Foi em em 1993, com o lançamento de seu primeiro álbum de estúdio, Pablo honey, que o Radiohead provou que tinha chegado para ficar no cenário da música. Quase 30 anos mais tarde, a banda britânica liderada por Tom Yorke tem um legado consolidado e segue influente, como provam as constantes reinterpretações de suas músicas.
Leia Mais
Cineastas franceses fazem carta de apoio à diretora de 'Lindinhas'Hot e Oreia lançam segundo álbum com músicas engajadasLonga sobre policial acusado de matar estudante estreia no streamingUm amor de vizinha é o filme da Sessão da tarde nesta quinta (17/9)Maurício Manieri recebe alta de UTI depois de sofrer infartoCantora e poeta, Arlo tem um currículo enxuto de dois EPs – Super sad generation e Angel's song, ambos lançados no ano passado –, além dos singles Eugene, Black dog e Hurt, liberados neste ano. Em abril passado, ela chamou a atenção ao fazer um cover de House of cards, do Radiohead, para a revista francesa Les Inrockuptibles.
Arlo citou a canção lançada pelo Radiohead no disco In rainbows (2007) como uma das responsáveis por mantê-la mentalmente sadia durante a quarentena. A artista também recomenda Ok computer, o terceiro álbum da banda, lançado em 1997, como trilha do confinamento.
Contrariando o recomendável pela cautela, Arlo Parks regravou a intocável Creep, música seminal do Radiohead, single anterior ao álbum de estreia e uma das mais difíceis de se reinterpretar, considerando-se que a versão original já é marcante o suficiente. Na sua versão, ela transformou a canção numa balada de um piano só, sem deixar de lado a abordagem à flor da pele que a original tem.
PIANO
Foi também ao piano que Arlo tocou Fake plastic trees, do disco The bends (1995). Dessa vez, no entanto, ela somente acompanhou a estadunidense Phoebe Bridgers em uma apresentação especial para a BBC Radio 1. Gravada numa igreja abandonada, em Londres, a performance também contou com a música Kyoto, do mais recente disco de Phoebe, Punisher, lançado em junho passado.
Outra britânica que encarou o desafio de dar nova abordagem para uma das músicas do grupo inglês foi Lianne La Havas. Revelação de 2012, quando estreou com o álbum Is your love big enough?, ela se apresentou no Brasil em 2016 como atração de abertura dos shows do Coldplay no Rio de Janeiro e em São Paulo. Naquela época, Lianne colhia os louros do disco Blood (2015).
Em julho passado, ela lançou o disco que leva seu nome e, além de trazer as faixas Courage e Sour flower, inspiradas em Milton Nascimento e no Clube da Esquina, conta com uma cover de Weird fishes.
A nova versão, com pegada soul, consegue transmitir o clima melancólico da original e oferece uma característica que não se imaginava combinada a uma faixa do Radiohead: é mais angelical do que a atmosfera fantasmagórica que Thom Yorke imprime à sua interpretação. Destaque para a voz da cantora, que conduz o ouvinte por um caminho iluminado e marcado pela liberdade que só o jazz permite.
''Tive uma experiência maravilhosa gravando essa música'', disse Lianne, em texto de divulgação do disco. Ela explicou que a sessão de Weird fishes norteou toda a gravação. ''Foi aí que eu decidi: o resto do álbum precisa ser assim. Tem que ser minha banda, e eu tenho que fazer isso em Londres.''
A original, do já citado In rainbows, na verdade se chama Weird fishes/Arpegg. Ao primeiro nome atribui-se a letra, e ao segundo, o instrumental.
Curiosamente, Arpeggi não foi totalmente esquecida e ganhou uma nova versão pelas mãos de Kelly Lee Owens. A música é a que abre o recém-lançado Inner song, segundo disco da produtora de música eletrônica.
“In rainbows é um dos meus álbuns favoritos. Ele mistura perfeitamente a música indie e eletrônica, o que não é fácil de se fazer bem”, afirmou Kelly Lee em entrevista à Pitchfork. “Eu ainda o ouço periodicamente e sempre descubro algo novo. O que amo no Radiohead é que eles não têm medo de ser melancólicos e mostrar suas emoções, e isso afasta muitas pessoas. Mas estou interessada em não ter medo de ir a esses lugares.”
Na mesma entrevista, ela confessou que chegou a considerar o cover uma ''blasfêmia'', já que a nova versão é feita somente com sintetizadores, diferentemente da original. ''Admito, tentei cantar e, claramente, achei que seria uma decisão ruim. Mas tive que gravar o vocal para saber que isso definitivamente nunca iria funcionar.''
O disco é um dos destaques deste segundo semestre. Minimalista e com uma temática bem definida, o trabalho passeia por uma gama de estilos e ritmos comuns em gêneros, como a música pop (caso da faixa L.I.N.E.) e o indie (na colaboração Corner of my sky, parceria com John Cale, do Velvet Underground). Isso sem deixar de lado um quesito importantíssimo: a originalidade. O que deixaria até o exigente Thom Yorke bastante orgulhoso.
COLETÂNEA
Lançada no 10º aniversário do disco In rainbows, ou seja, em 2017, a coletânea BR Rainbows traz reinterpretações do álbum feitas por artistas brasileiros. Reunidos pelo cantor, compositor e produtor Kelton Gomes, os covers foram feitos por bandas como Bratislava e Peartree, de São Paulo; Tuyo, do Paraná; e Supercolisor, do Amazonas.
GAROTAS NACIONAIS
Confira os covers de cantoras brasileiras para canções da banda britânica
Creep, por Bebel Gilberto
Dos vários covers que compõem o EP ao vivo Live at the Belly Up (2017), o de Creep talvez seja o mais incomum. Mas Bebel Gilberto foi esperta. No meio de músicas já conhecidas de seu repertório, como So nice e Preciso dizer que te amo, ela colocou a improvável canção do Radiohead, que ganhou ares de bossa nova e emocionou a crítica internacional.
Fake plastic trees, por Letrux
Disponível somente no YouTube, o cover da singular cantora carioca Letícia Novaes, que também atende pelo nome Letrux, é de Fake plastic trees. A releitura vai um pouco além e é, na verdade, uma tradução literal da letra do inglês para o português. Portanto, o título vira Árvores falsas de plástico. Infame, mas divertida, a versão ganha ares de seriedade por conta do piano de Thiago Vivas e o vibrafone de Lourenço Vasconcellos.