Ver, ouvir e sentir. Diante das possibilidades que o mundo digital oferece, proporcionar essas três sensações ao público, de uma só vez, é o que pretende a banda mineira Lagum com seu mais novo projeto. Semanalmente, o grupo divulgará no YouTube, até o próximo dia 23 de outubro, o vídeo de uma das músicas tocadas no show de lançamento de seu segundo álbum, Coisa da geração, realizado em julho passado, em São Paulo.
Contrariando o que prega o título do disco, essa proposta não é exclusiva de uma só geração – a dos mais jovens. Fruto de uma safra anterior do pop belo-horizontino, Wilson Sideral, de 44 anos, também convida os fãs a assistir seu novo trabalho na web, ainda que, no caso dele, seja uma viagem musical ao passado.
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Regentes falam da emoção de comandar uma orquestra pela primeira vezApós vetar a transmissão de show, Drake pede desculpas Drake prova que o Brasil está pronto para as estrelas globais do hip hop“Nos últimos tempos, vários artistas têm lançado álbuns-conceito, com um trabalho visual”, afirma o guitarrista Jorge Borges, citando Amar é para os fortes, de Marcelo D2, como exemplo. Segundo ele, a ideia é fazer um processo parecido com o mais recente álbum da Lagum, que chegou ao mercado em junho.
“Dessa forma podemos amplificar a arte, incluindo outra área para ser trabalhada além da música e podendo entregar ao público um produto de qualidade que mostra a quem nunca foi ao nosso show como ele é, como é a energia ali”, diz. O vocalista Pedro Calais acrescenta: “Nesse show, exploramos o conceito do disco, em volta do tema. O show é mais um elemento que amarra o conceito todo”.
O grupo, frequente nas paradas de sucesso do Spotify, lançará no total seis vídeos gravados no show. Assistindo aos primeiros já divulgados, dos hits Detesto despedidas e Coisas da geração, é possível assimilar a ideia do vocalista, pela sinergia entre o público, majoritariamente jovem, e a banda no palco. De acordo com Calais, os temas das músicas passam “por um monte de características da nossa geração”.
“Nesse disco não focamos em um tema específico, mas falamos sobre vários assuntos universais e atemporais, tratados com a visão da nossa geração sobre eles. Ou seja, falamos de amor, mas, às vezes, numa perspectiva imediatista, ansiosa, assim como na música Vai doer no peito. E é assim com outros assuntos”, diz o músico, que cita ainda uma canção com seu nome, presente no álbum, escrita em um fim de semana em que viajou sem telefone celular e tentou “descolapsar”.
Por outro lado, a banda acredita que esse discurso não atinja apenas quem está na casa dos vinte e poucos anos, como eles. “Como artistas, tentamos ser claros com a arte. Temos um poder de ter o microfone nas mãos, que é um instrumento de comunicação. Buscamos uma mensagem que todos possam entender, por isso nosso público é diverso. A música é universal e, por mais que a gente vá de A a Z em questão de estilo, com rock, reggae, rap, não deixamos de ser populares”, argumenta Pedro. A popularidade é comprovada pelos bons números. No YouTube são 390 mil seguidores, e no Spotify, só a música Deixa, compartilhada por Neymar durante a Copa do Mundo, já foi executada mais de 82 milhões de vezes.
Entre os cinco integrantes da Lagum, apenas um tem mais de 25, o baterista “Tio” Wilson, que ganhou o apelido justamente por ser o mais velho. Para ele, o período junto com o grupo, formado em 2014, foi de extremo aprendizado. “Eu já tocava em outros projetos em BH, quase tudo voltado para o rock. Achava que poderia passar um pouco de experiência para eles, mas vi que eu é que tinha muito que aprender.
Abri a mente, enxerguei melhor outros gêneros e me aprofundei na música de modo geral. O rock impunha uma viseira mais fechada, cada um gravava no seu quadrado, e na Lagum é um processo mais coletivo, mais aberto, até por envolver mais referências musicais, todo mundo colabora”, afirma.
O passeio por outros ritmos também foi o caminho escolhido recentemente por outro Wilson. No entanto, Sideral procurou pelas velhas gerações, dando sequência ao projeto Tropical blues, que acaba de ter seu Volume 2 lançado nas plataformas digitais. Nele, o cantor e guitarrista apresenta versões em blues para sete sucessos da música nacional. São eles: A minha menina (Jorge Ben Jor), Nada por mim (Herbert Vianna e Paula Toller), Mosca na sopa (Raul Seixas), De volta pro aconchego (Dominguinhos e Nando Cordel), Maior abandonado (Cazuza e Frejat), Certas coisas (Lulu Santos e Nelson Motta) e Vem andar comigo (Rogério Flausino).
Abri a mente, enxerguei melhor outros gêneros e me aprofundei na música de modo geral. O rock impunha uma viseira mais fechada, cada um gravava no seu quadrado, e na Lagum é um processo mais coletivo, mais aberto, até por envolver mais referências musicais, todo mundo colabora”, afirma.
O passeio por outros ritmos também foi o caminho escolhido recentemente por outro Wilson. No entanto, Sideral procurou pelas velhas gerações, dando sequência ao projeto Tropical blues, que acaba de ter seu Volume 2 lançado nas plataformas digitais.
Se pode ser difícil imaginar algumas delas dentro do estilo que consagrou BB King, Eric Clapton e Muddy Watters, Sideral explica que a seleção é fruto de uma grande pesquisa sobre a presença de características do blues na música nacional.
“Por ser guitarrista, minha base primordial são os grandes nomes do blues. Eles deram uma grande aula para a música global, por terem criados os maiores riffs e o sentimento ligado ao improviso. É uma referência para mim desde os 15 anos, embora meus trabalhos autorais não tivessem isso diretamente. Nos últimos anos, fui sentindo um chamado interno de fazer algo mais próximo dessa paixão, sem me preocupar muito no que isso seria na minha discografia. A ideia era curtir um barato pessoal. Então isso se somou a uma maneira particular de observar quais canções mais populares podem ganhar essa roupa de jazz e de blues para aflorar um sentimento que já existe nelas”, explica.
Assumindo a ousadia da proposta para os mais puristas, que estranham ao ouvir blues em português, Sideral ainda deixa claro que diferentes vertentes do estilo são exploradas. “Não é qualquer música que tem uma métrica possível de virar blues. Foram escolhas criteriosas. De volta para o meu aconchego, por exemplo, que traz um lamento, uma melancolia, muito característicos da origem do country blues. Como o blues é o pai do rock, Maior abandonado traz essa pegada mais acelerada, enquanto em Certas coisas há uma referência clara ao Eric Clapton.”
Embora seja um resgate de sucessos do passado, ele cuidou para dar uma apresentação contemporânea ao trabalho, ainda que sob uma ideia retrô. Como todas as músicas foram gravadas ao vivo, em um salão abandonado, Sideral também disponibilizou os vídeos de quatro delas em seu canal no YouTube.
“Fica uma coisa atemporal. É a música mãe do jazz, do rock, do soul, com artistas da música brasileira de várias épocas e gravada de forma muito contemporânea, com ferramentas atuais. Hoje em dia, temos facilidades maiores. O acesso aos equipamentos é mais democrático, então é mais fácil gravar uma música em qualquer lugar”, diz Sideral, que será uma das atrações do Prime Rock Fest, em 23 de novembro, na Esplanada do Mineirão, com o projeto Tropical blues.
“Fica uma coisa atemporal. É a música mãe do jazz, do rock, do soul, com artistas da música brasileira de várias épocas e gravada de forma muito contemporânea, com ferramentas atuais. Hoje em dia, temos facilidades maiores. O acesso aos equipamentos é mais democrático, então é mais fácil gravar uma música em qualquer lugar”, diz Sideral, que será uma das atrações do Prime Rock Fest, em 23 de novembro, na Esplanada do Mineirão, com o projeto Tropical blues.