Foi um baque. A quarentena pegou a Daparte desprevenida. Quando a pandemia impôs o isolamento social, os jovens músicos de BH gravavam seu segundo álbum, com lançamento previsto para este semestre. Mas mudou tudo para João Ferreira, Juliano Alvarenga, Túlio Lima, Daniel Crase e Bernardo Cipriano, que criaram a banda de rock e MPB em 2016. Agora, a meta é apostar em estratégias digitais para manter a conexão com o público.
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A canção, que fará parte do novo álbum, foi composta em 2019 pelo cantor e guitarrista João Ferreira. “Não é aquele tipo de música de autoestima que muitos estão lançando, algo para te colocar lá pra cima”, explica Juliano, filho de Samuel Rosa, cantor do Skank.
O single de Calma vai chegar com videoclipe assinado pelo fotógrafo André Greco, que trabalha com a banda. Ele foi gravado durante a quarentena na casa de João Ferreira, adotando as recomendações dos órgãos de saúde.
“Tínhamos um roteiro mais elaborado, mas desistimos por conta do coronavírus. Fizemos algo bem minimalista, tanto que a banda nem aparece no clipe, só o João. A gente tá animado, pois ficou bem emocionante”, adianta Juliano.
SINGLES
Antes da quarentena, o grupo havia traçado um cronograma de lançamento de singles para engajar os fãs em seu novo projeto. As canções Três da manhã, Segundas intenções e Iaiá foram disponibilizadas nas principais plataformas digitais, com direito a clipes. As três bateram 440 mil visualizações no YouTube.
De acordo com Juliano, o lançamento ajudou a ampliar a base de fãs e também influenciou o novo single. “Achamos que Calma poderia vir como uma boa carta na manga neste momento. Já estávamos com ela gravada, mixada e masterizada.”
Ainda resta gravar mais quatro faixas do novo disco, que deve ser lançado até o fim do ano. A data não foi definida. A expectativa é grande depois do resultado do primeiro álbum, Charles (2018), que obteve mais de 2 milhões de plays no Spotify. As gravações serão retomadas após o fim do isolamento social.
Juliano revela que a última faixa contou com a participação de um artista renomado, mas faz segredo sobre o nome dele. “Gravamos o feat e logo depois começou a quarentena. Foi um baque, pois estávamos empolgados”, conta.
CANCELAMENTO Não apenas a rotina de gravações foi alterada. A banda cancelou apresentações em São Paulo, Belo Horizonte, Manaus e Ipatinga. “A gente não fez muitos shows este ano, até segurando a agenda para mais perto do lançamento do álbum. Acabou que veio a quarentena e a gente teve de parar”, lamenta o baterista Daniel Crase, de 26.
Pior: devido à aglomeração do público, os shows deverão ser os últimos eventos a voltar à agenda cultural. Isso complica o retorno da banda Daparte aos palcos este ano.
Para manter a conexão com os fãs, o grupo aposta em publicações nas redes sociais e no YouTube. “A gente sempre foi muito ativo, agora mais do que nunca”, diz Daniel Crase. “Lançamos conteúdos na internet que foram bem vistos. Hora nenhuma queremos parar de produzir e mostrar novidades em nossas redes”, avisa Juliano.
HOME OFFICE
Na segunda-feira (11), chegou ao YouTube o cover de 155, do Arctic Monkeys, gravado a distância, em formato home-office, por João Ferreira e a cantora Clara Câmpara, da dupla Clara x Sofia. João toca violão, acompanhado de Clara no teclado. “Era uma coisa que nunca tínhamos feito, mas decidimos fazer por causa da quarentena. Temos de continuar produzindo enquanto esperamos o momento certo de voltar pro palco”, destaca João.Entre os conteúdos disponibilizados pela Daparte, repercutiu o vídeo inspirado no quadro “CAT BBB – Central de Atendimento ao Telespectador do Big Brother Brasil”, apresentado por Rafael Portugal durante a última edição do reality. Nele, o humorista reage de forma descontraída à opinião dos espectadores.
A banda mineira mandou para as redes o “Centro de Atendimento Daparte”, apresentado por Daniel Crase. “Pedimos para os fãs postarem comentários, e o pessoal que trabalha com audiovisual com a gente editou. Fui encaixando as respostas no roteiro de acordo com perguntas”, explica o baterista, dizendo-se “muito mais bonito do que o Rafael Portugal”. A publicação ultrapassou 5 mil visualizações no Instagram.
Crase também participou de uma live no perfil de Instagram oficial da banda (@daparte) para discutir os 50 anos do fim dos Beatles, ao lado do primo e baixista Túlio Lima, mais conhecido como Cebola. “Crescemos ouvindo Beatles. Foi uma hora de bate-papo descontraído, tomando cerveja, falando e respondendo às perguntas da galera”, esclareceu.
Em 20 de maio, a banda fez uma live, atraindo 5 mil acessos. No momento, estuda a possibilidade de promover transmissão ao vivo com a participação dos cinco integrantes, algo que ainda não ocorreu. “Não podemos falar muito, pois não está 100% fechado, mas é um projeto que pode acontecer muito em breve”, diz o baterista. Nesse projeto, o grupo planeja divulgar a campanha “Música pela Música”, voltada para arrecadação de fundos para musicistas e DJs de BH que perderam trabalho durante a quarentena.
A interatividade tem rendido frutos à Daparte. “Muitos de nossos seguidores vêm gravando covers em casa de suas músicas favoritas e compartilhando nas redes sociais. “Fãs do Brasil inteiro divulgam a banda. Pra gente, é bom saber que eles vão continuar do nosso lado”, afirma Juliano Alvarenga.
O guitarrista acredita que a quarentena pode atrair novos fãs. “Tem muita gente nova conhecendo nosso trabalho. Quando tudo voltar, isso terá uma repercussão legal, trazendo mais pessoas para os shows da Daparte”, afirma.
LEITURA
Nestes dias de isolamento social, Daniel Crase vem se dedicando a atividades extramusicais. “Tem coisas que eu nunca tive tempo para fazer, como ler as biografias de todos os Beatles”, conta.Conciliando a carreira musical com a faculdade de jornalismo e a tarefas do ensino a distância, Juliano Alvarenga confessa: neste momento, está difícil criar. “Até brinquei, falando que iria compor pra caramba e faria um disco só de músicas inéditas nesta quarentena. Mas, por incrível que pareça, minha inspiração não está na melhor fase”, revela o guitarrista.
A rotina estagnada dentro de casa e o convívio com as mesmas pessoas não contribuem para o processo criativo. “Fico quebrando a cabeça. Sempre pego o violão ou o teclado, mas nada tem me agradado muito”, diz o filho de Samuel Rosa.
*Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria