A programação terá a estreia de três óperas, encomendadas pelo festival aos compositores Leonardo Martinelli, Eduardo Frigatti e Piero Schlochauer – em alguns casos, tendo a própria pandemia como mote das narrativas.
A parte instrumental será gravada pelos músicos da Amazonas Filarmônica no palco do Teatro Amazonas, em Manaus. Os cantores estarão em casa, orientados a distância por maestros e diretores de cena. Também haverá concertos e recitais de canto com artistas amazonenses.
A ópera é um dos gêneros mais impactados pelas regras de distanciamento que integram os protocolos de segurança sanitária preparados por instituições musicais de todo o país. Além da orquestra no fosso, onde a possibilidade de separação entre os músicos é menor, grandes espetáculos exigem cantores solistas e de corais. O Theatro Municipal de São Paulo, por exemplo, anunciou o cancelamento de toda a agenda lírica prevista para 2020.
“Ao longo do ano, começamos a nos perguntar sobre como seria possível fazer ópera, com todo aquele aparato no palco, dentro dessa nova realidade. Foi um trabalho intenso de planejamento, de compreender esse momento. Mais do que o desafio de recomeçar as atividades, a questão fundamental era como fazer isso sem prejudicar a saúde das pessoas”, diz o secretário de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, Marcos Apolo.
Foi então que começou a ganhar força a ideia de um festival feito de maneira remota, com transmissões pela internet. Resolvida a forma, era preciso pensar no conteúdo.
“Um ponto que me pareceu importante foi voltar o festival para o mercado brasileiro”, explica o diretor artístico Luiz Fernando Malheiro. “Cantores, diretores, enfim, toda uma cadeia produtiva da ópera sofreu muito com a paralisação das atividades em todo o Brasil. E o mesmo vale para os compositores.”
VOLTA
Em agosto, a Amazonas Filarmônica e outros corpos artísticos voltaram a se apresentar no Teatro Amazonas, com público reduzido. Os recitais reúnem poucos artistas no palco.
“São concertos semanais, como os que fazemos na temporada normal, mas com formações pequenas, de até nove artistas. Criamos um rodízio, de forma que todos os músicos da orquestra participem. Tenho certeza de que essa dedicação à música de câmara terá consequências na própria qualidade da orquestra quando tudo passar e for possível voltar a tocar em formações maiores”, diz Malheiro.
Toda a programação do festival será bancada por patrocínios privados. “O governo teve a sensibilidade, neste momento de pandemia, de preservar a estrutura da cultura no estado, sem diminuir equipes. Mas este é um momento delicado, de queda na arrecadação, que afeta diversos setores, e por conta disso é muito importante poder contar com o aporte privado para o festival”, explica Apolo.
TERMO
Manaus se tornou, nos últimos anos, centro de uma discussão sobre o universo da ópera no Brasil. Em 2020, reuniram-se na cidade, durante o festival, diretores e artistas de teatros de toda a América Latina, além de representantes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do governo federal, para assinatura do termo de colaboração para criar um corredor de produção de espetáculos operísticos.
Para este ano, estava prevista nova rodada de discussões sobre o gênero e a economia criativa. A pandemia adiou os planos de um encontro presencial, mas a necessidade do debate, acredita Apolo, segue mais importante.
“A cultura se mostrou necessária durante a pandemia, a arte fez parte do cotidiano das pessoas. Ao mesmo tempo, o Festival Amazonas também se tornou símbolo de como a cultura aqui no estado gera emprego, renda, movimenta a economia. Por meio do festival, temos conversado com outros locais do Brasil e com vários países, e isso atrai interesse para o Amazonas. A ideia de um corredor de produção é, nesta nova realidade, ainda muito importante. Vamos seguir trabalhando nesse sentido”, conclui Marcos Apolo.