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A presença de Elza não se restringe a uma menção. Maria da Vila Matilde (2015), que fala sobre violência doméstica e ressalta a importância da denúncia contra os agressores, foi citada duas vezes. A letra, uma referência à Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, também tem relação direta com a vida da intérprete.
Outro figurão da MPB lembrado é Chico Buarque. Para Thiago Delegado, Sinhá (2015), escrita em parceria com João Bosco, é a música da década, porque une ''o que há de melhor na história da música brasileira: o violão de João Bosco, a poesia de Chico, introspecção, ritmo, tambor''.
A música mineira ficou no topo das listas de Octavio Cardozzo e Paloma Parentoni. Ele deu o primeiro lugar para Ombrim (2019), composta por Marina Sena e interpretada pela banda Rosa Neon. A escolha foi a forma que o cantor e compositor encontrou de celebrar a colega de profissão, que, segundo ele, ''é autêntica, transita bem entre diversos tipos de composição, é uma cantora incrível e hipnotizante''. Já Paloma, produtora cultural e DJ, elegeu Tela (2020), do produtor Baka, que ''define o desejo de todos para o fim da pandemia''.
Membro do Rosa Neon, Luiz Gabriel Lopes deu o topo da lista para Terra terra (2017), de Flávio Tris. ''É dessas pérolas que me arrebataram desde a primeira escuta, pelo refinamento poético com que trata o tema - a deriva do nosso planeta pelo espaço sideral - pelo desenvolvimento tão orgânico quanto surpreendente dos contornos da melodia e da harmonia, pela força da interpretação com que traz a canção à voz'', justifica ele.
A cantora e compositora Luiza Brina fez sua escolha com o coração. A emoção que ela sentiu ao ouvir Principia (2019), de Emicida, foi o bastante para considerar a música como a mais marcante do período. Segundo ela, a canção ''organiza e amplia, de uma maneira muito singular, os debates todos que se agigantaram nessa década''.
O músico e produtor musical Leonardo Marques, por sua vez, elegeu a música de um artista com quem gravou em 2018: o norte-americano Jonathan Wilson, autor de Trafalgar square (2018).
Integrantes da banda Chico e o Mar, Caio Gomes, Daniel Moreira, Gabriel Frade, Guilherme Vittoraci e Gustavo Vittoraci toparam produzir o top 10 em conjunto. A melhor música da década para a banda é Piloto automático, do Supercombo. Para justificar a escolha, eles lembram a influência que o grupo exerceu no início de suas carreiras.
O critério da jornalista Isabela Yu foi a atemporalidade. Por isso ela elegeu Obá iná, do grupo paulistano Metá Metá. ''Seja na banda ou nas carreiras individuais, Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França continuam surpreendendo e entregando músicas para levar para a vida toda. Esta é uma música que permanece atual e necessária para os próximos 10 anos'', avalia.
Única convidada que elegeu como música da década uma produção gringa, Dora Guerra, criadora da newsletter musical Semibreve, escolheu uma candidata de peso: Formation (2016), de Beyoncé. Para ela, a faixa representa um ponto de virada na música pop, responsável por revelar que ''tudo é, pode e deve ser político''.
Veja as escolhas e as justificativas para o primeiro lugar a seguir.
> CAIO GOMES, DANIEL MOREIRA, GABRIEL FRADE, GUILHERME VITTORACI E GUSTAVO VITTORACI
Integrantes da banda Chico e o Mar
. Piloto automático (2014), do Supercombo
Pensamos em uma série de nomes bem grandes para fazer essa lista. Foi um trabalho árduo pensar no conceito e significado de inserir cada um. Dentre vários e várias artistas por quem temos apreço, escolhemos a banda Supercombo para estar em nosso pódio. A escolha partiu inteiramente da experiência que tivemos com a banda como unidade. Supercombo foi uma banda que mostrou para nós, adolescentes na época, o que era possível alcançar como músicos, seja no quesito técnico (afinal, putz... cada música maravilhosa), seja no quesito alcance e relevância. Para nós, foi um convite para voltar a ouvir a cena musical que estava rolando no rock brasileiro depois de passarmos um tempo consumindo muita coisa de fora. Acenderam pequenas chamas ontem que podem ter ocasionado o surgimento da Chico e o Mar hoje. No mais, eles ainda nos inspiram na forma como transformam as músicas deles em experiências diversas, abrangendo o campo da leitura e afins. Que banda, né...
