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MÚSICA

Com shows vetados, festivais vão da live à conexão direta com fãs

O público será reduzido se considerados os parâmetros dos recentes shows virtuais, mas haverá um quê de especial na apresentação que a cantora e compositora baiana Luedji Luna fará ao vivo nesta sexta-feira (3).


A transmissão será pela plataforma Zoom, em um evento on-line realizado pelo Festival Sarará, exclusivo para quem já havia comprado o ingresso para a edição deste ano, recém-adiada para agosto de 2021. Com a pandemia entrando pelo mês de julho, os principais festivais de Minas encontram novos caminhos para manter a conexão com o público, em meio às incertezas sobre a retomada de atividades presenciais.


“É uma ação para beneficiar quem confia e acredita no festival. Não é uma live aberta, a ideia é essa exclusividade para um público que fomenta o festival neste momento”, afirma Bell Magalhães, sócia da produtora A Macaco, responsável pela realização do Sarará.

Ela explica que será um show de 40 minutos, em que a artista poderá ter uma interação maior com quem está assistindo ao espetáculo, até mesmo com a perspectiva de ver o rosto das pessoas, num formato mais “intimista”. Apenas quem tinha o tíquete já adquirido para o Sarará pode retirar o código para ingressar na plataforma, sendo o acesso limitado a mil pessoas.



Inicialmente programado para agosto deste ano, o evento – que costuma reunir diferentes gerações da música nacional – foi oficialmente adiado para 2021, no mesmo mês. “Foi bem doloroso. Tínhamos pensado em tentar fazer no fim do segundo semestre, mas como é um evento que envolve muita gente e artistas de várias partes do país, achamos mais responsável não pensar nessa aglomeração de pessoas em 2020. Primeiro, porque não sabemos como será a retomada. Depois, pela questão comercial, já que as pessoas estarão baqueadas economicamente e entretenimento não será o primeiro plano. E também pela responsabilidade social. É um momento de esperar as coisas se acalmarem para depois voltarmos a falar nas possibilidades de nos aglomerar”, explica a produtora.

Estorno


A organização do Sarará, que na edição 2019 teve Gilberto Gil e Baiana System como principais atrações, comemora que os pedidos de estorno dos ingressos já vendidos para a edição adiada foram muito baixos. “Pouco menos que 5%”, revela Bell Magalhães. Os tíquetes começaram a ser comercializados em março, sem que as atrações tivessem sido divulgadas, o que só deverá ocorrer em dezembro.

Até lá, as vendas “no escuro”, como são chamadas as desse lote promocional antecipado, continuam. Valores variam entre R$ 50 (pista meia entrada) e R$ R$ 220 (área open bar).

Embora o line-up ainda seja segredo, o entendimento tranquilo com os artistas foi outro ponto positivo diante da incerteza sobre a realização. “Tínhamos boa relação anterior com todos os artistas com quem fechamos contratualmente. Todos estão sentindo esse aperto e tiveram bom senso para readequação de contrato”, garante. Dessa forma, o foco maior é na manutenção de uma conexão positiva com o público, ainda que sem a realização dos festivais.



“Acreditamos muito na questão do festival não ser pontualmente só aquele dia, daquela catarse da reunião de milhares de pessoas. Mas ser uma espécie de plataforma. Nossa preocupação é manter essa plataforma ativa e viva. Não só do entretenimento, mas como uma plataforma pensante, com posicionamentos”, explica Magalhães.

Segundo ela, o desafio é viabilizar tudo isso sem a grande fonte de receita, que são os festivais. “É toda uma equipe envolvida... Nossa maior receita bruta foi adiada. Temos uma patrocinadora privada e os ingressos já vendidos. Isso nos mantém vivos”, afirma.

Desde o começo da quarentena, o Sarará realizou lives com alguns artistas. “Em geral, mesmo nas do sertanejo, houve um pico de audiência e depois foi caindo. Aconteceu com a gente também”, revela a produtora, lembrando que o formato depende do apoio de patrocinadores, que, geralmente, se interessam por artistas de renome. Ainda assim, o Sarará pretende realizar uma edição on-line do festival, em 29 de agosto.



Esperança de retomada


Outro grande festival promovido em Minas, O Meca Inhotim, que seria em junho deste ano, também confirmou adiamento para o meio de 2021. Nas redes sociais, os organizadores prometeram ficar “off-lines” até setembro. Enquanto isso, disponibilizam para o público o boletim informativo digital Meca Journal.

Por outro lado, o Breve mantém a expectativa para ocorrer em 31 de outubro, no Mineirão. Inicialmente marcado para maio, foi reagendado por causa da pandemia e seus promotores confiam na realização. “A ideia é que aconteça, mas estamos o tempo todo monitorando. Só vamos fazer se tivermos 100% de certeza de que não haverá problema para o público ou para os artistas. Está tudo mudando muito rápido, é difícil saber. Já remarcamos uma vez, em março. O cenário hoje é diferente. Então, vamos esperar”, afirma Guilherme Rabelo, sócio-diretor da Box Entretenimento, responsável pelo Breve.

Diferentemente do Sarará, eles já haviam divulgado a programação, que tem O Grande Encontro, Ney Matogrosso e a banda cubana Orishas como atrações principais. A organização descarta a hipótese de uma realização com restrições de público, pela logística espacial do local, onde as aglomerações seriam inevitáveis, mesmo com plateia reduzida.


Além disso, dizem procurar uma relação transparente com quem já comprou ingresso. “Em março, tomamos a decisão de adiar e comunicamos imediatamente. Todo mundo entende o momento. Não é culpa nossa. Nenhum festival no mundo está acontecendo. Então, procuramos essa transparência, mostrando a situação. O público compreende, ele quer sair de casa, mas entende que talvez não seja o momento. Se não for agora, temos certeza que acontecerá em breve”, diz Rabelo, que comemora uma quantidade “irrisória”, segundo ele, de pedidos de estorno de ingressos depois do adiamento.