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Final do Duelo de MCs chega à Praça da Estação com shows, além das batalhas

- Foto: Duelo de Mcs/Divulgação
Tudo começou espontaneamente, com a força de jovens que queriam reverberar suas rimas por espaços de BH que, embora públicos, eram negados a muitos deles. Doze anos depois, o Duelo de MCs tem uma dimensão nacional, apontado como o principal evento de hip-hop no país e parte importante do calendário cultural da capital mineira. Isso sem abrir mão de suas características originais, totalmente feito por iniciativa popular, de forma inclusiva e democrática.



Neste fim de semana, como parte da celebração do 122º aniversário de Belo Horizonte, será realizada na Praça da Estação a edição 2019 da final nacional do Duelo de MCs, reunindo talentos de várias partes do país, além de nomes locais que já passaram por ali – ou melhor, pelo Viaduto Santa Tereza, que era o reduto tradicional do evento –  na condição de competidores e hoje despontam com suas músicas.

“Apesar de seguir na luta, na missão, que não é fácil, de estar ali debaixo do viaduto, realizar uma final desse tamanho com inúmeras peculiaridades é um momento de celebração. Muito importante para a nossa história e para a história do hip-hop brasileiro. Estamos aí, pela primeira vez, fazendo um grande evento na Praça da Estação, maior palco de eventos populares da cidade, com uma dimensão de festival única e exclusivamente dedicado à cultura hip-hop”, afirma Pedro Valentim, o PDR, integrante da Família de Rua e um dos fundadores do Duelo.

O coletivo do qual ele faz parte foi responsável por criar, há 12 anos, a disputa de rimas. Mais do que o confronto saudável da criatividade dos MCs, o Duelo se tornou uma forte identidade cultural, agregando outras expressões artísticas, como o grafite, além do skate. “Foram surgindo novas perspectivas de oportunidades para a juventude. Acho que essa molecada toda, na qual eu me incluo, percebeu a possibilidade de ampliar sua formação cultural e se apropriar de espaços, da tecnologia, e botar a voz no mundo. Isso foi feito ocupando lugares que até determinado momento pertenciam apenas a uma elite. Através da música e das manifestações culturais do hip-hop, a juventude negra, de periferia, começou a estar nesses espaços e dizer aquilo que precisava. A partir da falta de tudo nós criamos, recriamos, reinventamos e produzimos com a nossa criatividade, fazendo coisas incríveis”, diz Valentim.



No encontro local, os praticantes do chamado rap freestyle, no qual o artista tem menos de um minuto para rimar no improviso no ritmo da batida do DJ, duelavam diante de uma empolgada e cada vez mais numerosa multidão. O sucesso se estendeu para outros estados, sem abandonar o viaduto. Desde 2012, o Duelo de MCs realiza uma competição nacional, cuja final ocorre em BH. O evento vem tomando proporções maiores a cada ano e, neste 2019, ocupa pela primeira vez a Praça da Estação. Além de conhecer o grande campeão, o público poderá reviver parte da história viva do evento.



Shows

Serão cinco shows, com a presença de artistas que, de alguma forma, têm forte ligação com o duelo. Um deles é o capixaba Cesar MC, vencedor do Duelo Nacional em 2017. Desde então, sua carreira no rap decolou e ele apresentará o trabalho ao público de Belo Horizonte. “Na minha forma de enxergar, o Duelo talvez seja o maior encontro de hip-hop do Brasil e do mundo. Digo isso no sentido de reunir todos os elementos de uma cena disposta a viver o hip-hop como cultura e transformação. Nunca tive uma experiência tão significativa em nenhum outro evento. É um encontro que deixa em choque, temos os DJs, o rap, o grafite, tudo isso gritando numa só voz, numa intensidade que não há em outro lugar”, opina o artista, que neste ano fez sucesso com o single Canção infantil, cuja letra traz fortes mensagens sobre a violência contra crianças e adolescentes nas periferias brasileiras.

“Como explicar para uma criança que a segurança dá medo? / Me explicar que 80 tiros foi engano / 80 tiros, 80 tiros, ah / Carrossel de horrores, tudo te faz refém / Motivos pra chorar até a bailarina tem / O início já é o fim da trilha / Até a Alice percebeu que não era uma maravilha”, diz o rap, que soma quase 18 milhões de visualizações no YouTube. Embora nas batalhas do freestyle o objetivo seja derrotar o MC rival, com versos sobre a própria superioridade, a crítica social é característica marcante do Duelo.



