Quando surgiu com seu eletrodance inclinado ao R&B em 2012, a britânica Jessie Ware chamou a atenção e chegou a ser comparada a cantoras do calibre de Sade e Aaliyah. Desde então, a sonoridade de suas músicas sofreu alterações, culminando no disco Glasshouse (2017), trabalho no qual ela faz uma abordagem mais imponente e emocional do pop mainstream.
O sucesso do disco foi tamanho que, após a turnê mundial, a cantora estava tão esgotada emocional e fisicamente que sua mãe lhe pediu que abandonasse a carreira musical. Felizmente, Jessie não deu ouvidos ao pedido e está de volta com What's your pleasure? (PMR/Virgin EMI Records), seu melhor álbum até o momento, no qual refina o que já vinha fazendo e transporta o ouvinte para uma discoteca cheia de referências sensuais.
Envolto por uma atmosfera de quase clímax, o álbum narra, ao longo de 12 faixas, distribuídas em pouco mais de 53 minutos, uma série de situações nas quais a tensão sexual entre dois indivíduos é o denominador comum.
Lançada como primeiro single, Adore you sintetiza essa mensagem, ao apresentar variantes eletrônicas e vocais suaves, que, muito embora pareçam querer isso, nunca explodem sonoramente. O mesmo ocorre em In your eyes, canção que parece tirada de uma das cenas em que James Bond flerta languidamente com a Bond Girl.
Mas nem tudo é provocação. O novo trabalho de Jessie Ware também incorpora momentos de poder e experimentação musical. Em Save a kiss, por exemplo, sua voz soa imponente sobre o instrumental setentista. Já na faixa-título ela se permite uma abordagem experimental: sons estridentes surgem em sintetizadores suaves influenciados pela sonoridade dos anos 1980, enquanto Soul control conversa com a estética vaporwave, bastante comum no início dos anos 2010 entre algumas comunidades da internet.
VOCAIS
Step into my life chega na segunda metade e dá ao ouvinte uma breve trégua dos momentos em que o álbum soa mediano, resultando em um bom uso de referências dos anos 1970, aliado a vocais impressionantes executados por Jessie.
Step into my life chega na segunda metade e dá ao ouvinte uma breve trégua dos momentos em que o álbum soa mediano, resultando em um bom uso de referências dos anos 1970, aliado a vocais impressionantes executados por Jessie.
Nem tudo funciona no álbum, e a influência das últimas décadas do século 20 às vezes parece forçada, como em Ooh la la, na qual o excesso das linhas de baixo não alcança o efeito esperado.
Ainda assim, o trabalho como um todo é fruto de uma visão concisa. Diferentemente de outros álbuns pop que apresentam um amálgama de vários gêneros e influências, What's your pleasure? soa como o resultado de algo concreto e, sendo assim, é mais um a prestar uma bela homenagem à música disco – assim como fez Dua Lipa em Future nostalgia (Warner), lançado em março.
Da mesma forma que outras tendências que tomaram de assalto o universo da música no passado, esse revival parece estar sendo encabeçado pelas britânicas. Cabe ao resto do mundo saber a hora certa de interpretá-la.