Luiza Brina lança 'Deriva', com canções para o mundo pós-pandemia

Cantora e compositora mineira diz que seu EP é 'garrafa lançada ao mar', com mensagens para o futuro

Estado de Minas 03/09/2020 04:00
Julianna Sá/divulgação
A cantora e compositora Luiza Brina diz que seu novo trabalho é um alento para este momento de %u201Cpânico%u201D (foto: Julianna Sá/divulgação)
Antes da pandemia, quando tinha a expectativa de cumprir sua agenda de shows, Luiza Brina não planejava lançar músicas inéditas em 2020. Afinal, em agosto do ano passado ela mandou para as plataformas digitais seu terceiro disco de estúdio, Tenho saudade mas já passou (Matraca/YB Music), cujas canções integrariam o repertório das apresentações. Mas veio o coronavírus e a artista mineira recalculou a própria rota.

Confinada em São Paulo, onde mora atualmente, Luiza teve a ideia de transformar a quarentena num momento de reflexão produtiva. Ao criar temas instrumentais no violão, ela convidou amigos letristas para compor canções com mensagem bastante específica.

“A proposta era que eles escrevessem pensando que a música seria uma espécie de garrafa lançada ao mar falando sobre desejos e expectativas para o futuro, o momento posterior à pandemia”, conta Luiza.

O resultado está no EP independente Deriva, que chega nesta quinta-feira (3) às plataformas digitais. Feito em casa, o trabalho marca a estreia de Luiza Brina como produtora musical e é a prova cabal de que ela é multiartista, pois assumiu todos os instrumentos: guitarras, violões, baixo, teclado e percussões.

Maglore

Gravado a distância, o disco promove preciosas parcerias, como a delicada Quando isso passar, escrita pelo músico baiano Teago Oliveira, da banda Maglore. A letra versa sobre desejos restringidos pela pandemia da COVID-19: “Encher as calçadas feito revoada, brincar no infinito/ Dançar no mistério, te amar para sempre, quando isso passar.”

A faixa seguinte, Oração 12, Luiza divide com a baiana Josyara, que gravou o segundo violão. “Essa canção nasceu no ano passado, mas foi concluída durante a pandemia. Apesar de não ter sido pensada no contexto deste projeto, ela se relaciona muito com o que estamos vivendo, pois fala sobre o silêncio”, comenta.

Luiza começou a criar as “orações” depois de crises de pânico a impedirem de sair de casa, anos atrás. “Era uma forma de usar a canção como suporte para me mover daquele lugar. Fiz a primeira sozinha, a segunda com a Julia Branco e a terceira com o Vovô Bebê. Depois gravei mais uma, a Oração 11, que compus com a Brisa Marques”, revela Luiza.

A música se soma à série que a compositora vem lançando em seus álbuns – há três delas em seu segundo disco, Tão tá (2017), e a quarta faz parte de Tenho saudade mas já passou.

SÉRIE

O músico paraense Arthur Nogueira – que na quarentena lançou uma série de cinco singles e produziu o disco Só (2020), de Adriana Calcanhotto – canta em Súbita canção. Para Luiza, essa faixa reitera a importância da música num período obscuro como o atual.

“Há muito tempo acompanho o trabalho do Arthur e já suspeitava que a gente tivesse uma grande afinidade. A letra que ele escreveu fala sobre nosso amor por aquilo que a canção traz, mesmo neste momento de pânico”, comenta.

A faixa seguinte, Butterfly, que ela divide com a mineira Julia Branco, é a única cantada em inglês e sela a amizade das duas.

Já em Garrafa ao mar, a faixa final, parceria com Chico Bernardes (irmão de Tim, da banda O Terno, e filho do músico Maurício Pereira), Luiza descreve justamente o ato enunciado pelo título, algo também traduzido na capa do disco, em ilustração feita pela artista mineira Sara Lana.

TROCA

“Gosto muito de trabalhar coletivamente. Essa coisa de ter muitos parceiros, poder me inspirar por eles, alimenta o meu trabalho como artista. Gosto muito dessa troca com as pessoas. Convidei, eles toparam e foi supergostoso criar a conexão com artistas que admiro muito. A distância proporciona um outro tipo de ligação, é legal que a gente possa trocar dessa maneira”, afirma.

Apesar do tom otimista das faixas do EP, Luiza Brina confessa que pode ser bem pessimista, algo que essa geminiana atribui à astrologia. “Tenho o desejo de meu disco ser um alento para este momento. É um exercício de imaginação para o que pode ser o futuro”, pontua.

Prestes a embarcar para uma temporada em BH, ela tem a esperança de que o mundo pós-pandemia seja um lugar mais esclarecido. “Precisamos entender que estávamos vivendo com excessos. Espero que a gente 'volte' de outra maneira”, conclui.

DERIVA
De Luiza Brina
Cinco faixas
Independente
Disponível nas plataformas digitais

MAIS SOBRE MUSICA