupo, formado em 2002 no reality show Popstars, acabou oficialmente em 2006. Luciana abandonou o barco dois anos antes, em 2004, mas participou do retorno em 2017. A decisão de fazer um trabalho solo veio depois que a banda encerrou uma turnê nacional de sucesso e lançou o álbum de inéditas Les 5inq (2019).
FRUSTRAÇÃO
''Lucca me propôs o projeto em maio de 2019, e eu logo comecei a compor. Quando chegamos em 2020, já estávamos quase finalizando as músicas, mas veio a pandemia e tivemos que adiar tudo. Uma decisão muito difícil e frustrante. Mas ganhamos um tempo precioso para repensar o caminho que estávamos percorrendo. Quando retornamos ao estúdio, em outubro, estávamos com tanta vontade e energia para gravar que saiu uma coisa completamente nova e diferente'', comenta.
Na visão de Lu Andrade, Elo é o trabalho que inaugura sua carreira solo, apesar de já ter lançado os singles Mind and heart e Amanheceu, em 2012 e 2014, respectivamente. Se no passado ela buscava uma abordagem musical voltada para o folk, agora a mineira de Varginha abraça a música pop e se deixa levar pelas principais características do gênero.
''Fiquei muito tempo sem fazer material solo. Por isso amadureci e me sinto à vontade para assumir esse tipo de música. Entendi que é possível fazer produções dançantes com a base que eu tenho. Então, é muito interessante ver as minhas composições com essa abordagem, sem deixar que elas percam a minha identidade'', diz.
De fato, as seis músicas que compõem o EP soam como uma continuidade do trabalho mais recente do Rouge, ainda mais considerando que a voz de Lu era uma das mais marcantes do grupo. Predominantemente romântico, o repertório pode ser dividido em duas partes: a primeira metade diz respeito às músicas mais animadas, e a segunda, às baladas.
Chuva, Você e eu e Um dia a gente volta a se cruzar na rua partem de uma base eletrônica que encontra refrões pegajosos. Ainda que não tragam novidades, são canções acessíveis e divertidas, que mostram uma clara influência do pop norte-americano.
Por outro lado, Elo, Foi paz e Eu nunca quis dizer adeus provam que Luciana de fato tem talento para composição, na medida em que letra e melodia são bastante consistentes.
Diferentemente dos trabalhos lançados pelo Rouge, sempre sob o controle de uma grande gravadora, a carreira solo de Lu Andrade começa independente. Isso não significa que ela não tenha vontade de trabalhar com uma gravadora no futuro, quando a oportunidade surgir.
GRAVADORA
''Eu sou super a fim de gravadora, não tenho nenhum trauma com as que trabalhei. Mas também tem uma série de vantagens em tocar o meu trabalho sozinha. Pude ser 100% artisticamente honesta. No Rouge, a gente tinha que ceder; afinal, eram cinco cabeças diferentes trabalhando juntas. Então eu consegui colocar o meu coração nesse EP e participar de todo o processo, desde as composições, a escolha das músicas, a gravação, a produção até a mixagem e a masterização.''
Aliás, sobre o grupo, ela espera que não seja um fim definitivo. ''Pode ser que daqui a 10 anos a gente volte, não dá para saber. O que sei é que as meninas não têm vontade agora e cada uma está focada em seu projeto pessoal. A gente tentou se reunir durante a quarentena para uma live, mas acabou não rolando, nem todas toparam'', revela. Para ela, Aline Wirley, Fantine Thó, Karin Hils e Li Martins são suas ''colegas de trabalho''.
Recentemente, Aline lançou seu primeiro álbum de estúdio, Indômita (2020). Fantine reeditou trabalhos lançados no passado e lançou o EP Born again (2020), além dos singles Wonder e Believe. Já Karin liberou três músicas: Fogo, Pra você ficar e Nossa lei.
Para este 2021, Lu Andrade pretende colocar em prática uma lição que 2020 ensinou: não fazer planos.
“Queria muito fazer um show de lançamento, mas, mesmo se liberar agora, não tenho coragem. O meu único plano é seguir compondo e fazendo música. É a forma que tenho de lidar com a vida.”
ELO
.Lu Andrade
.6 faixas
.Independente
.Disponível nas plataformas digitais