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SHOW VIRTUAL

Pitty faz 'luau' nesta sexta para comemorar aniversário de 'Anacrônico'

“É claro que somos as mesmas pessoas/Mas pare e perceba como o seu dia a dia mudou/Mudaram os horários, hábitos, lugares”, cantava Pitty, em altíssima rotação, nos idos de 2005, em Anacrônico, faixa-título de seu segundo álbum.



Pois como de anacrônica a letra não tem nada, mais parece uma descrição do que estamos passando nos últimos cinco meses, a canção ressurge agora, nova em folha, em uma gravação (remota, claro) que uniu a cantora soteropolitana Priscilla Novaes Leone, de 42 anos, à sua conterrânea (de Juazeiro) Josyara Lélis, de 28.

É com uma versão mais acústica, baseada nos violões, com Josyara fazendo a primeira voz, e Pitty apenas a “perfumaria”, como ela mesma diz, que o single Anacrônico antecipou as comemorações dos 15 anos de lançamento do álbum. Nesta sexta (21), o disco ganha relançamento pela Deck. 

Além de as 13 faixas originais terem sido remasterizadas, o disco leva três bônus para as plataformas digitais: O muro, primeira gravação de Martin Mendonça como guitarrista de sua banda; Seu mestre mandou, em sua gravação original; e uma demo de Déja vù, um dos hits de Pitty.



O último show da cantora foi no fim de fevereiro passado, no carnaval do Recife. Sem possibilidade de voltar aos palcos tão cedo, ela investiu (como todos) no ambiente digital. Mas vem se sobressaindo na forma. 


Criou no Twitch, rede social voltada principalmente para a transmissão de games, seu próprio canal de TV. Montou uma equipe para produzir o conteúdo especificamente para a plataforma. Nesta noite, ela faz no Twitch um luau – leia-se uma live em formato voz e violão – de Anacrônico. 

Pitty pouco tem saído de sua casa, em São Paulo. É de lá, onde tem que dividir seu tempo com a filha Madalena, que ela também participa semanalmente do programa Saia justa, do GNT. Compõe uma coisa e outra, mas tem, principalmente, se dedicado ao audiovisual. Já fez dois clipes em casa e produziu uma série para o Instagram.

“Mude a sua cabeça, viva outras coisas, a gente tem que deixar o novo chegar”, afirma ela na entrevista a seguir ao Estado de Minas.

O que significa olhar mais atentamente para um trabalho realizado 15 anos atrás?
O que rolou foi meio por acaso, não foi uma coisa tão racional. Nós nos lembramos de que o Anacrônico estava fazendo 15 anos e como é uma data fechada, de debutante, resolvemos fazer alguma coisa para comemorar. Desde o começo do ano, o Rafael Ramos, produtor (e dono da Deck, gravadora de Pitty) estava catalogando tudo o que havia feito, gravações não lançadas. Com a pandemia, pensamos que esse seria um jeito de comemorar com coisas inéditas, não seria só uma remasterização do álbum. Sempre gosto de marcar as datas de um disco, acho que issa traz outro olhar para a gente.



O que você faria igual e o que faria diferente, caso fizesse Anacrônico hoje?
Tenho escutado muito o disco para poder tirar algumas músicas para o luau. O que já me encantava antes são as letras atemporais. A própria letra de Anacrônico vem chamando a atenção, muita gente na internet pegando a música para falar do momento de agora. Acho que os temas dialogam com os tempos de hoje, pois falam sobre liberdade de expressão, feminismo. A única coisa que achei curiosa é que a gente tocava muito rápido. A velocidade mudou. Quanto mais maduros, mais pacientes ficamos.

Você conversa não só com a sua geração, que cresceu ouvindo Anacrônico, como também com a que veio depois.
Tenho conexão com um pensamento mais fluido, mais aberto, com pessoas de qualquer idade. É um olhar de respeito para com as pessoas. Não é aceitável que se trate mulher de forma desigual, não é aceitável que se seja racista, não é aceitável que se julgue alguém por sua orientação sexual. Acho que a juventude de agora está mais alinhada com isso. O meu pensamento não mudou, talvez agora ele esteja mais conectado com a música que fiz há 15, 20 anos.

