Retomada da série de Concertos do Minas está indefinida

Programação do ano teria início nesta quarta (27), com recital de Nelson Freire. Curadora diz que encontrar novo espaço na agenda dos músicos será o maior desafio pós-pandemia

Fernanda Gomes* 27/05/2020 07:31
Benjamin Eolavega/divulgação
O pianista Nelson Freire, que se recupera de uma cirurgia no ombro a que teve que se submeter em outubro passado, após uma queda enquanto caminhava, no Rio de Janeiro (foto: Benjamin Eolavega/divulgação)
Como será quando o período de isolamento social acabar e os produtores começarem a reorganizar as agendas de shows? Essa é uma das dúvidas da produtora cultural, pianista e professora Celina Szrvinsk. “Se, antes, para conseguir a agenda de determinado músico você esperava de um a dois anos, imagina quando o mundo quiser resgatar isso?” A série de Concertos Supergasbrás, do Minas Tênis Clube, da qual Celina é curadora, começaria nesta quarta-feira (27).

A abertura contaria com um recital de Nelson Freire e palestra prévia de Leandro Karnal, num ano dedicado a comemorar os 250 anos de nascimento de Beethoven. “Foi uma pena. Mas não digo que ela foi cancelada, está apenas adiada”, afirma. Segundo Celina, todas as apresentações previstas serão remarcadas, respeitando a agenda dos músicos, quando for possível retomar atividades como a ida a teatros. Reajustar o calendário será o mais complicado, ela diz.

Convites 

“A ideia é manter os convites, porque, se eles foram convidados, era um desejo da nossa curadoria e do público. Mas não sabemos quando a série poderá ser realizada, devido à agenda dos músicos. O mundo inteiro cancelou as agendas culturais, então o momento de reorganizar isso será uma coisa bem delicada”.

A pianista diz ainda que “praticamente todos os ingressos estavam esgotados. Mas agora é uma questão de paciência e aguardar”. Há, no entanto, a possibilidade de reembolso para os que não quiserem aguardar a redefinição do programa. A série de concertos teria ainda o pianista Fabio Martino (18 de agosto), o Quarteto Baldini (1º de setembro), Claudio Martinez Mehner (6 de outubro) e a Orquestra de Câmara de Sttutgart (27 de outubro).

Não é apenas a suspensão da serie de concertos do Minas que Celina lamenta. “Todas as atividades culturais e meus projetos deste ano foram cancelados. Antes de ontem (domingo) teríamos terminado o oitavo Festival de Maio”, cita.

O festival de cordas e pianos teria contado com a participação de instrumentistas nacionais e internacionais.“Este momento não é bom, mas ele traz também uma possibilidade de as pessoas conhecerem outros estilos. De uma certa forma, nosso público está até aumentando. Pessoas que nunca antes tinham visto concertos estão entrando em contato para falar que puderam assistir”, diz a pianista, citando o alcance das lives e vídeos de música clássica durante a pandemia do coronavírus. 
  
 Celina ressalta a apresentação do violoncelista Yo-Yo Ma, que fez  live no Instagram no último domingo (24). “Ele é um dos maiores violoncelistas do mundo, uma das maiores referências, então fico muito agradecida pela oportunidade.” No entanto, ela pondera que a audição de uma transmissão “não substitui o ao vivo. Ouvir uma gravação é diferente de ouvir ao vivo, dividir o espaço com o artista no teatro. A experiência de recriar a música junto com o artista sempre será insubstituível”. A pianista compara o ato de assistir a uma apresentação on-line com o “tocar a natureza por meio de uma fotografia”.

Celina também é professora na Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais, que está com as aulas suspensas. “Essa ruptura deixa um hiato muito doido para a gente. Pensamos em aulas on-line, mas nem todos os alunos têm instrumentos –  no nosso caso, o piano. Mas estamos estudando maneiras de suprir a carência.” A pianista passa a quarentena ao lado do marido e da filha, o que lhe traz ao menos uma vantagem. “Temos tempo de assistir a programas juntos, em família”, comemora.

*Estagiária sob a supervisão da editora Silvana Arantes

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