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IRMÃO
O disco é homenagem ao irmão dele, o seresteiro Fares Cândido Lopes,15 anos mais velho, com quem Fagner aprendeu a amar não apenas a serenata, mas também o futebol. “Cresci ouvindo o meu irmão cantar. No Ceará, a minha infância foi ouvindo esse repertório.”
O disco homenageia grandes intérpretes – Francisco Alves, Sílvio Caldas, Orlando Silva e Vicente Celestino –, reunindo canções de Cândido das Neves, Freire Júnior, Cartola, Belchior, Orestes Barbosa, Chico Buarque, Pixinguinha e Vinicius de Moraes, entre outros.
Marcado para abril, o lançamento teve de ser adiado devido à pandemia de COVID-19. Fagner aproveitou o isolamento para regravar algumas faixas. “Há músicas aparentemente iguais, com os mesmos formato e leitura. No final do processo de botar a voz, eu já estava um pouco perdido. Veio essa pausa longa e deu para refletir, colocar (a voz) com mais propriedade”, explica.
“Não sei dizer exatamente o porquê de lançar agora, mas as coisas chegaram a um ponto que ficou inevitável. Já estava devendo esse disco para mim, meu irmão e para Conservatório, que nos acolheu tão bem”, comenta Fagner, referindo-se ao município fluminense apelidado de “Cidade da Seresta”.
O foco do projeto não está nos jovens, mas Fagner acredita que o repertório pode agradar às novas gerações. “Coisas de qualidade podem prender a atenção deles”, afirma. Pensando nos mais antigos, fez questão de lançar o disco em vinil. “A qualidade é melhor, o processo é melhor e se escuta com mais qualidade. Esse público ainda mantém a cultura do vinil”, diz.
Uma das faixas preferidas dele é Serenata do adeus, de Vinicius de Moraes. “Minha história com o Vinicius foi muito especial, sempre me lembro dele”, conta.
O álbum traz uma participação superespecial: Nelson Gonçalves (1919-1998), que divide a faixa Serenata com Fagner. “Deu muito trabalho, mas foi um achado. Cantar com o Nelson, né? Ele é um dos grandes, a responsabilidade é muito grande”, diz, a respeito do encontro, graças à tecnologia, com o intérprete de A volta do boêmio.
A relação dos dois começou com uma desavença. “Quando lancei o disco Noturno (1979), ele fez uma declaração crítica sobre mim. Não deixei mole. Nos encontramos, tivemos um bate-boca e acabamos virando amigos. Essa faixa é coberta de história, carinho e respeito”, diz Fagner.
TRAUMA
A vida de seresteiro não é fácil. Fagner que o diga. “A primeira serenata que fiz, era muito jovem. Foi no dia da morte do ex-presidente Castello Branco (18 de julho de 1967). Fomos cercados por carros do Exército, queriam saber o que fazíamos ali. Foi meio traumático”, relembra.
“Depois, teve aranha-caranguejeira subindo na minha perna. E alguns pais que não gostavam muito da gente. Era sempre um risco, ficava tenso”, conta Fagner, referindo-se à vigilância paterna sobre as filhas homenageadas pelos rapazes seresteiros. Era preciso planejar tudo com cuidado. “Esperávamos a pessoa dormir, tinha toda uma logística”, conclui.
SERENATA
De Raimundo Fagner
12 faixas
Biscoito Fino
R$ 54
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria