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MÚSICA CLÁSSICA

Prodígio chinês do piano lança álbum-remédio para tempos de pandemia

Após quase três décadas de esforços, Lang Lang, o astro mundial do piano, lançou na última sexta-feira (4) sua versão das Variações Goldberg, uma "composição maravilhosa" para "remediar" a insanidade da era COVID.



Para enfrentar o monumento representado pelas Variações uma das peças mais difíceis do repertório pianístico, por sua grande variedade de estilos, Lang Lang se aproveitou de seu passado de criança prodígio.

"Toquei muito Bach quando era pequeno", lembra, apoiado em um Steinway, em um grande hotel em Pequim. Lang Lang já tocava as 30 Variações "aos 10 anos" e as sabia de cor sete anos mais tarde. "Memorizá-las não foi tão difícil, porque comecei cedo", comenta. Mas daí a ousar gravá-las...

"Levei 27 anos para estar preparado", diz, rindo. "Nunca trabalhei em uma peça por tanto tempo." É que técnica é uma coisa, mas apropriar-se da música, torná-la sua, é outra. "Esperei anos para conhecer melhor a peça. Quando comecei a gravá-la, morria de medo e gravava outra coisa. Se eu não sinto que uma obra se torna parte de mim, se eu não a entendo completamente, não me sinto confortável em gravá-la."



O álbum, distribuído pela Deutsche Grammophon é composto de duas partes. Uma versão de estúdio e uma versão de concerto, gravada em março passado, na Igreja de St. Thomas em Leipzig, feudo de Johann Sebastian Bach, onde o compositor alemão está sepultado. Duração recorde do concerto (tocado sem partitura, é claro): 95 minutos.

Nascido em Shenyang (Nordeste da China) em 1982, Lang Lang fez seu nome com os grandes compositores românticos. Mas, para ele, Bach (1685-1750) é o mais adequado para o nosso tempo, abalado pela epidemia do coronavírus.

REMÉDIO

"A música é um bom remédio nestes tempos particulares. Bach, comparado a outros grandes compositores, tem um poder de cura ainda maior", afirma. Lang Lang conta que durante a pandemia, voltou a estudar “algumas das grandes peças românticas que não tocava há algum tempo: Rachmaninov, Tchaikovsky” e conclui: “Minhas mãos não ficaram geladas".



Ele não revela o valor do seguro por suas mãos. "É ridículo, muito caro", diz. "Aquilo de que mais sinto falta são os palcos", comenta o pianista, que fazia pelo menos 90 concertos por ano, em todo o mundo. Neste 2020, teve que cancelar mais de 70 apresentações. "Espero a vacina, para tomar e viajar."


O menino que ensaiava entre seis e 10 horas por dia hoje não toca piano por mais de duas horas, e o divide com sua esposa, a pianista alemã Gina Redlinger. O casal celebrou seu casamento no ano passado, no Palácio de Versalhes, e comprou uma casa em Paris.

"Amo essa cidade. Pode não ser a mais importante para a música clássica, em comparação com Berlim ou Viena, mas Paris tem um sentido artístico maior", afirma. "Um dia, estava tocando Chopin olhando para sua casa na Place de Vendôme e disse a mim mesmo: é aqui que ele compôs algumas músicas, é o mesmo ambiente, a mesma lua...", conta.



Lang Lang, como milhões de crianças chinesas, foi pressionado pelos pais para se tornar um ás do piano. Agora, promete não repetir a experiência com os filhos. Embora possa acabar fazendo isso... "Se ele ou ela quiser ser pianista, vai ter que trabalhar duro. Não sei se vou forçá-los a fazer isso ou não. Não quero briga", diz. 

Mas fora de cogitação que toquem outro instrumento. "Eu também gosto de violino, mas o piano é o melhor que há." Comparado a atletas de alto nível, o artista diz que tem sorte de ainda estar longe da aposentadoria: "Quando vejo (o italiano Maurizio) Pollini (de 78 anos) ou (o argentino Daniel) Barenboim (de 77), que continuam tocando... Sou só um bebê!"