>> Love yourself (2015), de Justin Bieber
>> Bad guy (2019), de Billie Eilish
>> Disk me (2018), de Pabllo Vittar
>> Who dat boy (2016), de Tyler The Creator
>> Magic (2014), do Coldplay
>> Formation (2017), de Beyoncé
>> Do I wanna know? (2013), do Arctic Monkeys
>> Highest in the room (2019), de Travis Scott
>> Sweater weather (2013), do The Neighbourhood
> DORA GUERRA
Criadora da newsletter musical Semibreve
. Formation (2016), de Beyoncé
De modo geral, tentei eleger algumas músicas que me pareceram marcos (pioneiras ou líderes em um ou outro acontecimento musical). Os últimos anos serviram como uma virada para todos nós: andamos (re)descobrindo que tudo é, pode e deve ser político – a música pop, inclusive. Para mim, Formation foi uma das principais e mais potentes expressões politizadas no pop. Um pontapé (ou um pé chutando a porta?), vindo de uma artista que até então não misturava sua música com sua negritude com tanta veemência - nem entendia tanto os dois como uma coisa só. Depois, não deve ser coincidência (nem culpa só de Beyoncé) que tantas mulheres negras passaram a assumir a música de frente, usando suas vozes como nunca. Mas que Beyoncé é pioneira, é inegável: pioneira do álbum surpresa, do álbum visual, do filme na Netflix e por aí vai. Carregando o ''black'' como sua maior bandeira, deixando um legado imensurável. Para muito além do pop.
>> Vai malandra (2017), de Anitta, MC Zaac, Maejor, Tropkillaz & DJ Yuri Martins
>> Bad guy (2019), de Billie Eilish
>> MALAMENTE (2018), de Rosalía
>> Thinking 'bout you (2012), de Frank Ocean
>> K.O. (2017), de Pabllo Vittar
>> Video games (2012), de Lana Del Rey
>> Levanta e anda (2014), de Emicida (part. Rael)
>> Holocene (2011), de Bon Iver
>> Zero (2016), de Liniker
> ISABELA YU
Jornalista
. Obá iná (2011), do Metá Metá
Não só a melhor música da década, mas essa faixa faz parte de um dos melhores discos dos últimos anos, Metá Metá (2011). Seja na banda ou nas carreiras individuais, Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França continuam surpreendendo e entregando músicas para levar para a vida toda. Só neste disco, tenho pelo menos mais umas cinco músicas favoritas, mas a audição completa também faz muito sentido. Esta é uma música que permanece atual e necessária para os próximos 10 anos.
>> Olho de tigre (2017), de Djonga
>> Banho de folhas (2017), de Luedji Luna
>> Formation (2016), de Beyoncé
>> Lucro (Descomprimindo) (2016), do De BaianaSystem
>> A mulher do fim do mundo (2015), de Elza Soares
>> Submissa do 7º dia (2017), de Linn da Quebrada
>> Bitch don't kill my vibe (2012), de Kendrick Lamar
>> You're not good enough (2013), do Blood Orange
>> Starry night (2019), de Peggy Gou
> LEONARDO MARQUES
Músico e produtor musical
. Trafalgar square (2018), de Jonathan Wilson
O primeiro lugar ficou com Jonathan Wilson, cantor, guitarrista e produtor musical que admiro muito. Tive a incrível oportunidade de gravar junto com ele e Milton Nascimento. Em outubro de 2018, participei das gravações com Milton Nascimento junto do produtor musical californiano Jonathan Wilson (Roger Waters, Father John Misty, Dawes, Jackson Browne), do baterista e produtor Joey Waronker (R.E.M, Beck, Atoms for peace, Roger Waters) e do baixista e produtor Gus Seyffert (Black Keys, Beck, Dr.Dog, Roger Waters, Norah Jones).
