Orquestra de Câmara da USP lança dois álbuns nas plataformas digitais

Trabalho duplo tem repertório de canções da MPB, como 'Vera Cruz', de Milton e Márcio Borges, e composições feitas a partir de ideias visuais

Gustavo Werneck 01/03/2020 06:00
Marcelo Maculê/Divulgação
Criada em 1995, a Orquestra de Câmara da USP é formada por alunos da universidade e músicos profissionais (foto: Marcelo Maculê/Divulgação)
Comece pela capa, depois leia o encarte e, finalmente, com os sentidos bem aguçados, ouça os discos Segredos de Vera Cruz – Música Popular Brasileira para gaita e orquestra e Sons sobre tons – Criações musicais sobre ideias visuais, ambos gravados pela Orquestra de Câmara (Ocam) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Vai ser uma viagem excelente, em especial após a maratona de carnaval, em que nem todos os sons da rua deixam saudades nos ouvidos.
Ao se deter por um tempo na capa de Segredos de Vera Cruz, você terá a chance de observar a beleza e a textura das penas de aves brasileiras, que, sobrepostas, fazem bem aos olhos e remetem ao primitivo nome do Brasil (Terra de Vera Cruz) – a música Vera Cruz, que está no repertório do CD, é de autoria de Milton Nascimento e Márcio Borges.

“Sempre tive uma ligação muito grande com Milton, em turnês e discos”, diz o regente Gil Jardim, desde 2001 à frente da orquestra. O trabalho, que está disponível nas plataformas digitais, comemora os 25 anos da Ocam. O maestro conta que a escolha do repertório foi feita por ele. “Alguns arranjos sinfônicos gravados foram escritos em trabalhos que realizei com os compositores, a exemplo de Milton Nascimento e Ivan Lins, e trabalhando com César Camargo Mariano. O que fiz foi orquestrar o original. Outros foram feitos pelo Gianluca Littera."

Em Segredos de Vera Cruz, a Ocam interpreta nove composições, entre elas clássicos da MPB, como Flor de Lis (Djavan), Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque) e As rosas não falam (Cartola). Nele, a orquestra é acompanhada pelo gaitista italiano Gianluca Littera. “Esse virtuose tem uma flexibilidade admirável. Conhece música como poucos”, afirma o regente.

A ideia de gravar esse álbum surgiu, conforme afirma o maestro, em 2003, quando ele foi convidado pelo colega John Neschling para dirigir dois concertos de câmara com a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). O solista era o italiano Gianluca Littera.

“Ele é um virtuose da harmônica cromática, que aqui chamam de gaita de boca. Luca se tornou um parceiro de música muito próximo. E, depois de apresentações na Sala São Paulo, fizemos turnês no Norte da Itália. Trouxe Luca Littera para tocar em algumas temporadas da Ocam, E, numa delas, gravamos este CD."

Littera, segundo o maestro Jardim, “desenvolve uma carreira consagrada, tocando música clássica, contemporânea, de vários estilos, jazz, música popular brasileira. É muito versátil. Trabalhou em trilhas sonoras cinematográficas, como as do italiano Ennio Morricone, e em filmes famosos tocando".

NOVOS COMPOSITORES 

Já Sons sobre tons reúne obras de cinco compositores: Valéria Bonafé, Alexandre Lunsqui, Paulina Luciuk, Yugo Sano Mani e Wellington Gonçalves. Os dois primeiros são profissionais com carreira consolidada; os outros três são jovens músicos ganhadores do concurso de composição musical Tomie Ohtake de 2019, que criaram obras inspiradas em trabalhos da artista plástica nipo-brasileira (1913-2015).

Nesse CD, Gil Jardim conta com a colaboração dos regentes assistentes Filipe Fonseca e Enrico Ruggieri, formados em música pela ECA. O regente explica que “o nome Sons sobre tons vem das obras baseadas em ideias pictóricas, muito plásticas. É um tear, uma máquina. No CD, estão registradas obras inéditas de autores brasileiros”.

A Ocam é um dos principais organismos artísticos da USP e tem sido referência no âmbito das orquestras profissionalizantes. Segundo Gil Jardim, o corpo é formado por 50% de alunos regulares da universidade, que saem para o mercado ingressando em grandes orquestras do país e do exterior, e os outros 50% são compostos por músicos profissionais vindos de várias partes da América Latina.

A orquestra se renova todos os anos: “Desde que assumi a Ocam, já passaram por ela 800 jovens músicos”, diz o regente, acrescentando que “a orquestra é um reflexo do mundo contemporâneo e abraça toda a diversidade, cultural e musical”.

Criada em 1995 pelo maestro e compositor Olivier Toni (1926-2017), um dos fundadores do Departamento de Música da ECA, “a Ocam tem algumas características peculiares”. Diz o regente, que atua na orquestra desde sua fundação, em 1995: “Todo ano muda de pele, se reinventando”.

Autor do livro O estilo antropofágico de Heitor Villa-Lobos, de 2006, Jardim já lançou os CDs O soprador de vidro (1999), escrito para o Balé do Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), e Villa-Lobos em Paris (2006). Ele assina ainda a direção, arranjos e regência de espetáculos com artistas como Milton Nascimento, Gilberto Gil, Naná Vasconcelos, Gilberto Tinetti e Léa Freire, entre outros.


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Sons sobre tons – Criações musicais sobre ideias visuais
Flor de Lis (Djavan)
Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque)
Segredo (Herivelto Martins, Marino Pinto)
Beija-flor (César Camargo Mariano)
As rosas não falam (Cartola)
Vento em madeira (Léa Freire)
Nada sem você (Ivan Lins, Celso Viáfora e Ivano Fossati)
Jongo (Paulo Bellinati)
Vera Cruz (Milton Nascimento e Márcio Borges)

Segredos de Vera Cruz – Música Popular Brasileira 
para gaita e orquestra
Fibers, yarn and wire (Alexandre Lunsqui)
Carreteis II (Alexandre Lunsqui)
A menina que virou chuva (Valéria Bonafé)
Afterimage. Homage to Tomie Ohtake (Paulina Luciuk)
A escuridão, o corpo vermelho e o fascínio (Yugo Sano Mani)
Dinâmica dos fluidos (Wellington Gonçalves)

Disponível nas plataformas digitais. CD sob encomenda em Popsdiscos.com.br. 







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