O cantor e compositor baiano Caetano Veloso foi um dos principais destaques da edição desta quarta-feira (29/7) do jornal inglês The Guardian.
Na entrevista publicada, Caetano, que há 50 anos viveu em Londres, exilado pela ditadura militar brasileira, como destaca o texto logo no início, falou sobre a atual conjuntura política do Brasil.
“Um pesadelo absoluto. É apenas loucura ”, disse Caetano ao Guardian. O jornal inglês destacou que "Nos últimos meses, apoiadores radicais de Bolsonaro saíram às ruas com faixas pedindo o fechamento do Congresso e a reintrodução do decreto da era da ditadura que abriu o caminho para o exílio de Veloso - com o próprio presidente participando de vários comícios".
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Ele ainda lembra que na casa que dividia com Gilberto Gil, no Chelsea, o fato de enfeitarem a sacada com bandeiras do Brasil causava consternação entre amigos que visitavam, pois era "como se estivessem apoiando a ditadura".
Sobre isso, Caetano diz: "Não, a ditadura não é o Brasil! Mas é claro que sabíamos que a ditadura era um sintoma do Brasil, uma expressão do Brasil - e era isso que o Brasil estava sendo naquele momento, assim como é. sendo um monte de coisas hoje que não são fáceis de engolir", e traça um paralelo com os dias de hoje.
"Você não pode dizer que Bolsonaro não é o Brasil. Ele é muito parecido com muitos brasileiros que eu conheço. Ele é muito parecido com o brasileiro médio - na verdade, a capacidade dele e de seu bando de permanecer no poder depende de enfatizar essa identificação com o brasileiro normal", argumenta Veloso.
O artista ainda classificou as políticas do governo federal como destrutivas, dizendo que "O que vimos tem sido mais sobre destruição. Tudo o que foi feito na Amazônia foi incentivar o desmatamento; tudo o que foi feito na esfera cultural tem a ver com o desmantelamento ... museus, grupos de teatro, produtores de música e cinema ".
A crise sanitária também foi lembrada. Perguntado sobre o comportamento do presidente, mesmo diante de mais de 90 mil mortes pela COVID-19 no Brasil, respondeu: "O presidente mantém sua posição, mesmo tendo sido infectado. Ele nem se comportou como Boris Johnson, que mudou de tática depois de ser infectado".
Embora na entrevista Caetano também revele temores por uma escalada de violência no Brasil, em função das atuais tensões políticas, ele ainda revela um sentimento otimista em relação ao futuro e expressa sentimentos positivos em relação ao país.
"Se eu estivesse sentado na frente de um estrangeiro que estivesse interessado no Brasil, eu diria a eles: 'O Brasil está aqui, bem aqui, nossas florestas, nossas músicas, nossas peças e nossos filmes ... estão sendo ameaçados por esse governo - e estão em processo de destruição. Mas, como um dos membros do grupo que produz música popular, posso garantir que estamos aqui - o Brasil está aqui”, afirma.