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Rincon Sapiência se renova em 'Mundo Manicongo', seu novo disco

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Os últimos dois anos foram concorridos para Rincon Sapiência. O rapper paulistano lançou Galanga livre em 2017, seu primeiro disco, que veio coroar uma carreira de 15 anos no underground do hip-hop nacional. O álbum trouxe visibilidade, crescimento de sua plataforma e consagração da crítica. Rincon foi o artista do ano em música popular na premiação da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), o disco figurou no topo de diversas listas de melhores de 2017. Agora, ele lança Mundo Manicongo: Dramas, danças e afroreps, com 13 faixas, disponível nas plataformas digitais.



Se em Galanga livre Rincon consolidou seu flow inconfundível (o modo de cantar as rimas, elemento central do rap) em meio a batidas puxadas pelo afrobeat, misturando percussões de origem africana com hip-hop, funk e ritmos brasileiros, com Mundo Manicongo ele explora outras regiões sonoras, mas sem perder a marca pessoal.

Com produção eletrônica que vai do grime (ritmo de graves profundos criado na Inglaterra) ao minimalismo do funk brasileiro, o disco também dialoga com o pagode baiano (representado pela banda Attooxxa) e com os “afroreps” do título. Porém, as percussões surgem mais sintetizadas do que antes.

“Pegada funk, tipo Guimê/ Mas o meu tambor vem da Guiné”, diz Rincon em Meu ritmo, uma espécie de rap-ensaio. “O lance da música contemporânea é rápido”, afirma. “Como sou muito minucioso e reluto para não cair em redundâncias, foi desafiador para mim, e eu precisava de um tempo. Não queria fazer o mesmo. Precisava explorar coisas minhas, sem ser forçado. Coisas que ainda não explorei com todo o potencial. O eletrônico e a dança apareceram muito fácil, porque é o contemporâneo. Os recursos de tecnologia de teclados e softwares já sugerem esses timbres e linguagens”, explica.



O capa do disco dá dicas sobre a estética desejada por Rincon em sua nova fase. A colagem de Flagelado, artista visual cearense radicado em São Paulo, cria uma espécie de HQ surrealista – o rapper aparece como um gigante em frente aos prédios da Cohab 1, bairro da Zona Leste de São Paulo onde nasceu e cresceu. A arte tem um quê de viagem psicodélica.

A fusão com a psicodelia, aliás, surge em diversos momentos do álbum, especialmente na produção – função que Rincon Sapiência cumpriu com mais protagonismo do que nos álbuns anteriores.

Além da produção dos beats, o rapper buscou parcerias (são várias, entre elas Mano Brown), ele criou e dirigiu a execução dos arranjos. O novo trabalho é lançado pelo selo Mgoma.



“Todas as decisões – tamanhos, texturas e timbres das músicas –, tudo passou por mim”, explica Rincon. “Assumo protagonismo diferente do Galanga livre. Com o tempo, a pessoa fica mais experiente. É muito louco escrever algo e ver alguém que canta muito bem cantar o que escrevi. Arranjo os teclados, mas ver alguém fazer um groove de guitarra dentro de uma composição harmônica minha... Me senti maestro. Um técnico que posiciona os jogadores”, revela.

VIAGENS Mundo Manicongo é fruto das experiências que Rincon acumulou devido às portas abertas por Galanga livre. Ele cita as viagens a trabalho para diferentes regiões do Nordeste – especialmente a Bahia –, além de Lisboa e Paris, onde fez contato com artistas ligados à diáspora africana. “A troca de figurinhas além de São Paulo ajudou muito na concepção do disco”, revela. “Com a tecnologia, consigo ter acesso à percussão baiana, mas ir até a Bahia e ver o cara tocando é outra experiência.”

As faixas Mundo Manicongo e Amor e calor surgiram em Lisboa, parcerias dele com o produtor Mazbeats, da Guiné. O “santo bateu” e, com algumas noites inspiradas, os dois combinaram produções instrumentais e versos afiados. “Esse tipo de relação pessoal, internacional, fez toda a diferença nesse disco. Se fosse só pela internet, não haveria o mesmo resultado”, comenta Rincon.


PERIFERIA

O artista entrega um disco diferente do primeiro, mas questões que sempre foram caras ao rapper – autoafirmação e valorização das culturas negras e periféricas – continuam lá. “A periferia consegue ter identificação com o que a periferia produz. Porém, por serem periféricas, as produções acabam ficando numa categoria de subgênero ou num campo de posições não tão relevantes”, observa.

“Considerando que quando a bossa nova surgiu ela veio como algo novo, nem samba e nem jazz, isso impactou e foi muito reverenciado. Quando ouço bregafunk, isso também é novo, não existe em lugar nenhum do mundo. Não é nem funk nem brega. Mas aí passa despercebido. Parece que os produtores de rap e funk fazem coisas espontâneas, e quem pensa são os outros. Na verdade, a gente pensa para fazer, por mais minimalista que seja.”

Rincon diz que a cultura periférica é “invisibilizada” em espaços que atraem mais gente. Cita o caso de Kevin O Chris no Lollapalooza 2019. O MC carioca foi convidado pelo rapper americano Post Malone e fez o público urrar com duas canções. “Por que não um show do Kevin O Chris? Precisava o Post Malone convidar? Nesses momentos, vejo que o nosso processo de reconhecimento demora mais, por conta da origem da música”, conclui. (Estadão Conteúdo)


MUNDO MANICONGO: DRAMAS, DANÇAS E AFROREPS
• De Rincon Sapiência
• Selo Mgoma
• 13 faixas
• Disponível nas plataformas digitais

EM BH

Rincon Sapiência vai se apresentar em BH na sexta-feira (6). O show está marcado para as 20h30, no Viaduto Santa Tereza, no Centro, “palco sagrado” do hip-hop mineiro, onde é realizado o Duelo de MCs. Às 19h, será aberto lá o projeto Descontorno cultural, que levará cerca de 200 atrações a 17 centros culturais da capital até domingo (8). Além de Rincon, a noite de sexta contará com a rapper Tamara Franklin e o duo paulista VJ Suave. Programação completa: portalbelohorizonte.com.br