Numa das apresentações de Bibi, uma vida em musical, no Rio de Janeiro, um espectador cismou que veria a estrela no palco. Tentaram explicar que se tratava de uma produção que contava a trajetória da atriz, cantora, diretora e produtora Bibi Ferreira (1922-2019), sem a participação da homenageada, mas ele insistiu.
“Ele achava mesmo que a Bibi ia aparecer no palco em algum momento, que tinha ouvido falar que ela fazia uma aparição. No fim do espetáculo, ele comentou:’Não falei que a Bibi Ferreira ia entrar?’. Isso se deve à atuação da Amanda Acosta, com certeza.”
Quem conta essa saborosa historinha é Tadeu Aguiar, diretor do musical sobre aquela que é considerada uma das maiores atrizes brasileiras de todos os tempos e que chega a Belo Horizonte neste fim de semana (11) para três apresentações no Sesc Palladium.
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“Ela incorpora a Bibi de um jeito que é extraordinário. Amanda é talentosíssima, genial. Muito do sucesso da produção se deve à sua performance”, diz o diretor, apontando a interpretação da atriz como um ponto alto da montagem, que estreou no começo do ano passado, no Rio de Janeiro, onde Bibi nasceu, e de lá seguiu para temporada em São Paulo. Neste 2019, a peça está circulando por várias capitais do país.
Partiu de Tadeu Aguiar a escolha de Amanda, com quem ele já havia trabalhado em outras quatro produções, incluindo My fair lady (2007), cuja montagem brasileira em 1962 foi estrelada por Bibi Ferreira.
A atriz, que ficou conhecida do grande público quando ainda era criança e integrou o grupo Trem da Alegria, recorda que, quando a convidaram para o projeto, perguntaram se ela sabia cantar em francês. “Respondi que, para fazer Bibi Ferreira, eu cantaria até em japonês (risos). É uma responsabilidade e certamente o maior desafio da minha carreira. Ela é uma das maiores artistas do mundo”, afirma.
Amanda Acosta interpreta a estrela dos 19 anos – quando se deu sua estreia profissional – até os 95. Escrito por Artur Xexéo e Luanna Guimarães, o espetáculo aborda a história familiar, profissional e amorosa da artista e tem como ponto de partida o circo, já que Bibi era descendente de artistas circenses.
“E a figura mais ilustre dessa família é justamente ela. Três narradores vão contando sua trajetória e costurando o enredo. Por ser amigo dela, confesso que tinha, sim, um certo peso em como contar isso, como agradá-la. Afinal, ela era muito exigente. Sabia tudo do fazer teatral e, para mim, foi a maior artista deste país. Quando a Bibi assistiu, me disse: ‘Meu filho, você melhorou muito’. Aquilo foi consagrador para mim”, diz Tadeu Aguiar.
Amanda revela que imitá-la nunca foi seu intento, mas que precisava trazer a energia e a alma de Bibi para os palcos. “Ela tinha um jeito marcante de falar e de cantar. Até o trabalho físico foi intenso, porque Bibi não tinha muito pescoço, e eu tinha que trazer aquela figura para a cena. É um trabalho vocal, físico e até espiritual. A gente que é ator aprende com todo personagem, mas, no caso da Bibi, é uma verdadeira faculdade”, comenta Amanda, que ganhou 11 prêmios por seu desempenho nesse papel.
Por uma feliz coincidência, a última apresentação teatral a que Bibi Ferreira assistiu foi o musical sobre sua vida, em março de 2018 – ela faleceu em 13 de fevereiro passado. E foi uma catarse, na definição de Amanda. A atriz conta que o elenco tinha ciência da presença de Bibi e por causa disso estava bastante ansioso. Em uma determinada cena, Chris Penna, que faz Procópio Ferreira, pai de Bibi, diz que ela era a maior estrela do Brasil.
“De repente, a gente ouve a própria Bibi dizer da plateia: ‘Muito obrigada’. O público, que até então não sabia que ela estava lá, começou a aplaudir. Nada estava programado. As luzes se acenderam e, logo em seguida, eu emendei um medley cantando em francês, e ela cantou junto comigo. Foi de arrepiar. Uma emoção indescritível”, recorda Amanda.
A jovem atriz conta que sua admiração por Bibi ficou ainda maior após participar desse projeto. “Tudo o que a Bibi diz é o que acredito. Sou eu falando também. O público sai encantado, inclusive adolescentes, que nem a conheciam direito. Esse é o papel da arte também”, enfatiza a atriz, que agora se prepara para interpretar também em um musical outra personalidade artística marcante – Carmen Miranda.
“Na verdade, estou voltando a fazer a Pequena Notável. A construção para fazer as duas foi muito diferente, mas são mulheres incríveis e que deixaram um legado impressionante. Brinco que a Carmen ia pular o carnaval, enquanto a Bibi interpretava o carnaval no palco. Essa é a diferença”, comenta a atriz.
Sucesso de crítica e de público, a produção recebeu 107 indicações a prêmios. Para Tadeu Aguiar, o grande diferencial é realmente a história da homenageada. “A história da Bibi é a nossa também – é a história do Brasil, do teatro, da cultura. E falar sobre isso nos dias de hoje é mais do que essencial neste momento complicado que a cultura enfrenta. O texto é maravilhoso, e eu acabei dando algumas sugestões para deixar o espetáculo mais dinâmico, que os autores aceitaram superbem. A produção é impecável – figurino, cenário, iluminação, coreografias, trilha sonora. Tudo como a Bibi Ferreira merece.”
BIBI, UMA VIDA EM MUSICAL
BIBI, UMA VIDA EM MUSICAL
Texto: Artur Xexéo e Luanna Guimarães. Direção geral: Tadeu Aguiar. Com Amanda Acosta como Bibi Ferreira. Sexta (11), às 20h30; sábado (12), às 16h30 e às 20h30, no Grande Teatro do Sesc Palladium – Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. (31) 3270-8100. Ingressos: Plateia I – R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia); Plateia II – R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia) e Plateia III: esgotado. Vendas no site Ingresso Rápido e na bilheteria do teatro. Duração: 165 minutos (com intervalo).