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Anunciado poucos dias antes de chegar às plataformas digitais, o álbum Positions é mais uma prova de que Ariana Grande não para. O lançamento do registro, no último dia 30, marca o terceiro ano seguido em que a cantora norte-americana grava um álbum pop bem produzido, mantendo-se como uma das maiores pop stars em atividade. 

Diferentemente de seus trabalhos do início da carreira, focados numa linguagem de mercado, o sexto disco da cantora aprofunda algo que ela vem aprimorando nos últimos anos: a capacidade de falar abertamente sobre qualquer coisa.

Ariana começou a exercitar isso no álbum Sweetener (2018), o primeiro após o ataque terrorista que deixou 22 mortos na saída de um show que ela fez em Manchester, no Reino Unido, no ano anterior. No disco Thank u, next (2019), a cantora revisitou o fim de seu relacionamento com o noivo Pete Davidson e a morte de seu ex-namorado, o rapper Mac Miller (1992-2018).

Portanto, manter esqueletos no armário não é algo que a Ariana Grande de 2020 poderia fazer. A temática de seu novo disco é ainda mais íntima: o sexo.

Tudo isso foi feito às vésperas da eleição presidencial americana de 3 de novembro último, na qual Ariana declarou apoio ao candidato democrata Joe Biden, apesar de o estado em que ela nasceu, a Flórida, ter dado vitória ao republicano Donald Trump.

A odisseia sensual de Ariana continua em faixas como 34 %2b35, na qual ela versa sobre a posição sexual que é resultado da soma do título da música; e My hair, em que trata de puxões de cabelo.

Ainda que nove das 14 músicas de Positions tenham conteúdo sexualmente explícito, o disco também fala sobre vulnerabilidade e sentir-se confortável e confiante com um parceiro. Na emotiva Six thirty, por exemplo, ela canta sobre o medo de se entregar em uma relação.

Em Safety net, Ariana revela o medo de cair porque não há algo para ampará-la. Na música Obvious, ela está apaixonada e narra a rotina de um casal. Hoje, a cantora namora o corretor imobiliário Dalton Gomez.

Musicalmente, o disco não traz novidades. Seu som segue mesclando o trap com arranjos orquestrais, o que torna o trabalho interessante por unir universos tão distantes. O R&B está no jeito de cantar e no destaque dado a instrumentos de sopro e nos corais com um quê gospel.

Parcerias

Boas parcerias também marcam as produções. Depois de cantar com Lady Gaga (Rain on me) e com Justin Bieber (Stuck with u), Ariana Grande se une a nomes mais próximos de sua sonoridade.

A rapper Doja Cat, que ganhou projeção neste ano em razão do hit Say so, é a convidada de Motive. Já o canadense The Weekend comparece em Off the table, enquanto o rapper Ty Dolla $ign canta em Safety net.

Afastando-se, mais uma vez, da indústria que a criou, Ariana Grande parece não ter se preocupado em adicionar hits em Positions. Ainda que o álbum esteja bastante de acordo com os trabalhos anteriores da cantora, ele não oferece pérolas do pop como 7 rings, Break up with your girlfriend, I'm bored e No tears left to cry.

À primeira vista, isso parece um tiro no pé. Com o tempo, os fãs vão entender que Ariana está em processo de amadurecimento e isso requer erros e acertos.

Assim como Miley Cyrus, cria da Disney que chocou o público ao abordar temas sexuais em músicas e apresentações, Ariana Grande, aos 27 anos, parece estar se desvencilhando da imagem de garota ingênua de rabo de cavalo. E não é de hoje que isso vem acontecendo.

Ela, que começou na Nickelodeon, vislumbra temáticas adultas com a maturidade necessária. Resta descobrir se o seu séquito de fãs – no começo formado por adolescentes – vai conseguir acompanhá-la.

Apesar do pouco apelo, o single de estreia do disco iniciou no topo da Billboard Hot 100. A música teve 35,3 milhões de streams nos EUA e vendeu 34 mil cópias na semana que terminou em 29 de outubro, de acordo com Nielsen Music/MRC Data. Esse é o quinto lançamento que Ariana consegue emplacar no topo da parada, um recorde.

Os fãs vão demorar para assistir a uma performance da música ao vivo. Ariana anunciou que não pretende sair em turnê nos próximos dois anos.

''Não vejo isso como uma possibilidade, eu não me sinto segura e não quero colocar meus fãs em perigo. Não é seguro para as pessoas viajarem e ir a shows. Não é realista. Não sei por que as pessoas estão fingindo que as turnês delas vão acontecer. Elas estão adiando e eu penso: 'Ah, boa sorte!''', disse em entrevista ao Zach Sang Show, no YouTube.

Ariana também criticou tiktokers que exibiam suas saídas em lugares aglomerados, dizendo não entender por que não podiam aguardar a superação da pandemia do novo coronavírus para retomar atividades que não são essenciais. Os comentários provocaram reação de alguns dos grandes nomes da plataforma, que viram na declaração uma jogada de marketing, enquanto outros jovens influenciadores admitiram que era uma crítica válida. 

No mesmo programa, ela se mostrou apreensiva com a eleição presidencial nos Estados Unidos e disse que esperava ''sermos capazes de fazer a diferença e retomar o nosso poder este ano''. ''Temos que fazer isso neste país, onde somos governados por homens heterossexuais, brancos e antiquados.'' No último sábado (7), com o resultado que confirmou Joe Biden e Kamala Harris na Casa Branca, encerrando o ciclo de Donald Trump e Mike Pence, Ariana deve ter respirado um pouco mais aliviada. 

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