“Nativos e originários dessa terra, Brasil/ Desde mil e quinhentos vivemos em guerra/Nosso povo foi oprimido e dizimado/ por não aceitarmos ser escravizados/ Desprezaram nossa ciência e tecnologia/ conhecimento milenar da floresta/ E agora vemos na TV alertas de aquecimento da terra.”
Leia Mais
Teatro Feluma, em BH, lança festival de monólogosO rapper mineiro Kdu dos Anjos canta o 'Serrão' em seu novo disco'Exército' de fãs do K-pop fere a campanha de Donald Trump à reeleiçãoRimando em guarani, o cantor também fala sobre ancestralidade no som. “Acredito que essa música tem força justamente porque eu canto em Guarani. Assim, tento levar minha ancestralidade junto comigo, seja cantando ou falando. É importante que as pessoas ouçam, porque é um rap diferente, que muita gente ainda não conhece, mas precisa ouvir”, explica Kunumi.
Para o rapper, o fato de cantar em Guarani também traz identificação a pessoas que ouvem seu trabalho. “Fico muito feliz por gravar no idioma, porque no Brasil hoje tem muitos indígenas que falam em Guarani e vão ficar feliz em ouvir minha canção”, diz.
Kunumi chegou ao rap por influência das histórias contadas pelos pajés, o que aproximou da arte. O pai do cantor, que é escritor e poeta, também foi uma ajuda, por estimular o filho a escrever, além do primeiro grupo indígena de rap Brô MC’s. “Comecei a criar poesias e tentei cantá-las. Quando cantei, percebi que o poema era muito parecido com rap, por ter muitas rimas e histórias de luta na escrita. O rap é uma forma de luta, a arte, quando se faz como protesto, é muito importante. A Xondaro Ka'aguy Reguá acredito que não seja importante só para mim, mas para pessoas indígenas e não indígenas, porque a música tem o poder de levar mensagem e sentimento.”
O rapper ganhou repercussão mundial ao chamar atenção ao tema da demarcação de terra. Em 2014, quando os olhares de todos os países estavam na abertura da Copa do Mundo no Brasil, o rapper entrou em campo ao lado de uma menina negra e um garoto branco, representando a paz.
Ao fim da solenidade, Kunumi ergueu a faixa: “Demarcação já”, momento que mudou a vida do rapper. “Foi ali que eu fiquei conhecido e pude dar continuidade ao meu trabalho de ativista, sendo um cantor de rap e defendendo o povo indígena”, relembra.
Sempre ligado à arte, o rapper sonha além da música. “Gostaria que as editoras de livros se atentassem às minhas obras literárias. A literatura nativa é muito importante, porque é possível preservar a história, e, para isso, a publicação de um livro ajudaria muito”, afirma Kunumi, que tem dois livros publicados: Contos dos Curumins Guaranis e Kunumi Guarani.
*Estagiário sob a supervisão de Igor Silveira