E o encontro com Josyara para a gravação da nova versão de Anacrônico, como se deu?
Ela é uma artista baiana superoriginal e me contou a história dela, de que a primeira vez em que subiu num palco, aos 14 anos, foi tocando as músicas desse disco. Ela vem fazendo umas releituras no Instagram e postou um trechinho. Achei a coisa mais linda ela tocando do jeito dela. (Para a gravação) Nossa comunicação foi toda virtual, nunca nos encontramos. Só uma vez, no ano passado, em um evento, mas foi só um “oi”. A nova versão é dela, eu só entrei com a perfumaria, um pianinho, percussão, sou coadjuvante no processo.





Ainda que você marque presença em várias redes sociais, o Twitch virou o seu canal principal. Por quê?
Sempre gostei de tecnologia e, com a pandemia, eu parada no auge da turnê de Matriz, pensei em como escoar a produção. Vi muitos amigos migrando para o Twitch por causa das ferramentas que ele oferece devido aos games. Desde abril ou maio estou lá e vi como você cria uma comunidade, sua própria audiência (hoje, o canal de Pitty tem 35,6 mil seguidores). É mais do que uma rede social para postar. Criei uma web TV, com meu próprio leiaute. Hoje tenho uma equipe para criar cada programa. Estou funcionando como um canal, só que na web, com foco em cultura.

Sobre as lives: tem gente que acha que é como chupar bala com papel. Qual a sua opinião sobre as transmissões ao vivo de apresentações musicais?
Live, para mim, significa possibilidade de comunicação com o que temos agora. Lá atrás (no início da pandemia), quando a gente não imaginava o que viria, teve o boom das lives musicais, uma overdose, em que ninguém sabia fazer direito. Agora, artistas e audiência perceberam que esse é o jeito que se tem neste momento. O importante é ser criativo e oferecer uma produção de qualidade e de respeito com o público. Não quis fazer antes por conta do distanciamento social, não parecia aceitável colocar minha banda toda dentro de um estúdio em época de isolamento total. Estamos pensando em novas possibilidades. Até agora não fiz nada com banda, só vídeos gravados a distância, cada um na sua casa.  

Os shows no formato drive-in são uma opção para você?
Estamos em uma época em que não devemos ter um pensamento não reacionário em relação a tudo. Sempre combato esse tipo de pensamento “não conheço e não presta”. Então eu fui para ver se gostava ou não. Vi um show do (Marcelo) D2 e foi superbonito, legal. A experiência foi ótima, mas não é a mesma coisa. E não é para ser mesmo. Mude a sua cabeça, viva outras coisas, a gente tem que deixar o novo chegar. Vou lá, vejo, sinto, em vez de ficar em casa sentada. Já houve possibilidades de a gente fazer, mas estamos estudando. A mecânica é complicada, é muito caro, o custo não fecha. 

Como está sendo a experiência de fazer o Saia justa dentro de casa?
É uma coisa que a gente está aprendendo a cada semana, pois a dinâmica de quatro mulheres conversando remotamente é diferente. Não dá para ver a reação da outra tão imediatamente, é um tempo novo. Mas hoje estamos bem mais confortáveis. Os últimos programas fluíram bem.



E como você está lidando com criança em casa durante cinco meses?
É uma bagunça, ainda mais porque a Madalena está com 4 anos. A energia é total, ela quer fazer coisas o dia inteiro. Agora, com a flexibilização, estamos tentando retomar algumas coisas. A Madalena ficou mais de quatro meses sem ver outra criança, foi muito difícil, mas realmente cumprimos a quarentena. Então relaxamos. Aqui em casa é tudo brinquedo.

ANACRÔNICO (DELUXE EDITION)
• Deck, 16 faixas. Lançamento nesta sexta (21) nas plataformas digitais.
LUAU ANACRÔNICO
• Nesta sexta (21), às 22h, no Twitch 
(twitch.tv/pitty), live acústica com Pitty