Além de encarar o coronavírus, Black Josie tem de lutar para monetizar – ou seja, transformar em dinheiro – as apresentações ao vivo que vem fazendo na internet durante a quarentena. Atuante há 10 anos na noite de BH, a DJ amargou o cancelamento de trabalhos imposto pela pandemia. Para se manter, viu-se obrigada a recorrer ao auxílio emergencial do governo.
Mas essa mineira não entregou os pontos: aposta em projetos coletivos on-line, além do trabalho como produtora musical e de conteúdo. Luciana Gomes, de 47 anos, foi DJ residente do extinto pub Los Mariachis, em BH. Especializada em música negra e ritmos latino-americanos, fez carreira como Black Josie, participando de eventos importantes da capital – entre eles, os festivais Sarará, Internacional de Teatro (FIT), de Arte Negra (FAN) e Verão Arte Contemporânea (VAC).
Sorte
“Antes dos cancelamentos deste primeiro trimestre, tive a sorte de trabalhar muito, o carnaval foi muito bom. Então, ainda não passei dificuldades”, revela Luciana. Ela se inscreveu para obter o auxílio de emergência do governo federal. “Se não receber, não consigo manter nem a luz do meu home studio”, diz. O único trabalho remunerado dela, ultimamente, foi uma festa fechada na plataforma Zoom. “A pessoa fez aniversário e fui contratada para ser a DJ.”Adaptar o ofício ao sistema home office é complicado, conta Josie. Ela vem fazendo lives regularmente, mas aponta problemas junto às plataformas digitais relativos à monetização e a direitos autorais. Josie explica que DJs fazem versões e remixes de músicas e há impasses envolvendo a propriedade intelectual dessas criações. A classe reclama da falta de diálogo com YouTube, Facebook e Instagram.
Por causa disso, vários DJs migraram para a plataforma Twitch TV. “É uma rede criada para games, mas tem qualidade de som e, por enquanto, não 'derruba' direitos autorais”, conta Josie.
A mineira tem participado de iniciativas que buscam possibilitar a remuneração de profissionais como ela. “É difícil, mas é um caminho”, observa. Um desses projetos partiu do coletivo DJs Disco Club, que, desde abril, promove e divulga lives de artistas da noite de BH.
“Estamos planejando como monetizar as transmissões”, conta Josie. “Tenho achado ótimo (o Disco Club). Se conseguir renda dessa maneira, vou adorar, embora tenha entrado à força”, brinca.
Black Josie também aposta nas lives do Coletivo Djeias, de Belo Horizonte, do qual é uma das residentes. “É uma ação voltada para efetivar as mulheres DJs, divulgando o trabalho delas.” O início das transmissões no Twitch está previsto para o fim deste mês ou início de julho.
Disco
Outra frente de trabalho é a produção musical – recentemente, ela assinou o disco Cura, da cantora e compositora Elisa de Sena. “Faço produção, edição de áudio, captação de som, vinheta e jingles”, diz Josie, que mantém estúdio em casa.Em maio, Black Josie foi contemplada pelo edital de emergência Arte Como Respiro, do Instituto Itaú Cultural, com o piloto do podcast Música negra mineira. A proposta é oferecer um recorte da produção de artistas negros na última década.
“Fiz pesquisa do conteúdo, roteiro, locução, captação de áudio, edição, masterização e as vinhetas”, conta. Agora, ela busca patrocínio para o projeto seguir. “O segundo episódio está em fase de pesquisa e produção”, informa.
O rádio é paixão antiga de Josie, formada em relações públicas. “Sempre tive podcast, comecei a gostar do formato antes de trabalhar profissionalmente como DJ”, diz. Há alguns anos, ela produziu o Música preta brasileira, podcast lançado pela webradio paulista Balanço.
*Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria