Nascido no México e radicado no Brasil, o músico Sebastián Piracés-Ugarte, integrante da banda Francisco, el Hombre, foi criado por pai chileno e mãe mexicana. O casal sempre tinha à mão um exemplar do livro Sidarta, de Hermann Hesse (1877-1962), que exalta a busca pela sabedoria. Os dois, no entanto, divergiam sobre os meios de alcançá-la. Ele, um “velho comunista” – nas palavras do filho –, acreditava na transformação coletiva como forma de mudar o mundo. Ela, “riponga”, julgava que a mudança era interior, deveria partir de dentro, do indivíduo.
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Ao longo das 12 faixas, a sonoridade vai do reggaeton ao punk rock. As letras falam de amor, sexo e política, além de misturar versos em português e espanhol, como já ocorre em trabalhos da Francisco, el Hombre.
“Desde 2013 a gente vive colado um no outro, então nosso desenvolvimento pessoal é interdependente. No ano passado, a gente começou a perceber que se cada um pudesse explorar sua potência individual, poderíamos melhorar enquanto coletivo”, conta Sebastían, negando qualquer boato de que o grupo estaria em processo de dissolução.
Banda
“Ao mesmo tempo em que cada um lança projetos solo, a Francisco está sempre se reunindo. Para viver em coletividade, é preciso entender qual é o seu papel individual”, completa o músico, referindo-se aos colegas de banda Mateo Piracés-Ugarte, Juliana Strassacapa e Andrei Martinez.
Apesar de ser voo solo, Sebastianismos conta com a participação de Russo Passapusso em Kontrasistema, Malfeitona na canção Ai meu coração e Jaloo em Calma, faixa produzida por Lucas Silveira, da banda Fresno, que também trabalhou em Sexo de manhã e Fudeu.
Com participação da cantora paraense Luê, Ouvidinho teve como ponto de partida as canções do início de carreira do Skank. A faixa conta com a presença de Lelo Zaneti, baixista da banda mineira, além de ter sido produzida por Dudu Marote, nome por trás dos discos Calango (1994) e O samba paconé (1996).
“Quando cheguei no Brasil, com uns 12 anos, lembro-me de conhecer duas bandas que amei logo de cara: Paralamas do Sucesso e Skank”, relembra Sebastián. “No ano passado, quando a Francisco foi gravar Matilha com o Dudu, mostrei Ouvidinho para ele e disse que meu sonho era ter a roupagem do Skank ali. Ele pirou na ideia, acionou o Lelo e o Haroldo (Ferretti) numa videochamada. Depois disso, o Lelo topou gravar o baixo. Fiquei muito emocionado com essa generosidade dele.”
Lançado em 29 de julho, Sebastianismos estava programado inicialmente para o dia 11, mas foi adiado por conta das manifestações do Black Lives Matter. Aconselhado a esperar o fim da quarentena para colocar o disco na praça, Sebastián confessa que é estranho não poder comemorar o lançamento, ao mesmo tempo em que não poderia adiar a chegada dele.
“Estamos vivendo uma espécie de purgatório, com variáveis contrastantes. O mundo não para de rodar, mas roda diferente. Não sei se talvez fosse melhor lançar quando tudo isso passar, porque a gente não sabe quando vai acontecer e nem se de fato existirá uma nova normalidade, como muito se fala”, pondera.
BAHIA Sebastián tem aproveitado para trabalhar em casa. Recém-chegado a Salvador, onde passa a quarentena, ele produziu com objetos do cotidiano o clipe de Sexo de manhã. Antes disso, lançou o vídeo de Culto al culo, inspirada no brega funk recifense, com letra em homenagem ao bumbum, gravada antes da pandemia.
Já Fudeu, o clipe mais recente, lançado no início de junho, foi feito de forma colaborativa com vídeos enviados por fãs após um pedido nas redes sociais.
“Desde 2013, não fico tanto tempo parado geograficamente. É claro que este momento é cheio de ansiedade, mas tem sido bastante produtivo, principalmente por eu poder manter a conexão virtual com o público. Tenho me movimentado bastante, criativamente falando, e a banda já começou a pensar no próximo disco. Começamos a escrever as músicas a distância e temos mais material inédito programado até o fim de 2020.”
O último lançamento da Francisco, el Hombre, Rasgacabeza, saiu em março de 2019. Antes disso, a banda lançou o disco de estreia, Soltasbruxa (2016), e o EP La pachanga! (2014).
Motivado pelos dias em casa, Sebastián acredita que ainda pode produzir muito durante a quarentena. “A gente só tem uma vida e acho que o melhor jeito de aproveitar é aprendendo, se desenvolvendo, estudando muito e compondo.”