Tatá Werneck e Marcelo Adnet premiam Minas em festival de paródia

Comediantes presidiram júri do Hoje Eu Vou Parodiar, vencido por 'Votei pra presidente errado', de Vitor Velloso e Matheus Brant

Guilherme Augusto 15/09/2020 04:00
Jorge Bispo/Divulgação
(foto: Jorge Bispo/Divulgação)
A música Votei pra presidente errado, composta pelos mineiros Vitor Velloso e Matheus Brant, venceu a primeira edição do festival nacional de paródias Hoje Eu Vou Parodiar. A versão, feita com base na música Me apaixonei pela pessoa errada, do extinto grupo de pagode Exaltasamba, rendeu aos músicos um prêmio de R$ 2 mil. 

Em segundo lugar, com o prêmio de R$ 1,5 mil, ficou Gripezinha, de Sandro Dornelles, versão para Teresinha, de Chico Buarque. MeTÉDIO, de André Locatelli e Márcio Machado, baseada em Metade, de Adriana Calcanhotto, levou o terceiro lugar e um prêmio de R$ 1 mil.

''Uma honra enorme participar desse concurso e maior ainda vencê-lo, cheio de gente tão legal, um júri fantástico, num momento em que este tipo de iniciativa é importante'', comemorou Vitor Velloso. 

COMENTÁRIO 

Integrante da Orquestra Royal, o cantor e compositor ressaltou a importância da paródia como forma de fazer um comentário sobre a realidade. ''Esse tipo de música sempre promove o debate e a reflexão. A paródia é muito acessível, todo mundo pode cantar uma música com uma letra involuntariamente ou fazer uma nova versão'', explica.

Para Matheus Brant, a vitória é o reconhecimento de um trabalho que começou a ganhar notoriedade em 2014. ''Naquele ano, quando o Vitão [Vitor Velloso] ganhou o primeiro lugar com Pó royal e eu o terceiro, com Carnaval, no Concurso de Marchinhas Mestre Jonas, a coisa foi tomando corpo. O resultado disso é o que vemos agora: a paródia sendo nacionalmente vencedora'', diz.

Criado pelo compositor carioca Edu Krieger, roteirista de programas como Zorra e Tá no ar: a TV na TV, ambos da Globo, em parceria com a empresária e produtora cultural Danusa Carvalho, o Hoje Eu Vou Parodiar nasceu com o objetivo de distribuir recursos para ajudar profissionais da cultura que ficaram financeiramente desamparados em razão da pandemia da COVID-19. 

Além disso, o valor das inscrições foi revertido para a compra e distribuição de cestas básicas, incluindo kits de higiene e limpeza, entregues pela Associação Cultural Arebeldia, em BH e no Rio de Janeiro.

''É um prazer ter realizado o primeiro festival de paródia do Brasil. Quando eu tive a ideia e coloquei o Edu em um grupo cultural do WhatsApp, fiquei feliz que ele topou e aceitou. Estou satisfeita duas vezes: primeiro, porque realizei o festival: e, em segundo, porque o prêmio veio para BH'', afirma Danusa.

Para Edu, não é surpresa que o prêmio principal tenha ficado entre artistas mineiros. ''A cidade tem uma tradição na arte de unir humor e política. O Vitor e o Matheus fizeram uma paródia perfeita, crítica e, ao mesmo tempo, engraçada, com rigor na estrutura de rima e métrica e mereceram demais o título de campeões.''

Ao todo, o festival recebeu 574 inscrições de várias partes do Brasil. Críticas à política, ao cotidiano da quarentena, a questões contraditórias da atualidade e a desconstrução dos olhares machistas, homofóbicos e racistas foram bem vistos pelo júri, presidido pelos humoristas Marcelo Adnet e Tatá Werneck, e integrado por Edu Krieger, João Cavalcanti, Julia Rabello, Késia Estácio, Leonardo Lanna, Marco Gonçalves, Marcos Frederico, Maria Bopp, Renata Corrêa, Thiago de Souza e Vicente Coelho.

Votei pra presidente errado, por exemplo, narra, sem dizer explicitamente, um mea-culpa hipotético por parte de um eleitor arrependido do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). ''Acho que votei pra presidente errado/ Ninguém sabe o quanto eu me arrependo/ Quando vi os posts que fiz no passado/ Morro de vergonha, tá me constrangendo'', diz o refrão.

Já Gripezinha, expressão utilizada pelo mesmo Bolsonaro para definir a COVID-19 antes de a doença se espalhar pelo país, ironiza o jogo das cadeiras no comando do Ministério da Saúde. ''Não quis ser um pau-mandado/ Foi na Globo, falastrão/ Mas que Mandetta que nada/ Só eu posso ser pavão'', canta Sandro Dornelles, em alusão à passagem de Luiz Henrique Mandetta pela pasta, entre janeiro de 2019 e abril de 2020.

MeTÉDIO, por sua vez, descreve o marasmo dos dias em casa durante a quarentena. ''Não tô bem não, trancado nessa casa/ Eu tô a perigo, saudade da balada/ Eu tento ioga, mas durmo no fim/ Vejo TV aberta, não tá mole não pra mim'', cantam André Locatelli e Márcio Machado.

As 10 paródias finalistas, que incluem versões para Índios, da Legião Urbana;  Superfantástico, do Balão Mágico; e até Halo, de Beyoncé, estão disponíveis para audição no site do festival: hojeeuvoupadoriar.com.br.

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PRIMEIRO LUGAR

Confira a letra da paródia vencedora 
 
Votei pra presidente errado 
De Vitor Velloso e Matheus Brant
 
Eu não tenho culpa de estar repensando
Ficam me lembrando disso toda hora  
Eu votei em você. Odiava o PT
Igual o Witzel e o Doria
Você dificulta tá te defendendo
Até seus ministros tão pulando fora
O Carluxo é lesado e eu tô desconfiado
Que o Flávio rouba pra você
O Moro, a Joice, o Frota e até o Olavo te escrachou
Eu fui feito de idiota
Compartilhei tweet de robô
 
Acho que eu votei pra presidente errado
Ninguém sabe o quanto que eu me arrependo
Quando vejo os posts que fiz no passado
Morro de vergonha tá me constrangendo
 
Acho que eu votei pra presidente errado
Além de vergonha tô sentindo medo
Sempre que alguém vem me chamar de gado
Falo que o meu voto foi no Amoêdo
 
Votei no Mito, se desse ao menos pra trocar,
Eu punha qualquer outro em seu lugar

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