Com uma crítica debochada à desorientação das identidades masculinas tradicionais nos tempos atuais, Falo, novo single da banda belo-horizontina Djalma Não Entende de Política, chega nesta sexta-feira (16) às plataformas digitais. O lançamento é acompanhado por um videoclipe em animação dirigido pelos cineastas mineiros Sávio Leite e Denis Leroy. Essa é a terceira música do EP da deprê, com lançamento previsto para o fim do ano.
Em atividade desde 2011, o Djalma é formado por Drica Mitre (vocais), Carlos Bolívia (guitarras e outras cordas), André Albernaz (teclado), Carol Abreu (percussão), Terêncio de Oliveira (baixo) e Fernando "Feijão" Monteiro (bateria). Em 2014, o grupo fez sua estreia com o EP da deprê, composto por cinco faixas.
O segundo álbum, Apesar da crise, foi lançado no fim de 2016, graças à mobilização de mais de 200 pessoas em uma campanha de financiamento coletivo. Os dois trabalhos renderam reconhecimento ao grupo – fundador do gênero “hard sampa progressivo pós-wagneriano”, segundo eles –, que se tornou uma das promessas da cena independente local.
Carol Abreu, que além de ser percussionista também compõe, afirma que as novas faixas foram gravadas antes da pandemia do novo coronavírus, mas o nome do disco (EP da deprê) reflete uma questão anterior à quarentena. “A gente já vinha num decrescente no Brasil e no mundo. Quando veio a pandemia, achamos que era isso mesmo”, diz a mineira, de 33 anos.
Desde junho, o grupo vem lançando nas plataformas digitais videoclipes dirigidos por cineastas mineiros. O primeiro deles, Nos idos de 96, foi editado pelo músico Rodrigo Magalhães, baixista das bandas A Fase Rosa, Assanhado Quarteto e Sem Receita. O material foi produzido com os recursos da banda em padrão home office.
Em agosto foi lançado Canastra real, com direção de Gabriel Martins (No coração do mundo), da Filmes de Plástico. Falo e Antes do amanhecer (este com lançamento previsto para dezembro), projetos contemplados pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura.
“Foi muito bom. Como a gente conseguiu produzir tudo antes (da pandemia), temos um material aí na mão para lançar agora. Está sendo superlegal para dialogar com outras bandas e ter um retorno do público nesse período. Se deixasse para produzir agora, a gente ia passar um perrengue”, diz Carol.
Sobre a escolha de Sávio de Leite para dirigir o novo clipe, a percussionista diz: “A gente achou o trabalho dele maravilhoso, porque ele tem muito isso do deboche, da ironia. Vimos que casava com o espírito da banda e já estávamos a fim de fazer uma animação”.
CLIMA
Embora seja uma letra crítica, Falo procura fugir da “perspectiva ‘milituda’”, segundo Carol, e não ambiciona ser “uma música de protesto e tal”. O propósito da banda “é mais criar esse clima e deixar a interpretação mais aberta”.
O primeiro verso do single diz sobre uma espécie de homem “que já não há em qualquer lugar”. Questionada sobre quem seria essa raça, a artista frisa: “A gente está recriando essas identidades de gênero e tudo. Então, algumas afiliações a que os homens se agarravam antigamente já não fazem sentido hoje em dia”.
O roteiro do clipe, construído com a banda e os diretores, explora a sensualidade de plantas carnívoras e objetos nada convencionais, como uma “piranha” de cabelo. Além disso, diversas ferramentas cortantes (como guilhotina, canivete e faca) aparecem dialogando com bananas, pepinos, berinjelas e baguetes, cortados por uma senhora que prepara uma sopa. “Acho que é uma forma de desmontar, talvez, essa rigidez, essa virilidade, que está aí posta para essas identidades mais fixas”, diz a compositora.
A banda prepara uma live de lançamento de Falo para o próximo dia 25, às 16h, em um bate-papo com os diretores Sávio Leite e Denis Leroy, no Instagram (@djalmanaoentendedepolitica). O baterista Fernando “Feijão” Monteiro vai conduzir a conversa, com duração prevista de uma hora.
Neste fim de semana, a banda grava o clipe do single Quando amanhecer, com direção de Ana Carolina Soares (Estado itinerante). “A gente vai gravar morrendo de medo e cheio de protocolos de segurança, mas vai ficar muito legal”, afirma Carol.
*Estagiário sob supervisão da editora Silvana Arantes