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MÚSICA

Fernando Brasil lamenta país da Terra plana, no single 'Marte ataca!'

Um dos mais talentosos compositores de uma rica leva de bandas indies que surgiram no cenário musical de Brasília em meados dos anos 2000, Fernando Brasil nunca deixou de produzir canções. De volta à cidade após uma temporada em Santa Catarina, o músico que esteve à frente de grupos como Tenente Mostarda e Phonopop, tem se dedicado, nos últimos meses, ao lançamento de singles em formato solo.



Em novembro, lançou A garota no ateliê, música com refrão daqueles que grudam na cabeça, bem ao estilo do trabalho que fazia junto ao Phonopop. E agora, nesta sexta-feira (18/12), solta a mais visceral e política Marte ataca!, que, além das plataformas digitais, está também no YouTube, em vídeo realizado pela documentarista Erica de Sousa (assista abaixo). Na faixa, Fernando canta e toca a maior partes dos instrumentos, tendo o auxílio de Dado Nunes (baixo) e Txotxa (bateria).


Enquanto a inspiração de A garota no ateliê foi o filme Trama fantasma (Paul Thomas Anderson), o que motiva Marte ataca! é claramente o país atual, que, na percepção do músico, ruma para o abismo, abraçado à negação da realidade. "Não importa a invenção da Terra plana/ Não há, talvez, só impossível", canta. "Os versos são simples e esparsos ao mesmo tempo, talvez porque não seja preciso dizer muito para expressar a tragédia que virou o Brasil”, analisa o cantor e compositor em material de divulgação do single.

Marte ataca! tem duas partes. A primeira, mais roqueira e intensa, cede espaço para uma quase balada, que torna a conclusão da música um tanto irônica. Em uma levada que lembra os Beach Boys, Fernando canta o que pode ser o resultado — metaforicamente, claro (ou não?) — do momento atual: "Cinzas se agitam sobre o pó da Catedral/ Enquanto o céu desce em espiral/ Urubus passeiam sobre resquícios de homens de bem/ Paletós submersos na Capital".



Essa faceta politizada de Fernando Brasil não aparecia de forma tão evidente nos dois discos que lançou com o Phonopop (Já não há tempo, de 2005, e Film, de 2013). A veia crítica, no entanto, esteve presente no último trabalho do grupo, o single A grande depressão, lançado em 2017.

Não por acaso, Fernando repete a parceria, inaugurada em A grande depressão, com a documentarista Érica de Sousa, que, para compor o cenário apocalíptico de Marte ataca!, recorreu a trechos de filmes clássicos, como Metrópolis (Fritz Lang) e O grande ditador (Charles Chaplin). Também fazem parte do vídeo cenas reais de ontem e hoje, como o acidente com césio 137, em Goiânia; a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial; e os incêndios do Pantanal e da Amazônia.

*Estagiário sob a supervisão de Marcela Cintra