O longo período da quarentena imposta pelo novo coronavírus pode ser visto como um tempo perdido e cheio de dificuldades para muitos artistas. Não é o caso de Gal Costa. A cantora tem enfrentado a pandemia e trabalhado bastante. Em 26 de setembro, fez live para comemorar os 75 anos transmitida para toda a América Latina. Em outubro, lançou nas plataformas digitais remixes de músicas de A pele do futuro, o 30º título da discografia.
Agora, a baiana dedica-se ao projeto Gal 75, com o qual celebra 55 anos de carreira. O lançamento ocorre em partes, com dois duetos de cada vez. Os 10 singles comporão o álbum, que sai pela Biscoito Fino nos formatos CD, LP e digital em fevereiro. As gravações ocorreram remotamente em São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória (ES), Los Angeles e Lisboa.
Gal decidiu gravar o álbum ao sentir que os jovens estavam ouvindo mais sua música durante a pandemia. Em conversa com Marcus Preto, que a produz desde 2013, obteve a confirmação dessa impressão. Preto avaliou que o fenômeno se deve ao “conforto que os clássicos dão à alma”. Juntos, decidiram convidar novos artistas para gravar um disco com ela.
A proposta do Gal 75 é manter por perto jovens compositores e cantores, como a tropicalista vem fazendo desde Estratosférica (2015) e A pele do futuro (2018). Neles, ela incluiu composições de Criolo, Silva, Tim Bernardes e Zeca Veloso. Os lançamentos mais recentes do novo trabalho são Juventude transviada, de Luiz Melodia, em dueto com Seu Jorge; e Meu bem meu mal, de Caetano Veloso, recriada com Zé Ibarra. “No momento em que decidimos ter Juventude transviada no projeto, pensamos que seria fundamental convidar um artista que tivesse entendimento profundo não apenas da obra, mas também da persona de Luiz Melodia. A imagem de Seu Jorge surgiu imediatamente em nossas cabeças”, revela Marcus Preto. “Quando Gal ouviu a base pronta, ficou completamente hipnotizada com os graves do seu convidado.”
Zé Ibarra lembra que era criança quando ouviu a baiana pela primeira vez. Já Gal se apaixonou pela voz dele quando o ouviu cantando com Milton Nascimento no show Clube da Esquina. “Menino do Rio, fui conhecer a casa da minha avó, na Ilha de Itaparica (Bahia). Meu pai colocou no aparelho de som o vinil Gal canta Caymmi para que ouvíssemos juntos. Aquilo ficou na minha memória”, conta Zé.
“Quando o Marcus Preto me chamou para cantar Meu bem meu mal, me pediu também que eu produzisse. Fui pensando como eu poderia e fui entrando em desespero, porque nenhuma ideia parecia interessante. Então, resolvi tentar algo que nunca tinha feito: gravar no piano. Gravei a voz guia para a Gal. Depois, o Marcus disse que ela havia adorado tudo, mas preferia eu cantando na região dela, nos agudos. Fiquei tenso, mas Gal manda e a gente aceita”, brinca o obediente cantor.
Com Rubel, Gal gravou Baby, um dos maiores clássicos de sua discografia. Os singles com Silva, Tim Bernardes, o uruguaio Jorge Drexler e o português Antonio Zambujo, por quem Gal sempre teve grande admiração, não foram lançados ainda.
Os primeiros
Nos dois primeiros singles do projeto, Gal teve a companhia de Rodrigo Amarante, em Avarandado; e de Zeca Veloso, em Nenhuma dor, ambas de Caetano Veloso — a última composta em parceria com Torquato Neto.
Em carta a Gal Costa, Amarante se declara: "Que alegria poder trabalhar com um ídolo como você. A tua voz é, para mim, o som de um sorriso, esse mistério sem segredos que é seu jeito de cantar, onda suave que passa leve, mas traz à tona tesouros das nossas profundezas. É presente inesgotável, uma escola, uma delícia. Obrigado, Gal, jamais imaginaria te servir. Sou pura gratidão."