'Live' do pianista Gabriel Oliveira terá audiodescrição

O convidado da série 'Allegro Vivace' vai tocar peças de Beethoven, Liszt e Bach. Pedro Ribeiro, que perdeu a visão em um acidente, aprova a experiência, pois ela permite interação com o artista

Joana Gontijo 24/11/2020 04:00
Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
O pianista Gabriel Oliveira diz que lives oferecem uma nova forma de interação com o público (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
O jovem pianista Gabriel Oliveira, de 24 anos, será a atração da terceira apresentação da Allegro Vivace, série de recitais de música erudita. Ele vai se apresentar nesta terça-feira (24), às 20h, no auditório na Rede Mater Dei de Saúde, em Belo Horizonte, com transmissão pela internet.

O início do caminho artístico de Gabriel foi aos 10 anos, quando ele experimentou o teclado. Aos 14, entrou para a escola de música e se interessou pelo piano. Desde o início, o garoto se dedicou ao repertório erudito, que, segundo ele, desperta diferentes emoções – da alegria à tristeza, do drama à nostalgia.

O programa desta noite será variado. Gabriel preparou cinco peças assinadas por Johann Sebastian Bach, Beethoven, Claude Debussy, Franz Liszt e Sergei Rachmaninoff. Não haverá aplausos, pois a plateia estará vazia devido à pandemia. Mas o pianista aprova o recital on-line. “É uma forma diferente de lidar com a plateia, que não está presente. Vou explicar sobre as composições, fazendo com que as pessoas possam conhecer melhor o repertório”, diz.

“Nossas apresentações podem ser ouvidas por qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo”, reforça Myrian Aubin, diretora artística e produtora da Allegro Vivace, ao comentar o formato das lives. A temporada de 2020 terá seis recitais – já se apresentaram o violonista Fábio Zanon e o Trio Concertante.

ACESSO

O projeto dedica atenção especial à acessibilidade, oferecendo o recurso da audiodescrição, ferramenta basicamente aplicada a deficientes visuais, mas também útil a outras plateias.

Ana Cláudia Xavier, responsável pela audiodescrição da série, explica que, no cinema, é comum que a faixa de áudio extra seja acrescentada ao filme, enquanto no teatro ela pode ser realizada ao vivo. Nesse caso, o audiodescritor fica em uma cabine, narrando o roteiro, ouvido por meio de fones distribuídos ao público.

A especialista diz que seu trabalho pode parecer simples, mas é desafiador. “Hoje em dia, a audiodescrição é regulamentada e estudada, mas tem sido feita informalmente desde sempre por familiares e educadores dos cegos. Com o avanço da luta pelos direitos humanos, abriu-se espaço para que ela fosse considerada de forma oficial, garantindo qualidade e a correta postura dos profissionais”, pontua.

A experiência na Allegro Vivace é muito rica, afirma Ana Cláudia. Neste caso, a audiodescrição narra a expressividade dos músicos enquanto tocam e como eles estão sentindo a melodia, entre outros aspectos.

“Descrevo a expressão do rosto, quando o músico fecha o olho, levanta a cabeça, os entreolhares, os gestos. São sutilezas. Procuro me colocar na perspectiva de quem não enxerga”, conta ela.

QUARTO

Em 2016, o piloto de avião Pedro Renan de Oliveira Ribeiro, de 28 anos, perdeu a visão em um acidente aéreo. Ficou internado durante seis meses no Mater Dei, onde tomou contato com a série Allegro Vivace, ouvindo do quarto as apresentações ao piano.

“Para mim, a música foi um conforto, um momento de fuga daquela realidade”, conta ele, agora espectador assíduo dos recitais. Pedro elogia a audiodescrição, que o ajuda a interagir melhor com a apresentação, entender o andamento do espetáculo. “Sei quando os músicos se sentam, quando se levantam, quando pegam o instrumento e até quando se entreolham”, explica.

GABRIEL OLIVEIRA
Piano. Concerto nesta terça-feira (24), às 20h, com transmissão ao vivo no YouTube (Recitais Allegro Vivace). Informações também no Instagram (@recitaisallegrovivace) e pelo e-mail myrianaubin@gmail.com.

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