“O rap sempre foi uma poderosa ferramenta de levar uma ideia. Isso está na sua essência. O Duelo de MCs acredita nessa cultura, e nós não abrimos mão de pautas que precisam ser revistas, que possam realmente caminhar para uma sociedade melhor, de mais respeito, mais justiça, mais amor ao próximo”, argumenta Cesar MC, que promete um encontro “grandioso” com o público belo-horizontino.

Para o rapper, natural de Vitória, “o Duelo tem a capacidade de extrair o melhor do MC no momento de maior caos”. Ele acredita que “quem passa por essa jornada tem uma preparação incrível para que sua capacidade se potencialize”. A teoria vale para a mineira Clara Lima, um dos símbolos da luta das mulheres pela conquista da igualdade também nesse universo.

Uma das primeiras a competir no Duelo, sua carreira alçou voos mais altos depois disso e neste ano ela lançou o EP Selfie, que será apresentado na programação do fim de semana. “O Duelo de MCs, para mim, é o começo de tudo, é minha casa, onde dei meus primeiros passos na cultura do hip-hop, onde comecei a conhecer as coisas. Se eu não tivesse colado no Duelo, ainda adolescente, provavelmente eu não faria rap”, diz Clara, que estrelou o curta Nada, de Gabriel Martins, exibido no Festival de Cannes, em 2017.



Meninas

A batalha de Clara nas rimas também enfrenta o machismo e serve de inspiração para outras garotas no hip-hop. “Fico muito lisonjeada, porque no Brasil inteiro, por onde eu vou, meninas falam comigo que começaram a batalhar depois de conhecer meu trabalho. A grande coisa é essa, quando a gente encoraja outras pessoas. Quando comecei, já via a Tamara Franklin fazendo rap também, e hoje vemos um número ainda maior de mulheres fazendo som e ocupando espaço”, afirma Clara Lima. Além dela e de Cesar MC, apresentam-se Samora N’zinga (BH), Tássia Reis (SP), Stefanie (SP) e o duo belo-horizontino Hot e Oreia.

No embalo do álbum Rap de massagem, apontado como um dos melhores do ano do estilo, a dupla simboliza bem a força do hip-hop em BH. “O duelo vai fazer 12 anos e é um acontecimento para a cidade, que rompe um pouco as barreiras do hip-hop. Sua importância vem da associação da rapaziada de BH sobre ocupação do espaço público e a insistência para fazer acontecer, com as próprias mãos, sem depender de governo. Vai além do hip-hop, é um acontecimento político fundamental na cultura da cidade”, avalila Hot, que diz ter “crescido indo ao Duelo, assim como o Djonga e o Fabrício FBC”.

O artista valoriza o aprendizado proporcionado no universo do Duelo de BH. “A gente aprendeu a fazer a nossa política aqui na base, com os ensinamentos da Família de Rua. Aprendemos o que é política para a gente e aprendemos a falar do nosso jeito, do nosso cotidiano, sobre os nossos amigos, companheiros e companheiras. Do nosso jeito, a gente fala do que acontece no Brasil”, diz.



Ponto alto da programação, a disputa pelo grande título do Duelo Nacional de MCs 2019 tem 16 concorrentes, escolhidos entre mais de 3 mil MCs nas seletivas realizadas entre maio e novembro. Os candidatos são: W MC (AM), Bispo (RR), Pedrão Pesadão (AP), Lemes (TO), MCharles (CE), Tonhão (CE), Vinicius ZN (PE), LV (RN), Kenshin (AL), Skinny (AL), Neo (RJ), Noventa (ES), Lauro (PR), Ornaghi (PR), Jhon (DF) e Hate (DF).

DUELO DE MCS NACIONAL 2019: A GRANDE FINAL
Sábado (14) e domingo (15), a partir das 13h, na Praça da Estação. Entrada gratuita. 
Programação: Sábado – DJ Roger Dee, DJ LB, DJ Junin Bumbep, Samora N’zinga, Cesar MC, Clara Lima, primeira fase das batalhas Domingo  DJ Kingdom, DJ LB, DJ Junin Bumbep, Tássia Reis %2b Stefanie, Hot e Oreia, finais das batalhas