The Killers lançam sexto álbum, considerado decepcionante, e eles já prometem outro

Banda acaba de divulgar 'Imploding the mirage' e anuncia que um novo trabalho chegará em 10 meses

Guilherme Augusto 27/08/2020 07:07
Olivia Bee/Divulgação
Banda americana adiou o lançamento do disco, inicialmente previsto para maio passado, por causa da pandemia do novo coronavírus (foto: Olivia Bee/Divulgação)
Quando surgiu, na primeira metade dos anos 2000, a banda The Killers fazia muito sentido. O quarteto formado em Las Vegas (EUA) debutou com o álbum Hot fuss (2004), recheado de músicas que capturavam a nostalgia e o glamour do novo milênio, embaladas pelos vocais à la Freddie Mercury (1946-1991) do vocalista Brandon Flowers.

Conforme a carreira da banda progrediu, seu papel na música alternativa tornou-se menos claro. A sonoridade pós-punk-new-wave e a estética visual que une, num só universo, jaquetas de couro e ternos brancos perdeu relevância na cena musical, que evoluiu amplamente

Nesse cenário, seu sexto registro de estúdio, Imploding the mirage (Island Records/Universal), lançado na última sexta-feira (21), parece feito por uma banda que ainda luta para encontrar sua própria identidade.

Em certo sentido, o trabalho leva os Killers em nova direção. Primeiro projeto após a saída do guitarrista e cofundador Dave Keuning – que alegou ''frustração criativa'' após o lançamento de Wonderful wonderful (2017) –, o disco conta com a colaboração do produtor Shawn Everett (conhecido por seu trabalho com o músico Beck e a banda The War on Drugs) e de Jonathan Rado, metade da dupla indie Foxygen.

PARCERIAS

Pouco acostumada a colaborações, a banda acionou uma preciosa lista de contatos para determinadas faixas do trabalho. Caution, o single promocional, tem a guitarra de Lindsey Buckinham, do Fleetwood Mac, e Lightning fields ganha muito com a voz da canadense K. D. Lang. Em outros momentos, quem assume a guitarra é Adam Granduciel, do já citado The War on Drugs.

A cantora californiana Natalie Mering, que usa o nome artístico Weyes Blood, é a convidada de My god. A música remete ao início da carreira do The Killers, quando as músicas começavam com um instrumental reduzido e ganhavam corpo para, mais tarde, explodir. O refrão traz os bem-vindos backing vocals de Jess Wolfe e Holly Laessig, do grupo de indie pop Lucius. O arranjo barroco lembra a abordagem da banda canadense Arcade Fire.

Embora melodias instrumentais deem uma atmosfera suave a faixas como Dying breed e Running towards a place, elas também diluem o propósito já limitado de Imploding the mirage, porque parecem não pertencer ao universo do disco – e, talvez por isso, possam ser consideradas os destaques (feliz ou infelizmente).

The Killers fez mais de 100 shows ao vivo por ano desde 2008. É óbvio que eles escrevem já pensando nesse público. Infelizmente, a fórmula adotada para animar a plateia de um show pode se tornar exaustiva dentro de um disco. Imploding the mirage perde força quando essas sonoridades grandiosas se chocam.

FESTIVAIS

Carregada pelo vocal apaixonado de Brandon Flowers, Lightning fields, por exemplo, é uma aposta certeira para reverberar na multidão em grandes festivais nos quais a banda costumava se apresentar. No álbum, a faixa representa um dos pontos baixos. Ela é procedida por Fire in bone, cuja linearidade soa destoante no trabalho de uma banda que sabe produzir canções sinuosas.

Originalmente previsto para maio e adiado em virtude da pandemia do novo coronavírus, Imploding the mirage não prejudica a imagem de sucesso que The Killers construiu desde que emplacou hits como Mr. brightside, When you were young e a infame Human. Ainda assim, o trabalho peca pela falta de personalidade e carece da originalidade que marcou o início da carreira do grupo.

Talvez prevendo que o disco terá uma recepção morna – e já considerando o adiamento da turnê para 2021 –, Brandon Flowers afirmou que, durante a gravação, a banda foi acometida por uma onda criativa tão grande que já tem material para um próximo disco.

“Toda vez que alguém grava um disco, eles dizem que eles têm 50 músicas e vão lançar outro disco. Nós realmente vamos”, afirmou à NME. “Vamos lançar outro em cerca de 10 meses. Nós já voltamos ao estúdio. Eu tinha muito tempo em mãos. Antes, eu normalmente estaria me arrumando para sair em turnê, agora todo esse tempo foi investido de volta em fazer mais músicas. Tem sido muito frutífero.”

Resta saber se esse novo material percorrerá o mesmo caminho do disco atual ou se a banda irá pegar alguns atalhos para, finalmente, se encontrar.

IMPLODING THE MIRAGE
The Killers
Island Records/Universal
Disponível nas plataformas digitais

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