Treze pessoas de oito religiões diferentes em cima de um palco tocando sobre amor, aceitação, solidariedade e a importância de ajudar o próximo. Essa é a receita da banda Soul da Paz, grupo musical interreligioso. “Imagina como é juntar esse tanto de gente, com idades entre 20 e 50 anos, e religiões, gostos e formações socioculturais diferentes? É uma sopa, e uma sopa bem estranha. Mas acaba saindo coisas bem importantes dela”, brinca Ricardo Camilo, budista e um dos primeiros membros a entrar no grupo.
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O disco é composto por oito músicas autorais, que passaram pela aprovação de cada membro do grupo, para garantir que as letras não ofendem os princípios de nenhuma religião. “Se tem alguma coisa que não está legal, vamos mudando. Cada um tem a sua verdade e ela tem que ser respeitada”, defende Ricardo. A música tema do álbum, Somos todos iguais, é a favorita dele. “'Dá para viver todos juntos, dá para vivermos em paz. Todos são tão diferentes, todos também são iguais'. Esse é o refrão dela e resume tudo”, explica o músico.
Já Eliel Leonardo, cristão protestante que também faz parte do grupo há mais de cinco anos, revela que a composição que mais gosta é Um ajuda o outro. “'É quem é crente, ajuda o pai de santo, amigo da gente’. Esse pequeno refrão é muito legal porque ilustra uma dificuldade que muita gente tem. O que queremos mostrar nas apresentações é que é possível ser inteiro em relação ao que acreditamos e mesmo assim respeitar os outros.”
Eliel conta que ele os músicos da banda enfrentam críticas até mesmo em relação às pessoas que comungam da mesma fé que os integrantes do grupo. “Escutamos comentários como ‘ele abandonou a fé (por participar da banda)’. Algumas pessoas torcem o nariz, revela. “Temos que estar preparados para aqueles que reclamam. Somos uma banda e temos que aceitar críticas e compreender os que não gostam é a gente”, completou Ricardo.
Para o músico, a Soul da Paz retrata um pouco do que o é o Brasil. “Aqui, apesar de ter alguns problemas de intolerância religiosa, que devem ser combatidos, as religiões têm uma relação bacana. Não vivemos em uma situação ideal, mas estamos em uma situação melhor que muitas parte do mundo”, pondera Ricardo.
Convivência transformadora
“Pergunta para qualquer músico se é fácil lidar com outros músicos. Agora imagina em um contexto interreligioso? De modo geral, nossa relação é a melhor possível”, revela Eliel.
Para Ricardo, uma das coisas mais importantes do projeto é a amizade formada pelos membros. “As nossas conversas são muito enriquecedoras. O impacto dessa convivência é imensamente transformador. Ninguém entra na banda e sai igual.”
Mahesh, sacerdote brâmane (hinduísmo) e o responsável por reunir os músicos, explica que o grupo tem como princípio o respeito pelas diversas crenças. “Não fazemos nenhuma reza ou liturgia em conjunto, somos inteiros no que cremos, não somos a média do grupo. Antes de sermos de qualquer grupo religioso, somos humanos e precisamos nos respeitar como seres humano.”
Mahesh conta que a ideia de montar um grupo surgiu enquanto voltava para casa de um evento interreligioso. “Pensei que seria legal se tivéssemos uma banda com representantes de várias religiões e que tocasse músicas cujas as letras falavam sobre o que as religiões têm em comum, como amor, paciência e tolerância”.
A banda ainda conta com João Rafael (hinduísmo), Gilberto Venturas (judaísmo), Zen Leão (espiritismo), Pai Torres (umbanda), Marcio Scialis (espírita cristão), Flávio Irala, André Herklotz, Paulo Miranda, Débora D’Zambê e Julio D’Zambê (cristianismo).
* Estagiária sob a supervisão da subeditora Tetê Monteiro