>> Listening in (2018), de Dr. Dog
>> Irene (2013), de Rodrigo Amarante
>> Calçada (2019), de Bernardo Bauer
>> Hiding tonight (2011), de Alex Turner
>> Morning sun (2020), de Okada Takuro
>> The magician (2016), de Andy Shauf
>> Midnight in Richmount (2017), de Young Gun Silver Fox
>> Perfume do invisível (2016), de Céu
>> Isolation (2020), do Sepultura
> LUIZA BRINA
Cantora e compositora
. Principia (2019), de Emicida
Eu me emocionei muito com essa canção, que abre AmarElo (2019), disco mais recente do Emicida. Acho que ela organiza e amplia, de uma maneira muito singular, os debates todos que se agigantaram nessa década. Emicida, um norte essencial da música feita hoje, reúne sob uma ótica muito sensível letra, linguagem, banda e, em especial, as participações: o Pastor Henrique Vieira, as Pastoras do Rosário e a Fabiana Cozza.
>> Caravanas (2017), de Chico Buarque
>> Vai render (2017), de Letrux
>> Larinhas (2018), de Luiza Lian
>> Dias difíceis (2015), de Sara Não Tem Nome
>> Afogamento (2018), de Gilberto Gil e Roberta Sá
>> Pode se remoer (2011), de Adriana Calcanhotto
>> Canção e silêncio (2015), de Zé Manoel
>> Devires (2017), de Kristoff Silva
>> Nanã (2018), de Josyara
> LUIZ GABRIEL LOPES
Cantor e compositor
. Terra terra (2017), de Flávio Tris
Flávio Tris é um dos meus artistas favoritos da canção brasileira contemporânea; alguém de quem me orgulho de ser amigo e parceiro. É um alquimista das sutilezas: sua música combina um lirismo muito particular, que acessa lugares fundos da nossa memória ancestral, com um olhar muito sofisticado sobre o artesanato da canção e as raízes fincadas no que há de mais rico na tradição da MPB. Terra terra é dessas pérolas que me arrebataram desde a primeira escuta, pelo refinamento poético com que trata o tema - a deriva do nosso planeta pelo espaço sideral - pelo desenvolvimento tão orgânico quanto surpreendente dos contornos da melodia e da harmonia, pela força da interpretação com que traz a canção à voz. É parte de um bonito disco lançado em 2017, Sol velho lua nova, cuja escuta atenta recomendo vivamente a todos.
>> Oração 11 (2019), de Luiza Brina
>> Quinhentas gargalhadas (2015), de Gustavito
>> Absurdo ser normal (2019), de Igor de Carvalho
>> Transeunte coração (2015), de Ava Rocha
>> Conselho do bom senso (2017), de Tuyo
>> In a silent mood (2018), de Moons
>> Ode à prima (2018), de Laura Catarina
>> A luz do oculto e o sol do sentimento (2018), de Tiganá Santana
>> Dessa vez (2011), de Transmissor
> NOBAT
Cantor e compositor
. A mulher do fim do mundo
(2015), de Elza Soares
Se existe, de fato, um som da última década, este mora na voz sagrada de Elza Soares, a mulher do fim do mundo, nossa deusa-mulher. Um dos maiores ícones da música popular brasileira, que, nos últimos 10 anos, no auge de sua experiência, ressignificou mais uma vez toda a potência de seu canto para falar às gerações atuais que resistir é preciso, assim como reinventar a si próprio. Essa canção que intitula um dos álbuns mais icônicos de sua vasta carreira, lançado em 2015, e que traduz com coragem e sofisticação a força e a dor que marcaram sua caminhada. O clássico, o popular e o contemporâneo se encontram nos arranjos orquestrais de cordas, no cavaco “riffado”, nos beats pulsantes e nas guitarras ruidosas. Caos e poesia. Elza superou o tempo. Elza é o próprio tempo em si. E, adaptando a fala de Nélida Piñon ao se referir a Machado de Assis: ''Se o Brasil produziu alguém da grandeza de Elza Soares, este país não tem o direito de fracassar''.
