Embalado pela atmosfera de um isolamento voluntário realizado entre janeiro e março deste ano, na pré-pandemia, o novo disco do mineiro Arthur Melo é o resultado de um processo ''solitário e feliz'', como indica o material de divulgação. Lançado no segundo dia de junho pela Sentinela Discos, Adeus começou a nascer quando o músico resolveu partir para o sítio de seu pai, na região da Pampulha, e montar, num dos quartos vagos da casa, o “estúdio” onde gravou as 14 faixas do registro.
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Para construir tal universo particular, Arthur destilou suas habilidades no violão, nas guitarras, na bateria, no baixo, na conga, na percussão, no teclado, nos sintetizadores e cantando. O artista, que cursa cinema, trabalha numa produtora de filmes e também desenvolve trilha sonoras originais, assina até a identidade visual do trabalho, que é baseada em pinturas autorais desenvolvidas durante o isolamento.
Tudo isso colabora para a aparência artesanal e sincera de Adeus. No conteúdo, o disco é minimalista e elegante, repleto de silêncios que reiteram a ideia de ausência buscada por Arthur, e amparado por momentos ora melancólicos ora psicodélicos.
Destaque para Letargia, Agonia e a faixa-título. O disco ainda guarda bons momentos em A última solidão, Tempo, após um contratempo e Amor & fantasmas, faixas experimentais que acrescentam uma dinâmica interessante ao álbum, ainda que o trabalho seja bastante linear.
O disco também funciona como ode às grandes referências que Arthur Melo acumula desde que começou a compor, aos 17 anos. Entre elas, ele cita músicos das antigas como Caetano Veloso, Lô Borges e Tom Zé, mas prova que também há espaço para os mais contemporâneos, como Cícero. “Em algumas faixas me inspirei bastante em Daft Punk e The Voidz, no movimento que eles fazem de unir letras tristes com instrumentais animados, formando uma espécie de superação”, conta o artista.
Mas a influência maior talvez esteja no músico Devendra Banhart, com quem Arthur dividiu o palco em 2017, quando o norte-americano se apresentou em BH.
“Não foi nada combinado. Marquei de ir com alguns amigos e, no meio do show, o Devendra pergunta para a plateia se tem alguém ali que gostaria de apresentar uma música autoral. Meus amigos gritaram para que ele me chamasse e lá fui eu. Foi uma coisa muito louca e especial”, relembra.
Na ocasião, Arthur Melo apresentou Agosto, canção que dá título ao seu EP de estreia, lançado no mesmo ano do show. Desde então, o músico lançou dois discos: Nhanderuvuçu (2018) e Metanoia (2019).
Diálogos musicais
Adeus, seu terceiro álbum, é um trabalho diferente dos anteriores e a prova de que no corpo de um rapaz de 22 anos pode existir uma alma mais velha, disposta a construir um diálogo entre uma música que soa tipicamente mineira e o que está sendo produzido no resto do Brasil.
“Para mim, esse é um disco que carrega uma certa tensão melancólica e noturna. Ele soa como uma madrugada pelos bares de BH que parece durar dias.”
Sendo assim, trata-se de viagem noturna pelas rememorações de uma mente nostálgica pelo que viveu, despedindo-se respeitosamente, e ansiosa pelo o que virá.
ADEUS
De Arthur Melo
Sentinela Discos
14 faixas
Disponível nas plataformas digitais