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MÚSICA

Alanis Morissette comemora os 25 anos de 'Jagged little pill'

Alanis Morissette e o elenco na noite de estreia do musical Jagged little pill, em Nova York, em dezembro do ano passado - Foto: Daniel Zuchnik/AFP - 5/12/19

Completando 25 anos de lançamento neste sábado (13),  Jagged little pill segue como o disco de maior prestígio de Alanis Morissette. Lançado em 1995 – ou seja, numa época dominada pelas hoje antiquadas mídias físicas –, ele vendeu 33 milhões de cópias e, poucos meses depois, em fevereiro de 1996, ganhou cinco prêmios Grammy, incluindo o de álbum do ano.



Antes disso, por meio da gravadora MCA Records, a canadense lançou dois discos, Alanis (1991) e Now is the time (1992), que hoje valem ouro, pois não podem ser encontrados em nenhuma plataforma de streaming. De fato, a Maverick, gravadora criada por Madonna em 1992, logo que contratou a artista ordenou a retirada de todas as cópias restantes daqueles álbuns com uma estratégia clara: transformar Jagged little pill na esperança do pós-grunge.

Trunfo

Objetivo alcançado, já que o disco se tornou um dos maiores trunfos da música popular. De uma só vez, Alanis ascendeu na indústria, estabelecendo um legado e uma influência que perduram até os dias atuais.

Prova disso é que três dos singles extraídos do trabalho, Ironic, You oughta know e Hand in my pocket, continuam sendo o seu tripé de canções mais ouvidas no Spotify. Nos shows, Alanis também insiste nas músicas antigas, embora tenha outros cinco álbuns em sua discografia.



O sucesso, entretanto, nem sempre é fácil de administrar, ainda mais quando se tem apenas 21 anos. Em 2014, Alanis confessou que sofreu muito durante a eclosão de Jagged little pill.

“Lembro-me de que era uma pessoa que adorava sentar e ver os outros para, de repente, me transformar na pessoa que era observada. Isso foi realmente desconcertante”, confessou ela em entrevista à apresentadora Oprah Winfrey.

Na mesma ocasião, a cantora revelou que quase não sorriu durante dois anos e que a fama lhe gerou um trauma que acabou desembocando no diagnóstico de estresse pós-traumático.

Em 2012, enquanto promovia Havoc and bright lights, Alanis revelou ao jornal britânico The Guardian que a experiência foi “uma profunda violação”. Disse sentir que, “a cada milissegundo”, tentava estabelecer um limite e dizer “não” às pessoas que invadiam seus quartos de hotel, mexiam em sua bagagem e puxavam seu cabelo quando saía do carro.

Durante a entrevista, Alanis recordou como voltou a ter a anorexia e a bulimia que a castigaram aos 16 anos. A recaída veio depois de um executivo de sua primeira gravadora lhe dizer que estava engordando demais. “Na Europa, é algo mais suave, mas nos Estados Unidos é muito duro. Em Los Angeles, onde moro, tudo gira ao redor de estar perfeita. A beleza agora é definida pelos ossos que sobressaem no seu decote. É perigoso que este seja o padrão para as mulheres”, afirmou.



Talvez isso explique como em Supposed former infatuation junkie, sucessor de Jagged little pill, lançado em 1998, nem Alanis nem sua obra eram as mesmas. No campo musical, com apenas um disco de diferença, ela passou de 33 milhões para 10 milhões de discos vendidos em todo o mundo.

Família

Em 2010, a cantora se casou com o rapper Mario Treadway, mais conhecido como Souleye. Nesse mesmo ano, nasceu seu primeiro filho, Ever Imre. Em 2016, chegou a pequena Onyx Solace. Permanecendo em segundo plano artístico, ela parecia ter superado completamente o estresse pós-traumático.

Em setembro de 2017, porém, Alanis revelou aos fãs um novo problema que vinha arrastando desde que se tornou mãe: recorreu às páginas de People para explicar que nas duas ocasiões (sobretudo, após dar à luz Onyx) precisou lutar contra a depressão pós-parto.



Em 8 de agosto de 2019, nasceu o terceiro rebento, Winter Mercy Morissette-Treadway. Alanis ainda não revelou se esses primeiros meses estão sendo mais tranquilos.

- Foto: Maverick Records/Reprodução

Levando em conta a artista que Alanis Morissette se tornou hoje, envolta pela aura saudosista de uma voz que embalou gerações de adolescentes, Jagged little pill carrega o paradigma da música feita nos anos 1990. Raivosa, despretensiosa e envolta por guitarras, as canções soam sinceras e por isso conquistaram uma legião de fãs.

Para além das três músicas já citadas – indispensáveis na carreira da artista – o disco também traz outras pérolas: All I really want, Perfect, You learn e Head over feet. Essas canções carregam características que ecoam até hoje no trabalho da artista.

Diablo

Para comemorar as bodas de prata do álbum, Alanis faria uma turnê mundial, adiada por conta do novo coronavírus. Além disso, em dezembro estreou um musical dirigido por Diablo Cody na Broadway, em Nova York, inspirado nas músicas da artista canadense. 



Em 31 de julho, Alanis promete lançar o disco de inéditas Such pretty forks in the road, originalmente anunciado para 1º de maio e adiado por conta da pandemia. Até aqui, com três singles nas redes, o álbum mostra a artista fazendo as pazes com o passado e acenando para o futuro.

Em Reasons I drink ela aborda seus vícios – entre eles, o trabalho – e os motivos que a levaram a tê-los, enquanto Smiling trata da superação no dia a dia. Diagnosis fala do estigma da depressão.

Alanis Morissette transformou em música os demônios que enfrentou, incorporando uma bem-vinda sonoridade pop que permite a presença de um bem executado piano. A voz continua inconfundível.

Em suma, nenhuma novidade, mas são boas canções para quem está no nono disco da carreira – o primeiro em oito anos. Elas devem agradar aos fãs.



Jagged little pill - faixa a faixa

  • All I really want
  • You oughta know
  • Perfect
  • Hand in my pocket
  • Right through you
  • Forgiven
  • You learn
  • Head over feet
  • Mary Jane
  • Ironic
  • Not the doctor
  • Wake up
  • You oughta know (Jimmy The Saint blend)

Live

Em 19 de maio, Alanis Morissette fez uma live para marcar os 25 anos de Jagged little pill, com repertório recheado de clássicos noventistas. A transmissão ao vivo arrecadou doações para a The Actors Fund, instituição de artes cênicas nos Estados Unidos. A realização do show on-line foi decidida depois que a COVID-19 obrigou Alanis a adiar sua turnê 2020, que passaria pela Ásia, Estados Unidos e Europa.