>> Olho de tigre (2017), de Djonga
>> Ok ok ok (2018), de Gilberto Gil
>> Um comunista (2012), de Caetano Veloso
>> Que nem o meu cachorro (2019), de Black Alien
>> Zero (2016), de Liniker
>> Veneno (2020), de Kiko Dinucci
>> Que estrago (2017), de Letrux
>> Lucro (2016), do BaianaSystem
>> Recomeçar (2017), de Tim Bernardes
> OCTÁVIO CARDOZZO
Cantor e compositor
. Ombrim (2019), de Marina Sena (Rosa Neon)
Vou ser bairrista, sim! Marina é um dos grandes acontecimentos recentes da música mineira. É autêntica, transita bem entre diversos tipos de composição, é uma cantora incrível e hipnotizante. Escolho Ombrim como uma boa representante do seu repertório, que com certeza será lembrada nos próximos anos como um ótimo momento da música do nosso estado, e Marina como uma aposta de grande nome da música mineira nos próximos anos.
>> Maria da Vila Matilde (2015), de Elza Soares
>> Back in Bahia (2012), de Luiza Brina e Gabo Gabo
>> Banho de folhas (2017), de Luedji Luna e Emillie Lapa
>> O que é normal (2020), de Frederico Heliodoro e Vitor Velloso (interpretada por Flávio Venturini)
>> Desagrado e flores (2010), de José Luis Braga e Luísa Rabello (Graveola e o Lixo Polifônico)
>> Menino (2017), de Alexandre Andrés e Bernardo Maranhão
>> Pra que me chamas (2018), de Xênia França
>> Volta (2016), de Tim Bernardes (O Terno)
>> Não me entrego pros caretas (2019), de Cotô Delamarque (Lamparina e A Primavera)
> PALOMA PARENTONI
Produtora Cultural e DJ (Palomita DJ)
.Tela (2020), de Baka
Tentei separar por ano e não foi tarefa fácil. Na minha pesquisa, também priorizei artistas nacionais da cena independente, que é o meu mote de trabalho e pesquisa. Para a primeira posição, eu vou de Baka, um artista que está despontando na cena mineira e a música indicada define o desejo de todos para o fim da pandemia.
>> Coragem (2019), de Bernardo Bauer e Sara Não Tem Nome
>> Ok ok ok (2018), de Gilberto Gil
>> Bora dançar (2017), de Flora Matos
>> Artemísia (2016), de Carne Doce
>> Artemísia (2016), de Carne Doce
>> Mandume (2015), de Emicida com Drik Barbosa, Amiri, Rico Dalasam, Muzzike e Raphão Alaaphin
>> Um sonho (2014), de Nação Zumbi
>> Lucifernandes (2013), de Boogarins
>> 66, de O Terno
>> Não existe amor em SP (2011), de Criolo
> THIAGO DELEGADO
Violonista
. Sinhá (2015), de Chico Buarque
Meu primeiro lugar é Sinhá, de Chico Buarque, escrita com João Bosco. Melodia incrível, harmonia impecável, letra densa e histórica. Junção do que há de melhor na história da música brasileira: o violão de João Bosco, a poesia de Chico, introspecção, ritmo, tambor. Já nasceu clássica!
>> Maria da Vila Matilde (2015), de Elza Soares
>> Vesúvio (2018), de Djavan
>> Tartaruguê (2018), de Gilberto Gil
>> Histórias pra ninar gente grande (2019), de Danilo Firmino, Deivid Domênico, Mamá, Márcio Bola, Ronie Oliveira e Tomaz Miranda
>> Estrela (2012), de Vander Lee
>> Relax (2018), de Kassin
>> Mais feliz (2017), de Toninho Geraes
>> Flor morena (2011), de Aline Calixto
>> Lucro (2016), do BaianaSystem