Disco 'McCartney III' é o presente de Natal de Paul para o mundo

Com 11 faixas, álbum chega nesta sexta às plataformas digitais. Gravado durante a pandemia, ele conclui a trilogia iniciada nos anos 1970

Pedro Galvão 18/12/2020 04:00
Mary McCartney/divulgação
Paul McCartney em seu estúdio gravando guitarra, baixo e bateria do disco McCartney III (foto: Mary McCartney/divulgação )
O Natal ainda não chegou, mas a enorme legião de fãs de Sir Paul McCartney já ganhou presente. Nesta sexta-feira (18/12), chega às plataformas digitais McCartney III, o 18º álbum solo do baixista dos Beatles. Embora tenha sido totalmente produzido durante o isolamento forçado imposto pela pandemia, o projeto conclui a trilogia pessoal iniciada em 1970, com McCartney, o primeiro da discografia particular do artista, que prosseguiu em 1980, com McCartney II.

Aos 78 anos, Paul é mais um grande nome da música mundial a lançar novidades robustas durante a pandemia. Apresenta 11 canções, nas quais o conceito de álbum solo é levado ao pé da letra, tal qual nos discos I e II.

McCartney compôs e gravou sozinho todos os instrumentos (essencialmente, baixo, guitarra, violão, piano e percussão, além da voz), durante os dias de quarentena em sua fazenda em Sussex, na Inglaterra.

CURTA 

O processo foi experimental e incidental, explica o compositor na publicação oficial sobre o disco. A motivação inicial para entrar em seu estúdio particular foi a produção da trilha sonora de um curta-metragem de animação. Porém, Paul acabou “se empolgando” com a ideia do isolamento produtivo.

“Tive de trabalhar um pouco em algumas músicas de filme e isso virou a faixa de abertura. Quando acabou, pensei: o que farei a seguir? Tinha algumas coisas em que trabalhei ao longo dos anos, mas às vezes o tempo se esgotava e elas ficaram pela metade. Então, comecei a pensar no que já tinha. A cada dia, começava a gravar com o instrumento no qual escrevi a música e, gradualmente, colocava tudo em camadas. Foi muito divertido. Tratava-se de fazer música para você mesmo, em vez de fazer música por obrigação, para um trabalho. Então, só fiz coisas que imaginei fazer. Não tinha ideia de que isso iria acabar como um álbum”, afirma Paul no material de divulgação do novo trabalho.

Em entrevista à revista londrina Loud and Quiet, ele revela que o processo foi uma ótima maneira de encarar os dias de isolamento. “Fiz aquele pequeno trabalho (a trilha para o filme) e mandei para o diretor. Pensei: 'Oh, isso é bom, estou gostando disso, é uma boa maneira de passar o lockdown'. Terminei algumas canções olhando bits e bobs, inventando coisas e, geralmente, me divertindo no estúdio. Então, voltava para casa à noite e simplesmente estava com a família da minha filha Mary. A combinação de poder ir trabalhar, fazer música e depois estar com quatro dos meus netos... Tive muita sorte. Você sabe, estávamos sendo supercuidadosos, mas ser capaz de fazer música realmente ajudou”, declarou Paul, referindo-se à sua rotina em Sussex.

Nesta produção intimista e livre, há espaço para faixas melancólicas, como Deep deep feeling, que trata do amor em mais de oito minutos, e outras festivas. Apesar do ineditismo das canções, há algo de volta ao passado, no começo e no final. Long tailed winter bird, faixa de abertura, é derivação de When winter comes, produzida no começo dos anos 1990 em parceria George Martin – “o quinto beatle”, como era conhecido o importante produtor, que morreu em 2016.

A canção original surge no encerramento do álbum conectada à 11ª faixa, Winter bird. “Terminamos o disco com ela porque era a razão de fazer a coisa toda”, explicou McCartney à Loud and Quiet.

O álbum McCartney III chega ao mercado com a desafiadora missão de suceder a Egypt station, lançado em 2018, que chegou ao topo das paradas de sucesso da Billboard. Por enquanto, a reação da crítica é positiva, com avaliação média de 8,2 em 10, de acordo com o site Metacritc, especializado em mensurar esse tipo de conteúdo.

A crítica mais elogiosa, publicada pela revista canadense Exclaim!, diz que Paul McCartney já transcendia o tempo com sua música, “mas, com a realização da trilogia, ele traçou um vínculo ao longo dos últimos 50 anos com suas composições virtuosísticas”.

PALETA 

Por outro lado, a revista Rolling Stone ponderou: “McCartney III não é ambicioso como Egypt station. Assim como suas duas primeiras declarações solo autointituladas, é um limpador de paleta espontâneo após um projeto de estúdio trabalhoso”.

Se nos shows de Paul as multidões sabem na ponta da língua cada refrão das canções dos Beatles e de seus hits solo, a produção trabalhou para que o público se familiarizasse com as 11 novas músicas nos dias que antecederam o lançamento de McCartney III.

Ação da Amazon Music, uma das plataformas de streaming onde o álbum está disponível, espalhou murais com partituras das faixas por 12 cidades em vários países. A ideia era de que fãs e músicos pudessem tocar as próprias versões e postá-las nas redes sociais. As melhores foram selecionadas para exibição nos canais oficiais de Paul McCartney.

A única cidade na América do Sul contemplada foi o Rio de Janeiro. A banda carioca Melim foi selecionada e gravou clipe para a faixa dupla Winter bird/ When winter comes.

Londres, Los Angeles, Cidade do México, Sydney, Toronto, Berlim, Nova York, Tóquio, Chicago, Paris e Liverpool também receberam as partituras.
Capitol/reprodução
(foto: Capitol/reprodução)
MCCARTNEY III
.De Paul McCartney
.Capitol Records
.11 faixas
.Disponível nas plataformas digitais

Estreia adiada por causa de Taylor

AFP
Evermore, disco de Taylor Swift, atrapalhou os planos de Paul McCartney (foto: AFP)

McCartney III não é o único grande lançamento musical da pandemia. Na verdade, Paul McCartney precisou até repensar a data de estreia para não coincidir com outra novidade recente: Evermore, de Taylor Swift, lançado em 11 de dezembro.

Paul revelou que trocou e-mails com a estrela norte-americana depois de os dois posarem para a capa da revista Rolling Stone. Taylor disse que lançaria Evermore e descobriu que a data era a mesma do álbum de Paul. Depois disso, McCartney III foi adiado em uma semana.

Taylor Swift já havia lançado outro álbum durante a pandemia. Folklore, que saiu em julho, é considerado um dos melhores do ano pela crítica.

Em novembro, a banda AC/DC adicionou mais um título à sua discografia. A COVID-19 até atrasou, mas não impediu o lançamento de Power up, o primeiro em seis anos.

Outra lenda que aproveitou o isolamento social para publicar novidades foi Bob Dylan, que, em junho, soltou Rough and rowdy ways, seu 39º disco.

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