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Feito em isolamento, novo disco de Arthur Melo é ode à solidão



Embalado pela atmosfera de um isolamento voluntário realizado entre janeiro e março deste ano, na pré-pandemia, o novo disco do mineiro Arthur Melo é o resultado de um processo ''solitário e feliz'', como indica o material de divulgação. Lançado no segundo dia de junho pela Sentinela Discos, Adeus começou a nascer quando o músico resolveu partir para o sítio de seu pai, na região da Pampulha, e montar, num dos quartos vagos da casa, o “estúdio” onde gravou as 14 faixas do registro.



“Sempre trabalhei em parceria com amigos, então ainda não tinha feito algo completamente sozinho”, conta ele, em entrevista por telefone. “No início, não tinha tanta certeza de que daria certo, rolou aquela insegurança natural. Quando lancei o clipe de 2012, o ano bege, em abril, vi que a recepção foi massa e estava no caminho certo.”

Um dos temas que serviram como pano de fundo para a escrita das letras foi o término de seu último relacionamento. “Depois disso, senti a necessidade de estar sozinho e buscar, nessa solidão, alguma resposta. Gosto muito de estar com a galera, com minha família, mas me isolar para produzir esse trabalho foi um processo de descoberta, um treinamento da ausência”, conta.

Para construir tal universo particular, Arthur destilou suas habilidades no violão, nas guitarras, na bateria, no baixo, na conga, na percussão, no teclado, nos sintetizadores e cantando. O artista, que cursa cinema, trabalha numa produtora de filmes e também desenvolve trilha sonoras originais, assina até a identidade visual do trabalho, que é baseada em pinturas autorais desenvolvidas durante o isolamento.



Tudo isso colabora para a aparência artesanal e sincera de Adeus. No conteúdo, o disco é minimalista e elegante, repleto de silêncios que reiteram a ideia de ausência buscada por Arthur, e amparado por momentos ora melancólicos ora psicodélicos.

Destaque para Letargia, Agonia e a faixa-título. O disco ainda guarda bons momentos em A última solidão, Tempo, após um contratempo e Amor & fantasmas, faixas experimentais que acrescentam uma dinâmica interessante ao álbum, ainda que o trabalho seja bastante linear.

O disco também funciona como ode às grandes referências que Arthur Melo acumula desde que começou a compor, aos 17 anos. Entre elas, ele cita músicos das antigas como Caetano Veloso, Lô Borges e Tom Zé, mas prova que também há espaço para os mais contemporâneos, como Cícero. “Em algumas faixas me inspirei bastante em Daft Punk e The Voidz, no movimento que eles fazem de unir letras tristes com instrumentais animados, formando uma espécie de superação”, conta o artista.



Mas a influência maior talvez esteja no músico Devendra Banhart, com quem Arthur dividiu o palco em 2017, quando o norte-americano se apresentou em BH.

“Não foi nada combinado. Marquei de ir com alguns amigos e, no meio do show, o Devendra pergunta para a plateia se tem alguém ali que gostaria de apresentar uma música autoral. Meus amigos gritaram para que ele me chamasse e lá fui eu. Foi uma coisa muito louca e especial”, relembra.

Na ocasião, Arthur Melo apresentou Agosto, canção que dá título ao seu EP de estreia, lançado no mesmo ano do show. Desde então, o músico lançou dois discos: Nhanderuvuçu (2018) e Metanoia (2019).

Diálogos musicais


Adeus, seu terceiro álbum, é um trabalho diferente dos anteriores e a prova de que no corpo de um rapaz de 22 anos pode existir uma alma mais velha, disposta a construir um diálogo entre uma música que soa tipicamente mineira e o que está sendo produzido no resto do Brasil.

“Para mim, esse é um disco que carrega uma certa tensão melancólica e noturna. Ele soa como uma madrugada pelos bares de BH que parece durar dias.”

Sendo assim, trata-se de viagem noturna pelas rememorações de uma mente nostálgica pelo que viveu, despedindo-se respeitosamente, e ansiosa pelo o que virá.
 

 

ADEUS
De Arthur Melo
Sentinela Discos
14 faixas
Disponível nas plataformas digitais