Fazer uma turnê para, só depois de maturar o trabalho em campo, finalmente gravar o CD. Maria Bethânia escolheu esse caminho ao levar Claros breus ao palco. Neste sábado (23), ela retorna a BH. Com direção de Bia Lessa, traz canções inéditas de Adriana Calcanhoto e Chico César e grandes hits de seu repertório.
“O show apresenta várias canções novas, por isso quis fazer algo diferente, ou seja, mostrar as músicas inéditas ao público antes mesmo de registrá-las em disco.” Ela conta que o espetáculo começou em formato compacto, em uma casa com 100 pessoas, mas que foi crescendo gradualmente, tendo sua estreia oficial a partir de duas apresentações em São Paulo, três em Portugal e uma em Porto Alegre. A apresentação será no Palácio das Artes, com ingressos esgotados.
Bethânia explica que a ideia partiu primeiro de um roteiro para disco. “Como ganhei muitas canções inéditas, comecei a pensar nelas em um álbum. Mas, aí me veio uma vontade de fazer a coisa de uma maneira invertida. Em vez de sair do disco para o show, fazer deste para o CD. Como tinha acabado de gravar um disco em homenagem à Mangueira, com o maestro Letieres Leite, resolvi chamá-lo para fazer os arranjos e direção musical deste espetáculo.”
Ela lembra que, além das inéditas, conta com músicas conhecidas. “Por exemplo, tem canções de Roque Ferreira, um compositor que estou sempre gravando, cantando e que fez uma música deslumbrante para mim, com a qual fiquei muito comovida. A Adriana Calcanhoto também fez uma obra-prima, tudo no meu sentir e no meu gostar. Tem o Chico César, com duas canções inéditas, uma muito brincalhona a outra alegre e feliz.”
Bethânia conta que o repertório chegou para ela de uma maneira franca, aberta. “Estava passando férias na Bahia, quando conversei com minha irmã a respeito de minha intenção. Foi quando entendi que não queria fazer o disco primeiro. Queria primeiro um show porque tinha um assunto para falar. Era um assunto muito próprio de amor. Amor pessoal, afetivo e um amor muito grande pelo Brasil. Isso mexeu comigo e comecei a anotar tudo que vinha à minha cabeça, que acabou sendo um esboço deste show.”
Mais do que cantar, ela segue conversando com a plateia, costume que adora cultivar. E revela amor pela literatura. Neste show, declamava um texto do poeta moçambicano José Craveirinha (1922/2003). “Sou tiete dele, que é extraordinário. Acontece que o poema dele acabou dando lugar a um texto de Mia Couto, que é outro que venero, que tive a oportunidade de conhecer, com quem fiz leituras. Gosto muito dele, fui para Maputo, para estar com ele, cheguei a ir à fundação dele, trabalhei com ele, gravamos juntos uma leitura.”
Disco
Os planos são para gravar um disco no ano que vem. Assim, faria um Claros breus reduzido, com as canções inéditas, acrescentando alguns sucessos. “Quero fazer um álbum de estúdio, nada ao vivo, e já tenho o roteiro em minha cabeça. Em 1º de dezembro, lançarei o disco Mangueira, a menina dos meus olhos (Quitanda), em agradecimento à homenagem que a Mangueira me fez. Fiz este disco só para a Mangueira, e no ano que vem entro em estúdio e faço o Claros breus.”
Ainda que não goste de falar sobre política, ela avalia como lamentáveis os ataques do então diretor da Funarte Roberto Alvim, depois confirmado como presidente, a Fernanda Montenegro. A atriz foi qualificada como 'sórdida e mentirosa' ao posar para a revista Quatro Cinco Um simbolizando a queima de livros e de gente, numa crítica à censura. “Com dona Fernanda Montenegro, acho que a reverência é a primeira coisa. Antes de aplaudir, reverenciar. Depois, cair de aplausos de pé. Agora é ele quem manda, mas Fernanda não precisa dele para nada. Ela é simplesmente dona Fernanda Montenegro. Respeito é bom e todo mundo gosta. É a grande dama do teatro.”
CLAROS BREUS
Maria Bethânia. Sábado (23), 21h, Palácio das Artes – Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Ingressos esgotados.