Marcus Lopes canta o fim do amor no disco 'Por aí'

Compositor mineiro encara a tristeza nas nove faixas de seu novo álbum, que chega hoje às plataformas digitais. Com sensibilidade, repertório mescla melancolia e delicadeza

Guilherme Augusto* 19/11/2020 04:00
Gabriel Reis/divulgação
Marcus Lopes, cantor e compositor (foto: Gabriel Reis/divulgação)

Existem inúmeras formas de lidar com a separação. Deixar se levar pela tristeza é uma delas. Nesse caso, os artistas saem em vantagem: podem transformar a dor pessoal em algo universal como, por exemplo, a música. No álbum Por aí, que chega nesta quinta-feira (19) às plataformas digitais, o mineiro Marcus Lopes revisa suas perdas amorosas e mostra uma percepção poeticamente aguçada sobre o que elas significam.

“Quando esses relacionamentos acabaram, deixei partes de mim com as pessoas com quem namorei. E não só nas pessoas, também nos momentos e nos lugares. É por isso que o verso 'tem um pedaço meu por aí' abre e fecha o disco. O grande tema das músicas é esse”, explica o cantor e compositor.

ANTIGAS

Entre as nove faixas estão composições escritas há quase uma década e outras que coincidem com o lançamento do álbum de estreia, Despedida, em 2018. Na época, Marcus avaliou que elas não condiziam com o repertório daquele trabalho, mas já sabia que o material era suficiente para um próximo disco.

“As músicas não conversavam com a temática do álbum, mas naquele momento entendi que poderia fazer outro trabalho sobre um tema que juntasse essas outras canções. Por isso, a faixa mais antiga do novo disco foi composta em 2012. O repertório foi crescendo com o tempo. A produção do meu primeiro álbum foi meio problemática, então parti de um lugar de desconforto para criar o novo trabalho”, conta Marcus.

A gravação, realizada no estúdio Frango no Bafo, em BH, começou em 2019. Portanto, Por aí não é um disco que reflete sobre a pandemia, ainda que algumas canções possam ser interpretadas assim. Em Feliz ano novo, por exemplo, ele canta “te encontrar é proibido” e “feliz ano novo perdido”, frases que poderiam ter sido escritas em 2020, durante o isolamento social. No entanto, a letra remonta à separação vivida em 2013.

“A letra fala sobre o fim de um relacionamento com uma moça que foi morar longe por conta do Ciências sem Fronteiras. Ela ia se mudar em janeiro e nós passamos o ano-novo juntos, por isso digo que foi 'perdido'. Era uma época muito boa, mas ao mesmo tempo muito triste”, lembra.

Para ele, não há problema se as pessoas interpretarem a letra de acordo com o contexto atual. “É daquelas coisas que têm um significado para quem fez, mas quando ganha o mundo passam a significar outra coisa. Gosto dessa interpretação, não acho que seja forçada.”

Produzido Marcus, Henrique Matheus e Thiago Corrêa, integrantes da banda Transmissor, o disco traz arranjos minimalistas e ecoa o folk norte-americano. Por aí desenha um caminho bastante linear, cheio de letras confessionais, como é o caso de Tão maior, em que o autor parece se conformar com uma das separações que enfrentou.

Arranjos simples revelam canções delicadas como Imagino eu e Fosse som. Apesar de muito parecidas, Redemoinho e Podemos errar percorrem caminhos contrários. Enquanto a primeira ganha corpo com um riff de guitarra, a segunda cresce com a inserção de uma espécie de coro. O único detalhe que falta são vocais agudos, o que a voz afinada do músico deixa entender que é capaz de fazer.

Marcus brilha na sétima faixa, Por enquanto, cujo instrumental é marcado por piano, guitarra e trompete. A qualidade se mantém em Despedida, a única em que a bateria aparece.

“Minha intenção era criar uma atmosfera lo-fi, com menos cara de banda”, conta Marcus. Aos 29 anos, ele se divide entre a música e a publicidade. Para 2020, planejava dedicar atenção especial à carreira artística, o que teve que ser adiado por conta da pandemia.

“Como me considero mais compositor do que cantor, não cumpria agenda de shows. Mas tinha planos de fazer shows com esse disco. Perdemos completamente o norte de como e quando lançar, foi um tremendo banho de água fria. Mas em 2021 vamos poder retomar. Pelo menos é o que espero”, torce.

MELANCOLIA

Grata surpresa deste ano cheio de bons lançamentos na cena autoral de BH, Por aí está de acordo com a melancolia que paira sobre os discos de 2020, o que já virou traço geracional da cena mineira.

“Com tudo o que a gente vem vivendo nos últimos anos no Brasil, é natural que essa tristeza apareça. Mas, na real, minhas músicas sempre foram meio tristes, então podemos dizer que sou dessa geração meio desencantada”, confirma Marcus.

Uma geração que, apesar de tudo, tem produzido bons frutos.
Sentinela/divulgação
(foto: Sentinela/divulgação)

POR AÍ
• De Marcus Lopes
• Nove faixas
• Sentinela Discos
• Disponível nas plataformas digitais

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